Por Augusto Diniz, publicado no Jornal GGN –
O empresário “pai” do menino bom de bola é o mais nefasto na formação de jogadores no Brasil. A Copa São Paulo de Futebol Júnior, em andamento neste início de ano, tornou-se o grande palco dessa patifaria.
Aproveitando-se da carência alheia, empresários identificam o futuro craque, vão à casa dele, oferecem televisão nova à família, comida farta à mesa para o garoto crescer sem problemas de saúde, entregam-lhe uma chuteira e o colocam para trabalhar.
Brasileiro acostumado ao sistema patriarcal desde o período colonial, se curva ao “bondoso” e “honrado” homem que tentará tirar a família do atoleiro da periferia da cidade.
Um sujeito com tino empreendedor poderá dizer: “Ué, se investiu em um futuro melhor para o menino exposto à criminalidade, que mal tem isso?”. Há vários.
Não é permitido a um empresário seduzir um menor de idade, ainda na escola e em processo de formação, para torná-lo (quem sabe!) em um rico jogador de futebol. Nem tampouco aliciar sua família para ter o controle de um ser humano sem o mínimo de compreensão sobre o mundo que o cerca de tão jovem que é.
Dito isso, fica mais fácil entender o que acontece quando o empresário o leva aos chamados clubes de aluguel que frequentam a inchada Copa São Paulo de Futebol Júnior. Depois do “acerto” com a família, que se sujeitou às condições impostas pela “autoridade salvadora”, dependerá agora ao jovem progredir no torneio.
Se fracassar, será devolvido à cova dos leões. Caso vingue, fechando com um grande clube (ou até mesmo indo para outro país), o patriarcado poderá se inverter no futuro. Quem passará a mandar é o craque endinheirado, cheio de familiares e assessores por perto, amigos de ocasião nas baladas e seu antigo empresário (que apostou no seu futuro) nas orientações maiores, na troca de clubes, nas negociações salariais e outros projetos financeiros.
Do grande clube brasileiro que o contratou na Copa São Paulo de Futebol Júnior, usarão seu nome centenário, sua valiosa marca, sua torcida e toda sua infraestrutura construída a duras penas. Além disso, ganharão no clube a dimensão do futebol, a aptidão física, a determinação tática, a competência profissional. Depois irão para o exterior (ou outro clube brasileiro mesmo), deixando alguns trocados ao clube que o desenvolveu.
É nesse velho ciclo que o futebol brasileiro entrou de cabeça nas últimas décadas. Hoje, sem opção porque não tem capacidade de investimento nem tampouco estrutura para manter jogadores, o grande clube recorre ao sistema patriarcal imposto pelo empresário do futebol (e não dele próprio, como deveria ser) para montar equipes desde a base.
O resultado é este que se vê hoje.