Por Marcella Fernandes, compartilhado de Huffpost Brasil –
Números seguem altos, mas Ministério da Saúde vê tendência de queda no quadro geral, ainda que realidade varie entre estados.
Na comparação mundial, Brasil fica atrás apenas dos Estados Unidos no ranking mundial e é o segundo país com mais mortes causadas pela covid-19, de acordo com o mapeamento do Centro de Recursos de Coronavírus da Universidade Johns Hopkins.
Os 2 países repetem as posições também em relação ao número de diagnósticos. No território norte-americano, foram registrados mais de 5,1 milhões de casos. A diferença das taxas de testagem entre os dois países – 37.188 testes por milhão de habitantes nos EUA e 8.737 por milhão de habitantes no Brasil – é uma evidência da subnotificação da crise sanitária no cenário brasileiro.
Na comparação que considera a população de cada nação, de acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil está na 11ª posição tanto em relação aos óbitos – com 475,39 por milhão de habitantes – quanto aos diagnósticos – com 14.280,37 casos por milhão de habitantes. Na semana passada, ocupava o 12ª lugar.
O novo coronavírus já causou mais de 744 mil mortes no mundo. São cerca de 20,4 milhões de casos confirmados, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins atualizados nesta quarta.
Interiorização da epidemia
Quando olhamos os dados acumulados nacionais, os gráficos epidemiológicos assumiram a forma de platô, em vez de um pico de casos e mortes acumulados. Na avaliação do Secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, os números mostram que há uma “tendência de queda” nos indicadores epidemiológicos de modo geral.
Houve uma inversão de comportamento ao longo do tempo, com a interiorização da epidemia. Segundo boletim divulgado nesta quarta pelo Ministério da Saúde, 5.485 (98,5%) dos municípios têm casos confirmados de covid-19 e 3.785 (69%) cidades registraram mortes causadas pela covid-19.
Das 6.914 mortes registradas na semana encerrada em 2 de agosto, 51% foram na região metropolitana e 49% no interior, de acordo com o documento.
Já a média diária de óbitos na última semana analisada foi de 988, nível um pouco abaixo semanas anteriores, quando estava acima de mil. A primeira vez que o Brasil registrou mais de mil mortes por dia foi em 19 de maio. Desde então, isso aconteceu mais de 40 vezes.
Quanto aos casos, a semana encerrada em 2 de agosto foi uma das mais graves da pandemia do novo coronavírus no Brasil. A média diária de diagnósticos foi de 43.505, patamar semelhante ao da semana anterior (44.766). Desde o meio de julho, houve um salto nesse indicador. No fim de junho, o ministério ampliou os critérios de diagnóstico.
A situação muda ao olhar para o quadro regional. Na comparação entre as duas últimas semanas epidemiológicas analisadas no boletim do Ministério da Saúde, na região Norte, houve aumento de 14% nos casos e de 15% nas mortes. No Nordeste, houve queda de 12% nos casos e de 6% nos óbitos. No Sul, Sudeste e Centro-Oeste, foi registrada estabilização tanto de casos quanto de mortes. O cenário, contudo, também é muito diverso de um estado para o outro.
Quem morre por covid-19 no Brasil
Segundo o boletim, em 2020 foram notificadas 548.353 hospitalizações por SRAG, sendo 278.714 (50,8%) identificadas como covid-19, 178.079 (32,5%) causadas por agente não especificado, 85.435 (15,6%) em investigação e o restante provocada por outros agentes patológicos.
Quanto aos óbitos por SRAG, são 144.663 contabilizados no ano, sendo 98.195 (67,2%) por covid-19, 41.998 (29,5%) causados por agente não especificado, 3.575 (2,6%) em investigação e o restante provocada por outros agentes patológicos.
O perfil das vítimas de covid-19 é 72,3% acima de 60 anos, 58% do sexo masculino e 61,8% com menos um fator de risco, como cardiopatia ou diabetes. Quanto à raça/cor, 35,8% das mortes foram de pessoas identificadas como pardas, seguidas por brancas (28,7%), pretas (5,2%), amarelas (1,1%) e indígenas (0,4%). Segundo o boletim, 28,9% dos registros não tinham essa informação.
Subnotificação da pandemia
Em junho, houve uma série de idas e vindas na forma de divulgação dos boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde. Após atrasar o horário de envio dos dados, a pasta deixou de informar o acumulado de mortes e diagnósticos em 5 de junho. A divulgação regular só foi retomada em 9 de junho, após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).
A pasta também chegou a anunciar que adotaria uma nova metodologia, com boletins diários de óbitos ocorridos nas últimas 24 horas e não confirmados. A mudança, contudo, não foi colocada em prática até agora.
Na prática, ela inviabilizava uma comparação com os dados anteriores, dificultando a compreensão da evolução da pandemia no Brasil. Ela também atrapalharia a comparação dos números com outros países, por adotar critérios distintos do resto do mundo.
Com a mudança, as “novas mortes” seriam menores. A medida também evita notícias negativas sobre recordes de óbitos diários. Integrantes do governo de Jair Bolsonaro, especialmente a ala militar, têm criticado esse tipo de cobertura jornalística.
Há uma atraso entre o dia em que a morte ocorreu e o dia em que essa informação foi confirmada em laboratório que pode ser superior a um mês. Por esse motivo, para fins de entender a curva epidemiológica e viabilizar comparações, os países têm disponibilizado os dados dos óbitos por data de confirmação.
No final de junho, o ministério anunciou que a notificação de casos do novo coronavírus poderia ser feita pelo médico apenas por critérios clínicos, sem esperar o resultado laboratorial. Na prática, a mudança pode ser um incentivo a menos para aplicação de testes RT-PCR (moleculares), forma mais precisa de diagnóstico.
De acordo com boletim do Ministério da Saúde, foram distribuídos 5.397.908 testes RT-PCR. Após essa etapa, também há entraves até o resultado do exame. Como o HuffPost vem noticiando, a lentidão no processamento de testes laboratoriais, que detectam tanto a causa da morte quanto se a pessoa foi contaminada, leva a um atraso nos dados oficiais.
Há uma subnotificação de casos confirmados ainda maior devido à limitação de testes de diagnóstico. Na prática, o exame tem sido direcionado apenas aos casos graves. A baixa testagem é um dos entraves apontados por sanitaristas para a flexibilização do isolamento social.
Segundo o Ministério da Saúde, 3.810.322 exames moleculares haviam sido processados até 2 de agosto. A taxa de positividade era de 37,4% nos laboratórios públicos e de 31,2% nos particulares.
De acordo com painel da pasta, 7.976.380 testes rápidos sorológicos foram entregues. Segundo o boletim, 5.532.136 testes sorológicos (rápidos e laboratoriais) foram feitos. Os testes moleculares informam se a pessoa está infectada naquele momento. Os sorológicos, se há anticorpos no organismo.