Corrida da vacina: cada um por si, ninguém por todos

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Por Fernando Brito, compartilhado de seu Blog

Sabe aquilo que você ouviu muitas vezes, que o Brasil tem uma tradição de vacinação, em massa e nacional, de vacinação?

Esqueça: o Plano Nacional de Imunizações virou, como a festa do cantor Latino, um “bundalelê”.

Primeiro foi o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que não consegue tratar de assunto algum sem colocar marketing no meio, quem começou a prometer “todo mundo vacinado até novembro, depois outubro, após setembro e, agora, 31 de agosto.




Aí veio João Doria, disputando o apelido de “João Vacinador”, que foi “pagando para ver” cada aposta do prefeito carioca.

E hoje, é o patético Marcelo Queiroga que diz que todos terão sido vacinados, no Brasil, até setembro.

A imprensa, rasa como os nossos reservatórios na seca, aplaude o que chama de “corrida do bem”.

É bom lembrar que política de Saúde, ainda mais quando se trata de vacinar quase 200 milhões de pessoas com um imunizante – em sua grande maioria – de duas doses precisa de tudo, menos de improvisação.

E, nisto, estamos “caprichando”.

Esticou-se o intervalo de aplicação das doses.

Deliberadamente, estamos abrindo mão da aplicação da segunda dose, que tem níveis irrisórios. Aplicam-se 10% de doses finais diante das doses iniciais todos os dias e o déficit de aplicação de segunda dose já equivale a todo (ou mais) o estoque de vacinas programado para um mês.

Sem falar que, cada um seguindo um calendário – ou nenhum calendário – para a segunda dose, perde-se a oportunidade de uma campanha nacional de chamamento para o reforço vacinal, o único que confere imunidade significativa.

Além disso, forma-se uma imensa confusão sobre quem pode ou não pode vacinar-se: aqui, a partir de 50, na cidade ao lado, pertinho, a partir de 40. Aqui, professores, ali, motoristas de aplicativos, acolá, caminhoneiros.

Ninguém mais sabe os critérios de distribuição e, portanto, todo mundo aceita que se fixem quaisquer regras ou, como já acontece em vários locais, nenhuma regra e até esta impensável história do “prefiro a vacina tal”.

Isto é, no final das contas, o retrato de um país sem governo central, transformado em um amontoado de governos estaduais fracos e municípios confusos, onde a vacina é dada “se tem, quando tem” a a quem se achar que deve.

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