De acordo com investigação da Polícia Federal, militares utilizavam codinomes em referência a países, como Alemanha, Áustria, Japão e Gana, para “não revelar as suas verdadeiras identidades”
Por Fábio Matos, compartilhado de Infomoney
De acordo com as investigações da Polícia Federal (PF), os militares de Operações Especiais – conhecidos como “kids pretos” – criaram um grupo secreto na plataforma Signal para discutir um suposto plano que tinha como objetivo principal a prisão e o assassinato do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo a PF, o plano era capturar Moraes no dia 15 de dezembro de 2022, ainda durante o governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL) e antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que ocorreu no dia 1º de janeiro de 2023.
Foram presos, na operação deflagrada pela PF, quatro militares das Forças Especiais: o tenente-coronel Helio Ferreria Lima, o major Rodrigo Bezerra Azevedo, o major Rafael Martins de Oliveira e o general de brigada Mario Fernandes, ex-secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República no governo Bolsonaro.
“Copa 2022”
De acordo com o despacho do ministro Alexandre de Moraes, do STF, com base nas investigações da PF, os “kids pretos” criaram um grupo denominado “Copa 2022” para discutir o plano golpista. Eles utilizavam codinomes em referência a países, como Alemanha, Áustria, Japão e Gana, para “não revelar as suas verdadeiras identidades”.
Ainda de acordo com a PF, os integrantes do grupo “Copa 2022” habilitaram suas linhas telefônicas no dia 3 de dezembro de 2022 “em horários próximos e praticamente de forma sequencial”. Essas linhas estavam ligadas ao CPF de pessoas que não tinham qualquer envolvimento no plano.
Continua depois da publicidade
Segundo os investidores, essa é uma estratégia de “anonimização”, normalmente “empregada na doutrina de Forças Especiais do Exércitos para não permitir a identificação do verdadeiro usuário”.
“Além dos elementos acima relatados pela autoridade policial, nos diálogos também surge a denominação ‘Copa 2022’, nome do arquivo que foi encaminhado por RAFAEL DE OLIVEIRA para MAURO CÉSAR BARBOSA CID. O mesmo nome, posteriormente, seria utilizado para nomear o grupo do aplicativo SIGNAL em que estavam os responsáveis por executar a ação clandestina de prisão/execução de Ministro do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL”, anotou Moraes na decisão.
“O conjunto de ações identificado pela investigação policial foi denominada, pelos investigados, de ‘Copa 2022’, contendo ‘elementos típicos de uma ação militar planejada detalhadamente, porém, no presente caso, de natureza clandestina e contaminada por finalidade absolutamente antidemocrática’”, destaca Moraes.
“Conforme combinado, no dia 15 de novembro de 2022, o Major RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA encaminha um documento protegido por senha intitulado ‘Copa 2022’ que, pelo teor do diálogo, seria uma estimativa de gastos para subsidiar, possivelmente, as ações clandestinas, que seriam executadas durante os meses de novembro e dezembro de 2022.
RAFAEL DE OLIVEIRA diz: ‘Tô com as necessidades iniciais’ e em seguida encaminha o documento. Em seguida adverte: ‘O Uni tá bugado!! Depois apaga’. Pelo contexto, RAFAEL DE OLIVEIRA tentou repassar o arquivo por meio do aplicativo ‘UNA’ utilizado pelo Exército brasileiro. Devido a algum problema, ele encaminhou para MAURO CID por meio do aplicativo WhatsApp.
Em seguida, MAURO CID insiste em uma estimativa de valor total. RAFAEL DE OLIVEIRA diz: ‘Aquele valor de 100 se encaixa nessa estimativa’. MAURO CID demonstra premência em obter a informação. Diz: ‘Preciso urgente’. RAFAEL DE OLIVEIRA esclarece que incluiu o ‘material em dinheiro’, além da locomoção.”, detalha o ministro do Supremo.
O magistrado prossegue:
“Em relação à ação clandestina programada para o dia 15/12/2022, em conjunto com as demais medidas para a consumação de um golpe de Estado, os dados analisados pela Polícia Federal demonstram a participação de pelo menos 6 (seis) pessoas. Segundo a autoridade policial, para dificultar o rastreamento das atividades ilícitas, os investigados:
(a) habilitaram linhas de telefonia móvel em nome de terceiros, sem qualquer relação com os fatos investigados;
(b) criaram um grupo denominado ‘Copa 2022’ no aplicativo de mensagens SIGNAL; e
(c) receberam um codinome associado a países (Alemanha, Áustria, Brasil, Argentina, Japão e Gana) para não revelarem suas verdadeiras identidades.
Ressaltou a autoridade policial que ‘dois integrantes do grupo não alteraram seus nomes no aplicativo, permanecendo com os nomes já cadastrados, mas que, da mesma forma, dificulta a confirmação de suas reais identidades’”.
Foram identificados os seguintes terminais telefônicos:
Nome cadastrado no grupo: Brasil
2. Linha telefônica: 61981790635
Nome cadastrado no grupo: Gana
3. Linha telefônica: 61981790624
Nome cadastrado no grupo: Argentina 2
4. Linha telefônica: 6198170629
Nome cadastrado no grupo: Áustria
5. Linha telefônica: 61981789891
Nome cadastrado no grupo: teixeiralafaiete230
6. Linha telefônica:31972082033
Nome cadastrado no grupo: Diogo Bast
Assim, utilizando os referidos prefixos telefônicos e os codinomes supracitados, os envolvidos compartilharam mensagens no dia 15 de dezembro de 2022 por meio do aplicativo SIGNAL, revelando detalhes de como a ação se desenvolveu.
As investigações demonstraram, inclusive, que RAFAEL MARTINSDE OLIVIERA participou da ação se utilizando do codinome “Diogo Bast”, que também seria referência ao codinome “Japão”.
As mensagens do referido grupo no dia 15 de dezembro de 2022 foram detalhadas pela Polícia Federal na representação e confrontadas com os demais elementos de prova, nos seguintes termos:
Afirma a autoridade policial que, do teor das mensagens trocadas entre os investigados, é possível concluir que a pessoa associada ao codinome “teixeiralafaiete230’ exercia o papel de liderança do grupo, e que a ação desenvolvida tinha relação com a notícia do adiamento da votação que estava sendo realizada no dia 15/12/2022 no SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
A troca de mensagens entre os membros do grupo “copa 2022” prosseguiu, indicando, de fato, a liderança da pessoa associada ao usuário “teixeiralafaiete230”, e a desmobilização do plano na data de 15 de dezembro de 2022:
“As conversas no grupo ‘copa 2022’ prosseguiram, evidenciando a liderança de ‘teixeiralafalete230’ e os procedimentos de desmobilização dos investigados. Conforme exposto, ‘teixeiralafaiete230’ determinou a ‘Áustria’ que voltasse ‘ao local de desembarque’. Na mensagem, ele diz ‘estamos aqui ainda’, indicando que estava acompanhado de pelo menos mais uma pessoa. Em seguida, ‘teíxeiralafaiete230’ continua orientando os integrantes do grupo. Diz: ‘Gana….prossegue para resgate com Japão’. Logo depois, relata que a pessoa de codinome ‘Brasil’ já teria ido para o ‘ponto resgate’, revelando a existência de um local pré-estabelecido para que os integrantes da ação clandestina fossem resgatados. ‘teixeiralafaiete230’ ainda passa instruções sobre um veiculo possivelmente utilizado na ação. Diz: ‘Moto fica onde parou. Tira bateria…e coloca capa’.”