Corte de verbas prejudica crescimento

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, publicado em Projeto Colabora – 

Pesquisador de Stanford diz que o salário do trabalhador no Brasil poderia ser até 30% maior se houvesse um investimento consistente em educação

Estudantes e professores lotam a Avenida Paulista em protesto contra os cortes de verbas da educação. Foto Nelson Almeida/AFP

Enunciado do problema: “Um professor da Universidade de Stanford gastou 2.700 dólares na compra de uma passagem de avião de São Francisco, na Califórnia, até o Rio de Janeiro. Quanto custaria essa passagem, em euros, considerando que 1 euro equivale a 1,5 dólar?”. De acordo com o professor Eric Hanushek, doutor em economia pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e personagem da história, nada menos que 64% dos estudantes brasileiros com 15 anos de idade não têm condições hoje de resolver questões semelhantes a esta.

Existe uma relação clara entre os anos de escolaridade, a qualidade do ensino e o crescimento do país. Se considerarmos os resultados do PISA, o Brasil vem ocupando as últimas posições há muitos. Se o país alcançasse o mesmo índice de desempenho do México, que é apenas um pouco melhor, o PIB per capita seria 5,6% maior e os trabalhadores brasileiros ganhariam, em média, cerca de 11% a mais

Eric Hanushek
Economista e professor de Stanford

No dia em que professores e estudantes lotaram as ruas do país para protestar contra o cortes de verbas para a educação, Eric Hanushek foi um dos convidados a falar na Reunião Magna 2019 da Academia Brasileira de Ciências, que acontece esta semana no Museu de Amanhã e tem como foco principal os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs). Especialista em temas que ligam análises econômicas e educação, o pesquisador criticou a recente decisão do governo brasileiro de cortar verbas das universidades, de pesquisas acadêmicas e de várias outras áreas do ensino no Brasil. Para ele, com isso, o país perde a oportunidade de ver um crescimento maior do PIB (Produto Interno Bruto) e do salário médio dos trabalhadores.

“Existe uma relação clara entre os anos de escolaridade, a qualidade do ensino e o crescimento do país. Isso vale para o Brasil, para os Estados Unidos e qualquer outra nação. Se considerarmos os resultados do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), coordenado pela OCDE, o Brasil vem ocupando as últimas posições há muitos. Se o país alcançasse o mesmo índice de desempenho do México, que é apenas um pouco melhor, o PIB per capita seria 5,6% maior e os trabalhadores brasileiros ganhariam, em média, cerca de 11% a mais”.




O professor Eric Hanushek explica, em palestra no Museu do Amanhã, porque o Brasil não pode parar de investir em educação. Foto Agostinho Vieira

Para Hanushek, dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, dois podem ser considerados os mais importantes, pois depende deles a realização de todos os demais. Seriam o ODS 8 (Trabalho Digno e Crescimento Econômico) e o ODS 4 (Educação de Qualidade): “Sem melhorar as escolas, não alcançaremos o crescimento e não chegaremos aos outros objetivos”. O professor de Stanford elogiou muito o trabalho que vem sendo feito na área de educação no Ceará.Inspirado nessa experiência, ele recomendou que os governos devem seguir três prioridades na hora de fazer qualquer investimento em educação: “O primeiro deles é melhorar a qualidade do trabalho do professor, o segundo é melhorar a qualidade do trabalho do professor e o terceiro, sem dúvida, é melhorar a qualidade do trabalho do professor”, brincou, antes de falar sério: “Não há nada mais importante do que investir na qualificação do professor”.

Rede estadual do Ceará: investimento em escolas de tempo integral (foto Rosane Gurgel/Seduc/CE)
Rede estadual do Ceará: investimento em escolas de tempo integral (foto Rosane Gurgel/Seduc/CE)

Além das comparações que fez com os resultados do México nas provas da OCDE, Hanushek mostrou cálculos que consideravam os benefícios que uma educação de mais qualidade traria para a economia brasileira. O primeiro cenário levava em conta apenas a possibilidade de todos os brasileiros de 15 anos de idade estarem matriculados em uma escola, mesmo que o desempenho não melhorasse. Se isso viesse a acontecer, o crescimento do PIB per capita já seria de 3,5%. Se todos estivessem na escola e, além disso, alcançassem o nível mínimo de qualidade de 420 pontos no PISA, o PIB per capita cresceria 16% e o salário dos trabalhadores poderia ter um ganho fantástico de 30%. Hoje, o máximo que o Brasil consegue são 407 pontos em leitura, 401 em ciências e 377 em matemática.

O pesquisador concluiu a sua palestra com uma mensagem de otimismo e uma advertência: “O foco fiscal e previdenciário de vários países, inclusive do Brasil, não pode significar uma negligência com o futuro”. E repetiu: “Não haverá crescimento sem investimento em educação de qualidade”. Para ele, sempre é possível melhorar, mesmo quando os recursos são poucos. E o compromisso precisa ser contínuo. Por fim, se você ainda não conseguiu resolver o problema do início do texto, saiba que a passagem custaria  1.800 Euros.

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