Por José Antonio Costeira Leite, jornalista, no Facebook
Perder Coutinho nos deixa sem chão, sem voz, sem respiração. Solitários. Paralisados. Emudecidos. Durante a minha e a infância de tantos, sua imagem sempre esteve ligada à de Pelé, como uma das faces da mesma moeda; na calçada, careta recortada nos jogos de futebol de botão.
Na tevê, ainda em preto e branco e cheia de fantasmas, um dos raios alvinegros que cortava a tela. Era o outro lado da magia produzida pela dupla de movimentos paralelos, combinação numérica (9-10-9-10-9-10, Pelé-Coutinho-Pelé-Coutinho-Pelé-Coutinho), em descidas calculadas, vertiginosas e mortais contra as linhas de defesa adversárias.
Coutinho era um dos vultos que, pela cor e pela ginga, se misturavam e confundiam os beques com as tabelas e jogos de corpo sincronizados, transformadas em passes de balé, lances acrobáticos de circo. Então riamos todos, felizes, por 90 minutos elevados às alturas, à glória.
Na voz fanhosa do rádio a válvula, onde ouvia os jogos do Santos nas noites de meio de semana, Coutinho era, invariavelmente, um dos nomes gritados com voz metálica por Fiori Gigliotti caso não fosse um gol de Pelé.
Ainda assim, Coutinho nunca foi apenas um “partner”, um simples parceiro do Rei. Tampouco príncipe à espera de ocupar o trono. Tinha luz, movimentos, temperamento próprio e, às vezes caminhos únicos até o gol.
Sem ele – assim como sem Pelé – o Santos nunca mais teve uma dupla igual – Oscarito e Grande Otelo de nossas matinês aos domingos, no Cine Fiammetta, no Cine Ipiranga; Fred Astaire e Ginger Rogers de nosso futebol hollywoodiano. Sem ele não seremos os mesmos. Nunca mais. Obrigado. Sempre.