Por Zeca Ferreira, cineasta
Entrevista do Miguel Nicolelis, hoje (26/02) no O Globo, repete e reforça algo que ele e outros cientistas já vinham falando, mas agora já num cenário de caos imediato. Que só um lockdown severo, por no mínimo 15 a 20 dias, é capaz de frear minimamente a contaminação para evitar que o colapso do sistema que já se espalha por vários municípios e estados se torne nacional.
Algumas observações:
Além dessa medida efetiva – lockdown – ele fala em um esforço de comunicação. Aí temos uma questão fundamental: o processo de abdução que nos trouxe até Bolsonaro tem sido capaz de colocar em xeque qualquer informação objetiva.
É como se não existisse mais fontes confiáveis, como se não houvesse mais “verdade dos fatos”. Tudo é distorcido sempre e até a morte – que nos espera a todos – acaba sendo relativizada.
Um exemplo: ontem (25/02), quando o país passava da marca das 1580 mortes em 24 horas, com notícias de colapso em todas as regiões do país, o presidente fazia sua habitual live, elevando o tom contra medidas básicas e essenciais de proteção, como o uso de máscaras, além de voltar a bater no distanciamento.
Ou seja, ainda que se decrete o lockdown amanhã, teremos a oposição explícita do presidente da república, o que sugere resistência e mais caos.
O lockdown, de que fala Nicolelis, não é palavra proibida apenas para bolsonaro e o bolsonarismo, Ainda que um grande jornal estampe em primeira página essa entrevista – que repete um alerta que o próprio cientista já havia feito há semanas, sem a mesma atenção da imprensa -, esses grandes meios de comunicação sofrem a mesmíssima pressão que sofre o fraco presidente da república, governadores, prefeitos.
Os grandes agentes econômicos do país são co-responsáveis pelo que acontece. Aproveitam-se de um governo fraco (sim, Bolsonaro é um autoritário sem autoridade) para sobrepor seus interesses imediatos à vida da população, sobretudo a população vulnerável.
A economia precisa parar, o lucro precisa parar, e todos os esforços precisam ser direcionados para a saúde da população.
Lockdown, informação de qualidade e comida na mesa