Os mortos tinham entre idades entre 30 e 69 anos, sendo que 60% eram homens e 68% tinham entre 50 e 69 anos
Por Marize Muniz, editado por Rosely Rocha e compartilhado do Portal da CUT
Trocar alimentos in natura por ultraprocessados como biscoitos, barras de cereais, sopas e macarrão instantâneos pode ser mais barato para quem convive, desde setembro do ano passado, com preços de comida nas alturas, mas compromete a saúde e cobra uma conta alta.
Desde a crise econômica, iniciada com o golpe de 2016 do ilegítimo Michel Temer (MDB), o consumo desse tipo de produto cresceu 60% entre as classes sociais mais baixas do país. Por outro lado, nas faixas onde estão os 40% de brasileiros com maior renda mensal, o consumo de alimentos naturais cresceu, enquanto caiu o de ultraprocessados.
O resultado dessa alta no consumo de alimentos processados é o registro no Brasil, em 2019, de cerca de 57 mil mortes prematuras associadas a esse tipo de alimento, de pessoas com idades entre 30 e 69 anos. Dos mortos, 60% eram homens e 68% tinham entre 50 e 69 anos.
As informações sobre as mortes, divulgadas pelo UOL, têm como base um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidad de Santiago de Chile, publicado no American Journal of Preventive Medicine.
De acordo com o estudo, 541,1 mil pessoas de 30 a 69 anos morreram no Brasil em 2019. Desse total de mortes, 10,5% foram consideradas prematuras e associadas ao consumo de ultraprocessados, segundo a estimativa do modelo matemático usado pelos pesquisadores.
Se os brasileiros reduzissem o consumo de ultraprocessados em 10% seriam poupadas 5,9 mil vidas por ano. Se a redução fosse de 20%, 12 mil vidas e se fosse de 50% 29,3 mil vidas seriam poupadas por ano.
“A ideia do estudo foi estimar, entre as mortes prematuras por todas as causas possíveis, quantas são associadas ao consumo de ultraprocessados, pois os riscos relativos utilizados nos cálculos incorporam isso”, disse ao UOL Eduardo Nilson, pesquisador do Núcleo de Pesquisas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP e um dos autores do trabalho.
O que é ultraprocessados?
Os alimentos ultraprocessados são aqueles que são produzidos pela indústria e utilizam ao menos cinco ingredientes adicionais em suas formulações. Entre os itens adicionados estão: adoçantes, corantes, emulsificantes, conservantes, aromatizantes, entre outros.
Entre os ultraproessados estão alimentos como:
Biscoitos, sorvetes e guloseimas.
Bolos.
Cereais matinais.
Barras de cereais.
Sopas, macarrão e temperos “instantâneos”.
Salgadinhos “de pacote”.
Refrescos e refrigerantes.
Achocolatados.
Iogurtes e bebidas lácteas adoçadas.
Bebidas energéticas.
Caldos com sabor carne, frango ou de legumes.
Maionese e outros molhos prontos.
Pães de forma.
Ainda é possível citar produtos congelados e prontos para consumo (massas, pizzas, hambúrgueres, nuggets, salsichas, etc.); e outras opções como pães doces e produtos de panificação que possuem substâncias como gordura vegetal hidrogenada, açúcar e outros aditivos químicos.
O consumo desses produtos está relacionado ao aumento de peso e ao risco de várias doenças. Entre elas diabetes, problemas cardiovasculares e câncer.
Se a participação calórica de ultraprocessados no Brasil, que é de 19,7% hoje, se igualar ao México (29,8%), as mortes atribuíveis a esse consumo podem praticamente dobrar, chegando a 113 mil.
Se chegarmos ao nível dos Estados Unidos (onde os ultraprocessados já representam em média 57% do consumo calórico), podemos ter, todos os anos, 194 mil mortes por conta desses produtos.