Crescem as infecções no Brasil e no mundo na última quinzena

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Por José Eustáquio Diniz Alves, compartilhado de Projeto Colabora – 

Europa tem 300 mil casos em 24 horas, supera todas as marcas anteriores e fica com mais da metade dos registros globais

Em Paris, o primeiro-ministro francês, Jean Castex, sai após uma entrevista coletiva sobre as medidas tomadas para conter a nova disseminação do surto de covid-19. Foto Thomas Coex/AFP

O Brasil tem motivos reais para comemorar a queda do número de mortes da covid-19 pela sexta semana consecutiva, com um montante de vítimas fatais abaixo de 500 óbitos diários na última quinzena de outubro. Mas tem também vários motivos para se preocupar, pois a pandemia está apresentando números recordes na Europa e nos EUA, assim como em várias cidades brasileiras que registram a retomada de crescimento das infecções e das internações. O número de pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2 voltou a subir no Brasil e no dia 31 de outubro, a média móvel de 7 dias ficou cerca de 10% acima do valor do dia 15/10. Por conseguinte, apesar do relaxamento geral, o Brasil parece longe do controle da pandemia e mais perto da probabilidade de uma 2ª onda.




No mundo, a pandemia avança de maneira rápida e preocupante, batendo diariamente novos recordes, pois, enquanto muitos países estão vivenciando a 1ª onda, outros já estão na 2ª e alguns já surfam a 3ª onda. A Europa voltou a ser o epicentro do surto pandêmico e tem apresentado números diários crescentes de casos e falecimentos. Na Europa Ocidental, que teve um surto bastante acentuado nos meses de março e abril, vive uma 2ª onda de casos que tem sido menos letal do que a 1ª. Na Europa Oriental, ao contrário, a 2ª onda tem sido mais letal. Neste final de outubro, o continente europeu registrou cerca de 300 mil casos em 24 horas, superando todos os registros anteriores, representando mais da metade dos casos globais. O continente anotou também cerca de 3 mil mortes em 24 horas, algo como 40% dos óbitos globais.

Do outro lado do Atlântico, os EUA apresentam curvas ascendentes e atingiram a marcante estatística de mais de 100 mil casos em 24 horas, sendo o único país a alcançar em seu território tal volume diário de pessoas infectadas pelo novo coronavírus. O volume de mortes também voltou a subir nos EUA (e em menor proporção no Canadá), mas está abaixo do que ocorreu na 1ª e na 2ª onda. O fato é que a data votação americana, de 03 de novembro, a despeito de toda negação do presidente Donald Trump, será marcada pela ressurgência do surto pandêmico na América do Norte.

Pode ser que o repique ocorrido na Europa e nos EUA chegue na América Latina e Caribe (ALC) em breve, reproduzindo uma dinâmica semelhante à ocorrida há seis meses. Mas ainda não dá para estimar se uma nova onda será mais letal ou menos letal. Na dúvida, o melhor é prevenir ao invés de remediar. A única certeza existente é sobre a necessidade de redobrar os esforços para evitar a propagação descontrolada do vírus e o consequente crescimento do número de vidas perdidas.

O panorama nacional

Os dados oficiais divulgados pelo Ministério da Saúde registraram 5.535.605 pessoas infectadas e 159.884 vidas perdidas no dia 31 de outubro, com uma taxa de letalidade de 2,9%. Na 44ª semana epidemiológica (SE), de 25 a 31 de outubro, a média diária de pessoas infectadas ficou estável em relação à semana anterior, em torno de 22 mil casos e a média diária de vidas perdidas foi de 426 óbitos, o menor valor em 6 meses.

Na análise das 16 quinzenas de 01 de março a 31 de outubro de 2020, o gráfico abaixo mostra os valores diários das variações dos casos da covid-19 no Brasil. Nota-se que, na quinzena de 01 a 15 de março, houve uma média diária de 13 casos. Nas duas quinzenas seguintes foram 345 casos e 1.507 casos até o pico de 43.641 casos diários na quinzena 01 a 15 de agosto. A partir daí, os números caíram até 23.897 casos na quinzena 01 a 15 de outubro, mas voltaram a subir para 24,4 mil na quinzena 16 a 31 de outubro.

O gráfico abaixo mostra os valores diários das variações dos óbitos no Brasil nas 15 quinzenas de 16 de março a 31 de outubro. Nota-se que, na quinzena de 16 a 31 de março, houve uma média diária de 13 óbitos e nas quinzenas seguintes este número subiu até o pico de 1.069 óbitos diários na quinzena de 16 a 31 de julho. Nas quinzenas a partir de agosto, os números de vítimas fatais diminuíram, sendo que na quinzena de 16 a 31 de outubro a média diária foi de 436 óbitos. A tendência imediata é de continuidade da queda do número de novos óbitos, mas a possibilidade de uma 2ª onda não está descartada.

