Por Gustavo Conde, compartilhado de Jornal GGN –
No fundo, a selva do jornalismo corporativo ganhou um recall e tanto com o coronavírus. A pandemia os obrigou a tratar da realidade pela primeira vez na história.
Enquanto Facebook, Instagram e Twitter apagam posts de Bolsonaro, a imprensa reproduz.
Dá manchete e critica – na assepsia do ideal embolorado de jornalismo, perpetuando o protagonismo temático da vingança endossado por esse mesmo jornalismo de maneira reprimida.
Com essa crise gigantesca do coronavírus, a imprensa quer se passar por santa, por vítima. Finge estar do lado da ciência porque agora lhe é conveniente – mas quando as estatísticas do combate à pobreza no Brasil estalavam de positivas, ela se calara.
Para um público leitor que ainda precisa de tutela – cujo significado para esse mesmo público atende pelo bonito nome de ‘curadoria da informação’-, o jornalismo vai ser o “herói” do combate ao coronavírus.
A característica palaciana do povo brasileiro não é só do povo brasileiro: populações do mundo inteiro gostam de bajular o poder e elogiar governantes, talvez para se sentirem sócias do “clube”.
E a imprensa, como o famigerado “quarto poder”, entra nessa dança. Puxa-se o saco da imprensa como apanágio para a própria covardia, essa pandemia comportamental que assola o Brasil: o acovardamento auto consentido.
Eu sei que não vai mudar. No fundo, a selva do jornalismo corporativo ganhou um recall e tanto com o coronavírus. A pandemia os obrigou a tratar da realidade pela primeira vez na história.
Eles engatinham – com seus pressupostos mofados de comunicação e de linguagem – no trato com uma realidade chocante que re-instala premissas humanistas em suas dicções empresariais.
A voz do jornalismo pós-pandêmico busca se equilibrar entre o enterro do neoliberalismo e o renascimento da episteme marxista. É um duro golpe para eles – que apoiavam firmemente a extinção do SUS, a privatização selvagem e as reformas trabalhista e previdenciária.
Quem pode dizer que esta imprensa que cobre hoje o coronavírus com ares de justa não era – e ainda é – sócia do governo Bolsonaro?
Mas, são ossos do ofício. O jornalismo é o espelho da sociedade. Se um dia ele melhorar é porque a sociedade melhorou.