Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado
Seria mais, muito mais fácil falar das arbitrariedades e parcialidade do que chamam de Justiça no caso Lula. Ou também repetir que moram encarcerados em Curitiba no mínimo 70 milhões de títulos de eleitores que estavam dispostos a devolver pelo voto o cargo ao ex-presidente da República. Seria só mais um texto de lamentação em meio a milhões. Mas existe uma situação posta e a esquerda alinhada com Lula não pode mais se iludir ou fazer cara de paisagem. Não, não deixarão Lula ser candidato.
Não se enganem com alguma pequena vitória parcial no STF. O golpe foi dado e sua finalização exige que o ex-presidente não possa concorrer em outubro próximo. O máximo que se pode conseguir, e ainda assim está difícil, é devolver Lula ao convívio de sua família.
Os crédulos parecem que não aprenderam. Diziam que não ia haver golpe e golpe houve. Esperavam que a defesa de Lula conseguisse ao menos um voto dos desembargadores jecas do TRF-4 e a unanimidade contra já estava combinada com Moro. Achavam que o STF daria o habeas corpus e Lula foi obrigado a deixar os braços do povo que chorava em São Bernardo em direção ao covil de Curitiba.
Existe hoje uma situação concreta: militantes solidários que gritam bom dia a um preso político e indignação até internacional. A luta pela liberdade de Lula não pode e não cessará em campo algum.
Isso é ponto liminar antes da conversa difícil que muitos petistas estão evitando: deve-se insistir até o prazo final na candidatura presidencial de Lula ou é hora de pensar em alternativas, já que o veto aplicado pelo tapetão imoral será inevitável?
Sei e é legítimo que muitos dos seguidores de Lula reajam indignados só à menção do caminho B. Mas essa é uma opção política e tem que ser politicamente justificada. A vida é assim.
Manter até o fim a candidatura Lula significa denunciar o caráter verdadeiro de um pleito presidencial que não terá o candidato preferido da maioria, ou seja, uma fraude.
Significa ainda, entre várias outras louváveis justificativas, manter a luta política e jurídica pela liberdade de Lula, não permitir que a mídia de direita consiga afastar o líder petista do noticiário, sacramentando assim seu assassinato político e seu inferno pessoal.
Mas é preciso, também, que a resistência pela candidatura Lula seja confirmada sabendo que ela carrega riscos. Deixar a substituição na cédula do nome do principal partido de esquerda para o último momento pode sim, e sejamos sinceros, inviabilizar uma transferência expressiva dos votos lulistas para um indicado por ele.
Lembremo-nos que o PT, aliás ninguém, tem um nome conhecido hoje nacionalmente, o que obrigaria o engajamento da agremiação para divulgá-lo. Nem o principal, que Lula possa expressar na TV o apoio a alguém, está assegurado. Muito pelo contrário, a se julgar pela canalhice que marca os atos contra ele.
Inegável também que a troca de candidato na boca da urna praticamente deve enfraquecer a eleição de uma bancada parlamentar mais numerosa.
É uma escolha de Sofia, sem dúvida, que passa principalmente pela decisão do próprio Lula, muito maior na população do que o próprio PT. E Lula tem todas as condições morais de cobrar solidariedade de um partido que fundou, dirigiu e que tem nele a face que garante o apoio do povo, principalmente dos mais pobres.
Portanto, que não se venda outra ilusão, a de que a insistência com a candidatura Lula não embute riscos. Que sejam explicitadas todas as armadilhas que a opção carrega para permitir até o fortalecimento da batalha pela sua liberdade.
O ponto precedente dessa discussão difícil, repita-se, é lutar incessantemente pela liberdade do ex-presidente e favorito do povo. Mas que a escolha seja tomada sem cair mais uma vez no pantanoso terreno da ingenuidade.
Lula livre!