O Prêmio Jabuti 2024, no último dia 19, coroou dois escritores baianos, consolidando ainda mais o papel da Bahia no cenário literário nacional. Bárbara Carine, com sua obra Como ser um educador antirracista, levou o prêmio na categoria Educação, enquanto Itamar Vieira Júnior conquistou o Jabuti de Romance Literário com Salvar o fogo.
Ambas as obras premiadas trazem à tona discussões profundas sobre a realidade social brasileira e as questões históricas e culturais que delineiam o país. Saiba um pouco dos livros que levaram os autores ao topo da literatura brasileira.
Salvar o fogo – Itamar Vieira Júnior
Itamar Vieira Júnior, vencedor do Prêmio Jabuti de Romance Literário com Salvar o fogo, já havia conquistado o coração dos leitores e da crítica em 2020, quando foi premiado com Torto Arado. No novo livro, Salvar o fogo, Itamar mergulha em uma narrativa profunda e multifacetada, explorando as relações humanas, sociais e culturais no Brasil. A obra se destaca por sua sensibilidade ao retratar personagens cujas vidas estão intimamente ligadas aos conflitos históricos e emocionais de um país marcado por desigualdades.
Salvar o fogo nos transporta para um cenário típico do Brasil. Tapera é uma comunidade rural na Bahia, formada por moradores de origens afro-indígenas, refletindo a miscigenação do país e influenciada pela presença da figura do homem branco europeu, representado pela igreja católica.
O romance é uma reflexão sobre a luta pela sobrevivência e a busca por um lugar no mundo, dentro de uma sociedade ainda muito marcada por suas questões sociais, raciais e econômicas, em que o direito à terra é constantemente lesado.
Em sua escrita, Itamar mistura o íntimo com o coletivo, abordando questões existenciais e trazendo à tona o drama de personagens que, apesar de suas diferenças, carregam as mesmas dores e esperanças de um Brasil profundo e complexo.
Luzia, a personagem mais cativante da história, é perseguida pelos outros habitantes de Tapera devido aos seus supostos poderes sobrenaturais. Sua aparência deformada também a torna alvo de zombarias. No entanto, é na força interior de Luzia e nos mistérios que cercam seu passado que o autor constrói sua personagem mais comovente.
Com uma linguagem poética, Itamar constrói uma trama que dialoga com o universo rural e urbano, mas também com os sofrimentos e os anseios de um Brasil desigual.
Mergulhe também no livro de contos do autor, Doramar ou a Odisseia: histórias, bem como em sua mais recente obra: Chupim, voltada ao público infantil.
Como ser um educador antirracista – Bárbara Carine
Na categoria Educação, a baiana Bárbara Carine foi premiada com o livro Como ser um educador antirracista, uma obra que propõe uma reflexão fundamental sobre a educação brasileira e como ela pode ser ressignificada a partir de uma perspectiva antirracista.
A autora explora conceitos relacionados à luta antirracista, como pacto da branquitude, racismo estrutural, cotas raciais e educação emancipatória, com o objetivo de (re)pensar as práticas pedagógicas, a formação e o papel dos educadores — que, na verdade, somos todos nós, os “transmissores de memórias” presentes na escola.
Em vez de oferecer um manual com soluções prontas, o livro convida o leitor a conhecer e implementar práticas antirracistas tanto no ambiente escolar quanto na vida cotidiana.
Com uma escrita envolvente e provocadora, Bárbara discute como a educação deve ser uma ferramenta de transformação social, combatendo o racismo estrutural presente nas escolas e na sociedade. Ela questiona o currículo tradicional, muitas vezes centrado em uma visão eurocêntrica e branca, e propõe a adoção de práticas pedagógicas que considerem as questões raciais e as culturas não ocidentais.
A autora, que é fundadora da Escola Maria Felipa — a primeira escola afro-brasileira registrada no Brasil —, acumula uma vasta experiência como educadora e ativista social. Em seu livro, ela compartilha sua visão sobre a importância de um ensino que seja inclusivo, antirracista e que promova a equidade.
Além disso, Bárbara Carine também é conhecida por suas contribuições nas redes sociais. Em seu perfil ‘Uma intelectual diferentona, ela tem 550 mil seguidores e compartilha reflexões sobre educação, racismo e política.
Leia também da escritora os livros: Querido Estudante Negro e Educando crianças antirracistas.
A diversidade da Literatura Brasileira
O Prêmio Jabuti é uma das mais altas distinções da literatura no Brasil, e o reconhecimento de Bárbara Carine e Itamar Vieira Júnior evidencia a crescente diversidade da literatura brasileira contemporânea. Ambos os escritores trazem à tona narrativas e reflexões que ajudam a construir uma sociedade mais justa e consciente.
Essas vitórias reforçam a importância de reconhecer as vozes que propõem uma literatura e uma educação que abracem as múltiplas realidades do Brasil, agregando a pluralidade de seu povo e as diversas formas de combater o racismo, as desigualdades e as injustiças sociais.
Por meio de suas obras, Bárbara e Itamar se consolidam não apenas como escritores premiados, mas como influenciadores culturais, inspirando a construção de uma sociedade mais empática. Arte que ilumina e abre novos caminhos.
Aproveite o final de semana para viajar nessas histórias fantásticas e inquietantes, que retratam o Brasil Profundo e multicor!
Por Romênia Mariani