Possível “privatização camuflada” do banco foi denunciado pelas entidades de classe dos funcionários
Por Heloisa Villela, compartilhado de ICL
O Conselho de Administração da Caixa Econômica Federal não conseguiu aprovar a transferência das operações das Lotéricas para a subsidiária da empresa. A pressão dos funcionários, que são contra a manobra, forçou um adiamento. Eles temem que essa transferência seja apenas o primeiro passo no rumo da privatização de toda a atividade.
Por lei, o Congresso Nacional teria que aprovar a venda de qualquer subsidiária da Caixa. Mas os empregados afirmam que é mais fácil passar no Parlamento a venda de um pedaço da empresa do que partir para a privatização completa da CEF. Durante os meses em que presidiu a Caixa, no primeiro ano do governo Lula, Rita Serrano preparou o fechamento da Lotex, subsidiária criada no governo Temer, mas não chegou a completar a operação. Assim que Carlos Vieira assumiu o cargo, indicado pelo presidente da Câmara Arthur Lira (PP–AL), o fechamento da Lotex foi revertido.
Fabiana Uehara, diretora do Sindicato de Bancários de Brasília, foi eleita para a cadeira dos representantes dos funcionários da Caixa no Conselho de administração da empresa. Ela deve tomar posse em abril. “Eu acho que o governo não tem ciência do que está acontecendo. Essa pauta deve ser retirada”, jogada mais para frente, afirmou Fabiana. Depois de uma hora de discussão, foi o que aconteceu. Os conselheiros chegaram a discutir a necessidade de tomar cuidado com possíveis prejuízos, pelos quais terão que responder pessoalmente.
Carta contra privatização da Caixa
O Conselho de Administração da Caixa é formado por oito membros. Seis são indicados pelo governo federal, um é eleito pelos funcionários da CEF e o presidente do Conselho é o secretário do Tesouro Nacional. Por isso, a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro da CUT (Contraf–CUT) enviaram uma carta ao ministro da fazenda Fernando Haddad alertando para o que está acontecendo.
A carta destaca: “historicamente, as loterias da Caixa têm sido fundamentais para a redução das desigualdades sociais no país, por meio do repasse de recursos às políticas sociais. Cerca de 40% do lucro da Caixa Loterias é para investimentos em saúde, educação e projetos sociais”. A carta lembra ainda que a Caixa tem experiência e eficiência acumuladas ao longo de décadas de administração das Loterias e pediu ao Ministro Haddad que revise a criação da subsidiária.
“Nós empregados estamos denunciando que caso as operações de loteria passem para uma subsidiária, uma privatização pode acontecer e quem perde é a Caixa, porque perde recurso, e a população, porque perde programas sociais”, disse Antonio Abdan, secretário de finanças do Sindicato dos Bancários de Brasília e funcionário da Caixa há mais de 35 anos.
Aposentadas da CEF, Márcia Cumer e Lilia Machado Cabral enfrentaram a chuva no fim da tarde da segunda-feira, dia 18, enquanto o Conselho de Administração estava reunido a portas fechadas. “Fomos surpreendidos por essa transferência”, disse Márcia.
Para Lilia, a sociedade brasileira é a grande acionista da Caixa e a tentativa de privatizar qualquer atividade da empresa vai contra os interesses da sociedade. “Estamos aqui para alertar que a população só vai perder com isso”, disse Lilia. No ano passado, a Caixa Loterias repassou R$ 9 milhões para programas sociais do governo. “Esses programas vão fazer muita falta, inclusive para o governo Lula”, alertou.
Influência de Lira
Além de indicar o presidente da Caixa, Carlos Vieira, que substituiu Rita Serrano, Arthur Lira exerce influência direta em segmentos do banco que o interessam diretamente. Foi por isso que venceu a disputa de poder com o governo federal e conseguiu que o Ministério da Fazenda anunciasse a saída do assessor especial José Francisco Manssur. Ele era o responsável pela área de apostas esportivas eletrônicas — as chamadas bets.
De acordo com a jornalista Letícia Casado, do UOL, desde 2023, com o avanço da regulamentação das apostas, o grupo do presidente da Câmara dos Deputados fazia forte pressão sobre o ministro Fernando Haddad.
Para evitar mais desgastes na aprovação de pautas de interesse do governo federal no Congresso, o chefe da Fazenda decidiu ceder ao avanço de Lira e resolveu substituir Manssur.