Contra a truculência da ditadura, em campo, o trio Afonsinho Barba, Caju Cabelo e Nei Bigode

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Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado

A Flipa – Feira Literária de Paquetá jogou em todas as posições entre os feriadões de 15 de Novembro e da Consciência Negra,  com lançamentos de ótimos livros, shows, performances, palestras e com apresentação de documentário e livro sobre futebol. “Barba, Cabelo e Bigode” foi o livro lançado que nasceu de um documentário. O filme e o livro, de Lucio Branco,  falam sobre um trio que encantou o mundo do futebol na década de 70: Afonsinho, Paulo Cezar Caju e Nei Conceição.




O  Quintal da Regina,  restaurante comandado pela eclética Regina (muita) Paixão Linhares, que dá um show de bola na Ilha, foi o campo escolhido para o lançamento do livro e a apresentação do documentário.

Afonsinho teve sua carreira marcada pela luta e conquista do passe livre em plena ditadura. Com a marcação cerrada da diretoria do Botafogo e dos milicos, Afonsinho entrou na Justiça por ser impedido de jogar futebol, perseguido por ser de esquerda e, como consta numa ficha do pavoroso Cenimar – Centro de Informação da Marinha, por ser um “elemento dotado de inteligência acima da média”.

Mas driblando a todos os trogloditas, Afonsinho conquistou a liberdade para jogar onde quisesse e saiu pelo Brasil desfilando sua arte, cabeleira e barba, o que muito incomodava os “reaças” de então.

Gilberto Gil homenageou o craque com a música “Meio de Campo”, também cantada por Elis Regina: “Prezadao amigo Afonsinho, eu continuo aqui mesmo, aperfeiçoando o imperfeito, dando um toque, dando um jeito. Que a perfeição é uma meta, defendida pelo goleiro, que joga na Seleção. E eu não sou Pelé nem nada, se muito for, sou um Tostão. Marcar um gol nesta partida não tá fácil, meu irmão…”

Paulo Cezar Caju, campeão de 70 não ficou muito atrás no quesito perseguição. Com sua cabeleira black-power, Caju deixava os conservadores de cabelos em pé, pos se impunha com  irreverência, vocação para falar o que pensava e roupas consideradas escandalosas. Mas a unanimidade era o talento com a bola nos pés. Aí, os reacionários deixavam a truculência no banco de reservas e tiravam o quepe…

Caju passou por grandes clubes brasileiros, mas a sua paixão sempre foi o Botafogo. No exterior, jogou no Olympique de Marseille, sendo também ídolo nos campos europeus.

Já o “bigode” do trio, é Nei Conceição, grande meia que brilhou, principalmente, também no Botafogo. O filme e o livro abordam os malabarismos de Nei dentro e fora de campo. Fora das quatro linhas, o craque primava por curtir e acompanhar o grupo musical “Novos Baianos”, jogar suas peladinhas…

Este jornalista ouviu muito sobre a habilidade de Nei. Entre seus admiradores estavam Rivelino e Adãozinho, dupla de meio de campo do Corinthians na época. O saudoso Adãozinho me contava que nos dias de jogo contra o Botafogo, Rivelino vibrava e dizia: “hoje vamos ver o Nei jogar bola…”

Portanto, já nas livrarias  “Barba, Cabelo e Bigode”, golaço de Lucio Branco ao relatar a vida destes três craques, amigos para a vida toda, que muito encantaram torcedores e que enfrentaram a ditadura repleta de preconceito, racismo e violência.

 

 

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