Por Ulisses Capozzoli, jornalista
Toda imagem (não vi nenhuma, até agora, que contradiga essa situação) disponível na mídia tem o olhar da Ucrânia, observada desde a Ucrânia, como se cada um de nós fosse ucraniano. O significado claro disso é, obviamente, manipulação.
A mídia não dispõe de imagens do ponto de vista russo? O único que vi (mostrando que há disponibilidade de imagens a partir da Rússia) foi de um protesto, em Moscou, contra Putin.
Moral da história: quando convém para se traçar uma determinada narrativa, a imagem do outro lado é utilizada.
Em uma dessas imagens, no entanto, há uma contradição, ou alguma contradição. Trata-se de um carro quase inteiramente amassado, aplastado no chão, que, num primeiro momento foi explicado como efeito do atropelamento por um tanque russo.
Num segundo momento, li o que seria uma correção: o que aplastou aquele veículo teria sido um tanque ucraniano. Por que um tanque ucraniano e não um russo?
Por infinitas razões, se essa for, de fato, a verdade do fato.
Algum simpatizante russo, eventualmente um russo na Ucrânia, motorista do veículo, provocou a ira do tanquista ucraniano? Ninguém sabe e, quem viu, não está por aqui para relatar/comprovar.
Esse argumento é o suficiente para, na lógica sumária que dá as cartas neste momento, colocar um observador entre os condenados ao fuzilamento pelo que seria “simpatia pelos russos”.
Óbvio que a realidade é mais complexa, mas a visão mais complexa exige certo trabalho dos neurônios e aqui temos a primeira de uma série de barreiras a serem vencidas.
O óbvio, para prevenir espíritos sumários: a guerra, toda e qualquer uma das milhares, talvez milhões, de guerras e enfrentamentos armados entre grupos humanos é brutal, indevido e criminoso.
Mas, independentemente disso, elas ocorrem o tempo todo e a que se desenrola nas terras férteis/cobiçadas desde sempre da Ucrânia é só a mais recente delas, ocupando a atenção do mundo, talvez nas regiões mais remotas: dos polos à órbita baixa da Terra, o interior da Estação Espacial Internacional.
Putin é um monstro? Bem, ele emergiu da KGB, o temível órgão de repressão da antiga União Soviética. Claro que não é uma criatura angelical. Mas, está sozinho em cena? Também não.
Putin contracena no palco com outros crápulas e Joe Biden, por quem torcemos por aqui contra outra repugnância na presidência americana, é o par do Putin.
E há toda a comunidade europeia desfrutando de um bem-estar social historicamente baseada numa relação neocolonialista longe de extinta. Em síntese: o urso do Putin reagiu à provocação incessante da hiena ocidental sempre disposta a se apossar do espaço de predação.
Para não alongar: mais que qualquer outro confronto do passado recente, este inverte a posição das peças no tabuleiro do jogo. Ao final do processo (se houver algum final que não seja o ocaso da humanidade) as coisas serão muito diferentes (e já mudou muito nas últimas semanas). Melhor, pior? Quem sabe dizer?
É tudo especulação e estamos a uma distância dos fatos que não permite intepretação mais ampla. O único que se pode pensar, e para fazer isso basta uma base razoável de história, é que nada será como antes.
Os Estados Unidos continuarão sabotando governos que não lhes convém por um amplo conjunto de situações, como ocorreu recentemente no Brasil, com exemplos fartos em qualquer exame histórico?
Analistas disseram inicialmente que Putin estava blefando, mas, quando ele passou da teoria à prática foi acusado de “monstruosidade”. Talvez por reagir a uma forma brutal de opressão, mesmo sendo o que, de fato ele é?
Imagem: Carro aplastado por um tanque: da Rússia ou da Ucrânia? A dubiedade da imagem que se presta à manipulação ideológica.