Por Graça Lago, jornalista, filha de Mario Lago –
Meu avô, Antonio Lago, era maestro, regente de coro e primeiro violino do Theatro Municipal. Mas era também um nome respeitadíssimo no teatro de revista. Autor, compositor e diretor musical de vários sucessos. Entre o clássico e o popular, sustentava a pequena família, que incluía minha avó, Francisca, e meu pai, Mário.
Em 1918, tinha papai 6 para 7 anos, quando a epidemia da Gripe Espanhola atracou no Rio, trazida por navios que vinham da Europa. O estrago foi tremendo, pela violência do vírus somada à pasmaceira das autoridades.
O Rio parou. Comércio, serviços, fábricas e, claro, os teatros, dancings e toda a produção artística, tudo fechou. A família ficou na pindaíba.
Papai foi uma das primeiras vítimas da Espanhola; sobreviveu para que eu pudesse contar essa história. Tinha memórias dolorosas daquele período, das cenas que presenciou da janela de casa, no isolamento, e da primeira grande desilusão que sofreu na vida, ao descobrir que Papai Noel não existia, que o presente era comprado por vovô e que, naquele ano, não haveria nem presente e nem Natal.
Lembrei dessa história ao ver as postagens de tantos fazedores de Cultura que já enfrentam os inevitáveis cancelamentos de trabalhos.
Muitas árvores ficarão sem presentes neste 2020.