Por Ricardo Moreira, publicitário brasileiro, morador em Roma –
Vejam o depoimento de Ricardo Moreira, amigo do Bem Blogado, que está isolado com a esposa, Andréa, na capital italiana. Moreira lembra que “a culpa pelo medo não é de quem divulga a informação mas de quem a ignora.”
“Muita gente no Brasil tem me perguntado como está a situação aqui em Roma e na Itália em geral.
Abaixo um resumo de tudo que estamos vivenciando por aqui.
Desde 09/03, o governo italiano ampliou a área de quarentena para o coronavírus para todo o país com objetivo de combater o avanço do contágio.
Com isso, as restrições de deslocamento, que estavam valendo para o norte da Itália, passaram a ser adotadas agora em todo território nacional.
Essas medidas restringem a entrada e saída do país, os deslocamentos internos, as reuniões e eventos públicos (o Papa por exemplo a partir de agora faz o Angelus via streaming) além do fechamento de cinemas, teatros, museus, escolas, universidades, cabeleireiros, salões de beleza, cantinas, lojas, bares, pubs e restaurantes.
Estão também proibidas cerimônias de casamento, batismo e velórios.
A Itália, fora a China, é o país com o maior número de casos do vírus.
As infecções e o número de mortes continuam a crescer. Os números atualizados (12/03) são de 15.113 atingidos pelo vírus com um total de 1016 vítimas (6,7%).
As ordens do governo italiano é pra que todos fiquem em casa a menos que tenham razões importantes relacionadas ao trabalho, saúde ou outras necessidades especiais e mesmo assim portando uma declaração assinada justificando o motivo.
O deslocamento para o trabalho ainda está permitido mas já se fala que será a próxima medida caso a contaminação não diminua. Férias antecipadas e licenças estão sendo incentivadas e muitos lugares já estão adotando o teleworking.
O clima não chega a ser propriamente de pânico mas de muita apreensão, principalmente para com os mais velhos, que estão sendo as maiores vítimas do vírus. Existe até uma orientação para que os pais não deixem os netos com os avós, já que a maioria das crianças mesmo podendo estar contaminadas não apresentam ou quase não apresentam sintomas.
As ruas, os pontos turísticos inclusos, estão desertas. Ônibus e metrô ainda circulam porém praticamente vazios.
Já não se acha mais desinfetantes para as mãos, máscaras de proteção e, apesar de não haver desabastecimento, já se sente falta de abundância de produtos nas prateleiras dos supermercados.
O atendimento em supermercados, farmácias e mercearias está restrito a um ou dois fregueses por vez e as filas do lado de fora devem obedecer a distância de um metro entre cada um.
Até as coletivas de imprensa do governo estão obedecendo este critério com cada jornalista mantendo a distância de um metro entre si.
Hoje, percebo entre os amigos italianos e estrangeiros um sentimento de que este sacrifício pessoal é para o bem geral e que a vida das pessoas deve valer mais do que a perda de receitas, aperitivos no bar, shows, jogos de futebol.
Lembrando também que, algumas pessoas do meu convívio que ainda acusavam a imprensa de exagero, começam a perceber que a culpa pelo medo não é de quem divulga a informação mas de quem a ignora.
Assistindo ao vídeo do biólogo Atila Iamarino, doutor em microbiologia pela USP e pós-doutorado pela USP e pela Yale University, temos uma ideia do porquê o coronavírus parou a Itália.
Vejam o que diz um professor da USP, Átila Lamarino