Por Paulo Nogueira, Diário do Centro do Mundo –
Disse uma vez que a única diferença entre o circo da Câmara e o circo do Senado é que o circo da Câmara tem mais palhaços.
Isso ficou claro mais uma vez hoje na sessão do Senado em que Renan Calheiros atropelou o presidente interino da Câmara Waldir Maranhão. Maranhão decidira anular a sessão esdrúxula em que, sob o comando de Cunha, os deputados federais aprovaram o impeachment.
Na prática, Renan se ajoelhou diante da plutocracia. A Globo pressionou e intimidou, como sempre faz quando seus interesses podem ser contrariados.
Um helicóptero da Globo seguiu o carro em que Renan se dirigia ao Senado para deliberar sobre a decisão de Maranhão. O significado do helicóptero era: faça o que queremos que você faça ou nós acabamos com você.
Renan, evidentemente, entendeu o recado, e se acoelhou. Sua biografia era virgem em atos de bravura, e não foi hoje que isso mudou. Mesmo assim, senadores golpistas como Caiado louvaram a “coragem” e a “altivez” de Renan.
Que coragem, que altivez?
Parecia que Renan tinha se deixado atropelar por um caminhão no esforço desesperado e bem sucedido de salvar uma criancinha no meio da rua.
Coragem, num país como o Brasil, é enfrentar os plutocratas e, entre estes, sobretudo a Globo.
O dinheiro da plutocracia compra tudo no país, incluído o Congresso que está derrubando Dilma. O financiamento privado das campanhas deu nisso que fomos obrigados a ver nas últimas semanas na Câmara primeiro e agora no Senado.
É o pior Parlamento que o dinheiro pôde comprar.
Pelo menos nisso Waldir Maranhão mostrou bravura. Ele será perseguido implacavelmente pela mídia, daqui por diante. Mas alguma coisa nele o levou a um tipo de enfrentamento que os políticos sempre recusam.
Renan, não.
Agora é previsível que o caso seja submetido ao SFT, onde não se deve esperar dos eminentes magistrados nenhuma demonstração de independência diante da plutocracia.
Um STF sério jamais teria deixado Cunha comandar, com sua ficha corrida e sua volúpia por golpes sujos, um processo no qual estavam em jogo a democracia e 54 milhões de votos.
Tudo isso posto, o Brasil virou um imenso Paraguai.
Tarde demais, o governo decidiu agir à maneira paraguaia. Em Roma, aja como os romanos. Na Suécia, como os suecos. Só que não estamos na Suécia, e sim no Paraguai.
O governo demorou a entender isso. Em sociedades avançadas não existe nada parecido com uma Globo para sabotar, sem pudor e sem consequências, democracias.
Com seu republicanismo suicida, tão bem expresso nas nomeações de juízes do STF e nas quantidades fabulosas de dinheiro público dado à imprensa plutocrática, o PT agiu como se estivesse em algum lugar onde as instituições funcionam e os votos populares são respeitados.
Mas estava no Paraguai. Neste grande, lastimável Paraguai chamado Brasil. E neste engano fundamental foi apeado do poder num golpe legitimamente paraguaio.
Foto da Capa: Jane de Araújo/ Agência Senado