Por Tereza Cruvinel, Brasil 247 –
“Temer escalacriador do Bolsa Familia para ações sociais”, estampa O Globo online na capa. Quando se abre a matéria, a mentira é relativizada: “Temer escala um dos criadores do Bolsa Família para formular ações de programas sociais”. A matéria se refere ao economista Ricardo Paes de Barros, que fez estudos sobre os programas sociais da era petista, mas não foi criador nem parceiro na criação de nenhum dos programas sociais que, segundo seus estudos, promoveram a mais importante redução da miséria e da desigualdade na história brasileira.
Paes de Barros não era próximo do PT quando Lula venceu a primeira eleição. Não participou sequer de equipes de transição. Depois, já no governo Dilma, indicado por Moreira Franco, que era ministro da SAE, presidiu o IPEA. Quando Temer insistiu em promover o hoje autor da Ponte para o Futuro a ministro da Aviação Civil, seu lugar na SAE ficou para Paes de Barros, que sucedeu a Mangabeira Unger. Durou pouco e saiu ressentido, criticando o Plano Nacional de Educação.
Quem estava no governo Lula desde o início, trabalhando para formatar as políticas sociais, era Ana Fonseca, lembra a economista e professora da UFRJ Lena Lavinas. Ela sim, deu forma ao Bolsa Família como sucedâneo do Fome Zero, uma promessa de campanha que ainda não tinha encontrado sua fórmula. E acrescento que foi Patrus Ananias, como primeiro ministro do Desenvolvimento Social, no governo Lula, que desenvolveu as ferramentas de gestão da mais ousada política social que o pais já teve, implantando a pasta e instrumentos de avaliação.
– Chamar Paes de Barros de criador ou de “um dos criadores” de tudo isso é um verdadeiro estelionato intelectual – diz Lavinas.
Na sub-manchete da matéria, o Globo ainda diz: “Em contraponto à acusação de que acabaria com benefícios, equipe de vice fala em elevar ganhos”. Mas, afinal, o que mesmo fará Temer, um duro ajuste fiscal, como prometido, ou uma expansão do gasto social? Diz a matéria:
“Entre as principais propostas que devem ser incluídas está o aumento do valor do benefício mensal do Bolsa-Família, a retomada do Fundo de Financiamento estudantil (Fies) e dos investimentos no Programa Nacional de Acesso ao Ensino técnico e Emprego (Pronatec), além do reforço no programa Minha Casa Minha Vida, que pode voltar às metas originais antes do ajuste fiscal.”. Quando os empresários que financiaram o golpe legislativo lerem isso…não sei não, pensava eu lendo a matéria. Mas em seguida, vem a explicação. O impacto de aumento seria só no curto prazo. Ou seja, no prazo necessário para blindar Temer contra a previsão de que promoverá a involução do Estado brasileiro na área social. Pobres dos pobres.