Até os aliados de Jair Bolsonaro, inclusive os que o cercam no Palácio do Planalto, estão incomodados com o descaso do presidente em relação à tragédia provocada pelas chuvas no sul da Bahia, onde 24 pessoas já morreram e 90 mil estão desalojadas ou desabrigadas.
Por Luiz Eduardo Rezende, compartilhado de Construir Resistência
Insensível, o presidente não dá a menor bola para o sofrimento dos atingidos pela enchente. Prefere se divertir à balda, curtir as férias andando de lancha e jet ski, fazendo motociatas e dançando funk com a mulher, os filhos e um bando de puxa-sacos.
Alertado sobre o desgaste político causado por tamanha falta de solidariedade, Bolsonaro pegou um avião, deu uma voltinha pela área atingida e retornou logo para seu feriado prolongado. Ele, que não gosta de trabalhar, dorme todo dia depois do almoço, diz que está descansando. Ninguém sabe de onde vem esse cansaço do presidente.
Bolsonaro tem horas que dá a impressão de ter jogado a toalha, reconhecendo que não vai mesmo se reeleger. Ligou o dane-se e resolveu aproveitar ao máximo as benesses do poder nesse ano que lhe resta como presidente.
POLITIZAÇÃO DA TRAGÉDIA
Depois de Bolsonaro sobrevoar a área atingida pelas enchentes no sul da Bahia, o governo liberou R$ 50 milhões para ajudar na reconstrução do que foi destruído. Um troco, uma esmola. Se colocasse mais um zero nessa verba ainda seria pouco.
Mas o absurdo não parou por aí. O governo argentino se ofereceu para mandar ajuda humanitária aos atingidos pela tragédia. Bolsonaro proibiu, dizendo que o Brasil não precisa. Tem recursos suficientes para atender às necessidades. Como assim? Liberando R$ 50 milhões?
A Argentina tem um presidente de esquerda, Alberto Fernandez, e a Bahia um governador do PT, Rui Costa. Tudo indica que Bolsonaro recusou a ajuda humanitária para mostrar que não precisa de nenhum auxílio de esquerdistas. Mostrou, mais uma vez, que sua ideologia de extrema direita está acima das necessidades do povo brasileiro.
Ajuda humanitária nada tem a ver com ideologia ou posição política de governos. Tanto que o presidente esquerdista argentino se solidarizou com um governo de extrema direita, comandado por um presidente que age como um fascista.
FILHINHA EM MAUS LENÇÓIS
Jair Bolsonaro declarou publicamente que é contra a vacinação contra o Covid-9 de crianças entre cinco e 11 anos. E que não vai vacinar a filha Laura, aquela mesma que ele, numa chave de galão, matriculou no Colégio Militar de Brasília, furando uma fila enorme de candidatos esperando vaga.
Bolsonaro, como sempre, vai de encontro ao que recomendam os cientistas, a Anvisa e os técnicos do Ministério da Saúde. Esta semana, os secretários estaduais de saúde divulgaram um documento exigindo que as crianças sejam vacinadas antes do início do ano letivo. Isso quer dizer que para frequentar as aulas os alunos terão que apresentar atestado de vacinação.
Está criado o impasse. Se Laura não está vacinada, como vai entrar no Colégio Militar? Será que o todo poderoso Bolsonaro, que manda no céu e na terra, vai editar um decreto proibindo que os colégios militares exijam o passaporte de vacinação?
VINGANÇA DE MARQUETEIROS
Quando era o juiz mandachuva da Lava Jato, Sérgio Moro mandou investigar, perseguiu e condenou pelo menos dois dos principais marqueteiros do país, João Santana e Renato Pereira, responsáveis pelas campanhas de dezenas de políticos nas mais variadas eleições. Resultado: é persona non grata nesse meio publicitário especializado em campanhas políticas.
Moro deixou de ser juiz, assumiu o Ministério da Justiça e Segurança Pública achando que ia ser nomeado para o Supremo Tribunal Federal e estaria com a vida resolvida, não precisando de mais ninguém. O tiro saiu pela culatra e o ex-juiz, agora inimigo de Bolsonaro, resolveu entrar para a política. É candidato a presidente.
