Por Rodolfo Gomes, compartilhado de Projto Colabora –
Campanha alerta para importância da escolha dos equipamentos de ar condicionado com maior eficiência energética, para ajudar o planeta
O Brasil tem hoje 28 milhões de aparelhos de ar condicionado, que promovem bem-estar, mas geram grande impacto ambiental, contribuindo para o aquecimento global. De acordo com o relatório Estado do Clima 2019, elaborado por cientistas do mundo inteiro, a última década foi a mais quente da história e 2019 esteve entre os três mais tórridos desde o século 19. Para enfrentar as altas temperaturas, cada vez mais eletrodomésticos de refrigeração são comprados como item de necessidade básica: a estimativa fala num crescimento anual de 10%.
Esse círculo vicioso tende a se agravar ainda mais neste verão do home-office. Diante da adoção por parte da população do trabalho remoto como estratégia para se proteger da covid-19, mais equipamentos devem ser adquiridos, e eles ficarão ligados por períodos mais longos. Aonde isso pode nos levar? Hoje, o ar condicionado representa 17% da demanda de energia residencial. Se seguirmos nesse ritmo, a consequência óbvia é a necessidade de construir mais usinas de geração de eletricidade.
Existe saída sem precisar abrir mão da climatização. A Rede Kigali, iniciativa que reúne entidades e instituições de pesquisa, está lançando a campanha “Se liga na conta do ar-condicionado: melhor para o seu bolso, melhor para o planeta”. O objetivo é conscientizar os consumidores sobre os benefícios de aparelhos com maior eficiência energética, orientando-os para a melhor escolha e sobre instalação e uso adequados dos equipamentos. As principais dicas passam pela opção por aparelhos do tipo inverter – que consomem até 60% a menos de energia em relação aos aparelhos convencionais – e que tragam a etiqueta com a classificação A do Inmetro.
Cálculos do International Energy Initiative – IEI Brasil indicam que a diferença no preço do equipamento mais eficiente se paga em um intervalo de cinco a oito meses, dependendo do cenário, com a economia nas contas de luz. O resto é lucro do consumidor. As mesmas contas atestam que as economias na fatura de eletricidade chegam a ser suficientes para viabilizar a compra de outro aparelho em dez anos. Dinheiro que seria perdido se o consumidor optar por equipamento menos eficiente.
Os benefícios são claros para o meio ambiente. Se forem usados no Brasil aparelhos com 30% a mais de eficiência energética do que os atuais, em 2030 passaria ser desnecessário o acionamento de 32 GW de demanda nos horários de pico, o que equivaleria a 52 usinas térmicas de porte médio deixariam de funcionar. Assim, seriam reduzidas as emissões de gases do efeito estufa provenientes da queima dos combustíveis que provocam o aquecimento global em 23% – menos 16,79 milhões de toneladas de CO² na atmosfera.
A Emenda de Kigali entrou em vigor em janeiro de 2019 e já conta com cerca de 100 países que a internalizaram em suas legislações. O Brasil assinou o compromisso ainda em 2016, mas o Congresso Nacional precisa aprová-la. Falta apenas o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, pôr em votação, pois há consenso por sua aprovação pelos setores produtivos, de defesa do consumidor e do meio ambiente, academia e partidos políticos.
Governos, indústria e sociedade devem estar juntos nessa luta. Falar sobre a escolha do aparelho de ar condicionado é mais do que se preocupar com o conforto. Envolve meio ambiente, futuro, economia e questões sociais. Mas o consumidor precisa entender que, com seu poder de compra, é o protagonista da mudança.