Por João Wainer, editor da “TV FOLHA”
Não faz muito tempo que Cícero Rodrigues, 38, começou a pintar.
Morador de rua, Índio –alcunha que ganhou pelas ruas de São Paulo– desenvolveu um estilo similar ao de Jean-Michel Basquiat (1960-1988). O artista norte-americano grafitava na Nova York dos anos 1970. Foi descoberto e inserido no mercado da arte por Andy Warhol (1928-1987).
Basquiat era viciado em heroína e morreu por overdose. Índio tenta evitar, mas ainda encontra refúgio no crack.
A inspiração do “Basquiat da cracolândia”, no entanto, veio sob auxílio do artista plástico Zezão, que o conheceu na cracolândia. Na ocasião, procurava mão-de-obra para retirar entulho de um prédio que acabara de alugar com o intuito de transformá-lo em atelier de pintura.
Zezão deu-lhe as primeiras latas de tinta e descobriu os “Badaróss”, nome dado por Índio às próprias pinturas.
Cícero pinta em muros e entulhos que encontra na rua. Embora encare a droga todo dia, sinaliza a vontade de trocar o crack pelo vício da tinta. Não logrou, ainda.
“O crack só me dá raiva. Para desviar do vício, prefiro as tintas.”
Índio reclama das clinicas de recuperação por onde passou. Diz que elas proíbem a pintura e, sendo assim, afirma que jamais se recuperará por meio delas.
Mas estímulos Índio tem onde buscar. Quadros de Basquiat, por exemplo, hoje chegam a valer milhões de dólares.