Para organizar a campanha ele, que não tem a menor experiência no assunto, precisa de um marqueteiro. E dos bons. Está procurando de vela acesa e não encontra ninguém que aceite o desafio. Se ainda tivesse números encorajadores nas pesquisas poderia ser que algum dos mais importantes assumisse essa responsabilidade, cobrando os tubos para ganhar um bom dinheiro e ter ótimos contratos no futuro.
Moro está vendo como é verdadeiro o ditado “vingança é prato que se come frio”.
BRIGA INTERNA
Os militares do Planalto e os apoiadores mais radicais reclamam que Bolsonaro afinou, moderou o discurso depois daquela fala ultra radical de Sete de setembro. Até o pseudointelectual Olavo de Carvalho brigou com o presidente e levou com ele alguns dos seus principais seguidores. A aliança com o Centrão deixou esse segmento bolsonarista sem argumentos e seus integrantes não escondem a irritação.
Já os parlamentares do Centrão, que hoje dominam a política e a distribuição de verbas do governo, não estão gostando nada da insistência de Bolsonaro em combater a vacinação contra Covid-19, amplamente aceita pela população, achando que isso pode causar um desgaste irreversível à imagem do presidente.
Essa briga interna, a praticamente um ano da eleição, com Bolsonaro em baixa nas pesquisas, tende a enterrar definitivamente as pretensões de reeleição que ainda resistem em Jair Bolsonaro. Mas já tem reflexos: alguns militares, como os generais Heleno, Mourão e Pazuello, que tinham intenções de disputar eleições majoritárias desistiram e, no máximo, tentarão a Câmara dos Deputados.
E os parlamentares do Centrão estão esperando chegar março ou abril. Até lá continuarão usufruindo das benesses do governo. Mas se as pesquisas continuarem indicando que Bolsonaro tem poucas chances de se reeleger vai ser uma debandada geral.
Aí vai ser a lei de Murici. Cada um cuida de si!!!!
ALIANÇA COMPLICADA
A direção do PSB decidiu que não participará da federação com o PT por causa dos problemas nos estados, especialmente em São Paulo e Rio de Janeiro. Como a chapa Lula-Alckmin está praticamente sacramentada, dificilmente o ex-governador de São Paulo entrará para o PSB, como estava previsto. O PSD de Gilberto Kassab passa a ser o destino mais provável.
A questão em São Paulo é que Lula e o PT não abrem mão da candidatura de Haddad e o PSB também não desiste de lançar Márcio França. Até agora pelo menos não houve acordo e a ideia de a chapa presidencial ter dois palanques no estado não vingou.
No Rio, Lula tem um compromisso com Marcelo Freixo, do PSB. Mas tem conversado muito com Eduardo Paes, do PSD, hoje a maior liderança no estado, que não gosta de Freixo e já lançou o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, para o governo.
A chapa Lula-Alckmin vai ficar sem palanque no Rio? Lula vai abrir mão do apoio de Paes justamente na terra de Bolsonaro? Vai romper o compromisso e deixar Freixo pendurado na broxa? E quando tudo estiver resolvido, ainda restará uma questão:
O que Kassab vai fazer para tirar Rodrigo Pacheco da disputa?
FOTOS
Bolsonaro pratica jet-ski em Santa Catarina, enquanto a Bahia é alagada pelas chuvas e registra 24 mortes (Montagem da Revista Piauí)
Bolsonaro com a filha, Laura, de 11 anos, que não vai ganhar vacina do pai (Reprodução/Twitter)
Sérgio Moro: depois de ter condenado marqueteiros, não consegue achar um para chamar de seu (Reprodução/ Diário do Nordeste)
Meme sobre a relação entre Bolsonaro e o Centrão, que está provocando briga interna no governo
Luiz Eduardo Rezende é jornalista com passagem por grandes jornais do Rio de Janeiro, como O Globo e O Dia. Matéria originalmente publicada no Quarentena News.