Por Eduardo Maretti, compartilhado de RBA –
Além do temor pelas consequências da CPI da Covid, analista também aponta que o bolsonarismo digital é cada vez mais limitado a uma bolha: para cada dez tuítes, sete estão “detonando o governo”
São Paulo – A CPI da Covid aparentemente está apavorando as hordas bolsonaristas, celebrizadas como senhoras das redes sociais e especialistas em disseminar notícias falsas de grande repercussão. Os movimentos deles próprios na internet revelam um recuo não verificado desde o início do mandato do presidente Jair Bolsonaro. Segundo o site Vice.com, centenas de vídeos bolsonaristas no YouTube, promovendo boatos, cloroquina e fake news sobre a pandemia passaram a ser deletados a partir de abril deste ano. “O desaparecimento dos vídeos coincide com uma investigação em andamento conduzida pelo Parlamento brasileiro sobre a forma como o governo está lidando com a pandemia, anunciada no início de abril”, informa a publicação, em inglês (leia aqui).
Citando o estúdio de análise de dados Novelo, o texto diz que “desde 14 de abril, quando o juiz da Suprema Corte Luís Roberto Barroso ordenou a instauração da CPI, tivemos um total de 847 vídeos apagados, de 51 canais”. Segundo a matéria, o número total de vídeos “desaparecidos” pode chegar a milhares. Isso porque os dados contabilizados são apenas até 17 de maio, além de ser “virtualmente impossível monitorar todos os canais pró-Bolsonaro no YouTube”.
Alexandre Garcia e Leda Nagle
As postagens excluídas não são apenas de robôs ou bolsonaristas anônimos. De acordo com o Vice.com, em maio o comentarista da CNN Brasil Alexandre Garcia, com quase 2 milhões de inscritos em seu canal do YouTube, excluiu 73 vídeos e escondeu outros 476, “quase 50% dos vídeos em seu canal”, de acordo com a análise de Guilherme Felitti, sócio da Novelo. A apresentadora Leda Nagle, com mais de 1,2 milhão de inscritos, excluiu cerca de 92 vídeos em uma única semana. A jornalista espalhou uma fake news que beirou o absurdo, de acordo com a qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) teriam um plano plano para matar Bolsonaro.
O pesquisador e analista de redes Fabio Malini também detecta movimentos significativos relacionados à CPI no Twitter. Segundo ele, para cada dez tuítes relacionados aos cenários político e sanitário do país, sete são “detonando o governo”. A análise – postada na terça-feira (1° de junho) – foi feita com uma base de 2,4 milhões de retuítes na semana do depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.
“O bolsonarismo digital segue o ‘modelo boiadeiro’. Uma comitiva q toca o gado, ganha projeção, acumula eleitorado. Mas é cada vez (mais) limitada a uma bolha”, escreveu Malini no Twitter. No gráfico abaixo, o predomínio da área rosa sobre a cinza mostra que o antibolsonarismo parece estar virando o jogo no Twitter.
200 gigabytes tirados do ar
Em resposta a requerimento do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI da Covid, a Google, dona do YouTube, encaminhou à comissão aproximadamente 200 gigabytes de arquivos sobre youtubers bolsonaristas retirados do ar. As postagens deletadas, todas de apoiadores de Bolsonaro, eram sobre tratamento precoce, hidroxicloroquina e “até ataques a outros poderes da República”, segundo matéria do Congresso em Foco.
Em maio, surgiu a informação de que Bolsonaro prepara um decreto para dificultar o controle da disseminação de fake news e a suspensão de contas em redes sociais e sites. Isso ocorre como reação após ele e seus apoiadores terem várias publicações retiradas do ar por plataformas de rede.
Não é este o caso do movimento apontado pela Vice.com a partir de dados do estúdio de análise de dados Novelo, que registra publicações retiradas do ar espontaneamente pelos próprios internautas, aparentemente atemorizados com a CPI da Covid. O que Bolsonaro quer com o decreto que supostamente prepara é virtualmente legalizar as notícias falsas plantadas por seus apoiadores. Com isso, mais uma vez o presidente pretende declarar guerra ao STF, particularmente ao ministro Alexandre de Moraes, que conduz um inquérito na Corte que investiga as fake news.