Embora os números atuais da pandemia no Brasil sejam bem menores do que no momento do pico modal da curva, o país ocupa o terceiro lugar global no número de casos acumulados (atrás dos EUA e da Índia) e em segundo lugar global no número de mortes (atrás apenas dos EUA). O Brasil também é destaque no ranking internacional dos coeficientes de incidência (casos por milhão) e de mortalidade (óbitos por milhão de habitantes).

O panorama global

O mundo chegou a 46 milhões de pessoas infectadas e a 1,2 milhão de vidas perdidas pela covid-19 no Dia das Bruxas (31/10). E o mais preocupante é que as curvas epidemiológicas estão apontadas para cima. Nos últimos dias de outubro o número médio de novos casos ultrapassou meio milhão (350 pessoas infectadas por minuto) e o número de mortes diárias ultrapassou 7 mil (5 vidas perdidas por minuto no mundo). O vírus parece a cada dia mais resiliente e a humanidade mais vulnerável.

O gráfico abaixo mostra a evolução da média diária dos casos da covid-19 no mundo, nas 16 quinzenas de 01 de março a 31 de outubro de 2020. Nota-se que, na quinzena de 01 a 15 de março, houve uma média diária de 6 mil casos. Na quinzena 16 a 31 de março, o número de casos deu um salto para 43 mil e continuou subindo até 260 mil na quinzena de 01 a 15 de agosto. A única queda aconteceu na segunda quinzena de agosto com 251 mil casos por dia. Em seguida a trajetória de alta foi retomada, chegou a 329 mil casos diários entre 01 e 15 de outubro e deu um salto para a média de 439 mil casos na última quinzena, maior acréscimo da série.

O gráfico abaixo mostra a evolução do número diário de óbitos no mundo nas 16 quinzenas dos 8 meses entre março e outubro. Na quinzena de 01 a 15 de março, houve uma média diária de 239 óbitos. Na quinzena seguinte passou para 2,4 mil óbitos diários e, na quinzena 01 a 15 de abril, atingiu o pico da série com 6.566 óbitos diários. Os números absolutos caíram até 4.304 óbitos diários na quinzena 01 a 15 de junho, mas voltaram a subir até 5.878 óbitos na quinzena 01-15 de agosto. Nas quinzenas seguintes os números diminuíram até 5.048 óbitos diários na quinzena 16 a 30 de setembro, mas voltaram a subir em outubro com 5.392 óbitos e 6.098 óbitos diários nas duas últimas quinzenas. A série parece indicar que o mundo está caminhando para um novo pico de mortes em novembro.

Analisando a dinâmica dos casos diários, o gráfico abaixo mostra que a média móvel aumentou no conjunto do continente americano até 210 mil pessoas infectadas no final de agosto, caiu em setembro e voltou a subir em outubro, atingindo o valor máximo da série em 30 de outubro. Mas o grande destaque do mês de outubro foi a Europa (Ocidental e Oriental) que passou de cerca de 70 mil casos diários (na média móvel de 7 dias) no início do mês para a média de 240 mil casos em 30 de outubro. A Índia e o Sul da Ásia que apresentavam uma curva em alta até meados de setembro, atualmente apresentam queda do número de casos. Outra região que apresenta tendência de alta é o mediterrâneo oriental. A África e o restante da Ásia apresentam volumes de casos baixos.

Considerando a dinâmica das mortes diárias, o gráfico abaixo mostra que a média móvel no continente americano que estava acima de 5 mil óbitos em 24 horas na virada de agosto para setembro, caiu para 3 mil óbitos, mas voltou a subir na segunda quinzena de outubro. O continente europeu que chegou a ter 4,3 mil mortes diárias em meados de abril, caiu para menos de 400 mortes no final de agosto e agora subiu para a média móvel de 2,3 mil mortes em 30 de outubro. O mediterrâneo oriental também apresenta tendência de aumento das mortes, mas em nível bem mais baixo. A África e o restante da Ásia também apresentam volumes baixos de mortes.

A Europa é novamente o novo epicentro da pandemia

Os gráficos anteriores mostraram que a Europa está passando por um momento de ressurgência da pandemia em outubro. Mas dentro da Europa há uma dinâmica diferente entre o Leste e o Oeste. A Europa Ocidental está passando por uma segunda onda de infecção do SARS-CoV-2, que, por enquanto, é menos letal. Ou seja, o número de casos é maior do que na 1ª onda, mas o número de mortes é menor. Já a Europa Oriental, também está passando por uma 2ª onda, mas com uma letalidade maior.

O gráfico abaixo, do jornal Financial Times, mostra 6 dos países mais afetados pela pandemia na Europa Ocidental e deixa claro que a 2ª onda (de outubro de 2020) é mais ampla do que a 1ª (de março e abril de 2020). No pico da 1ª onda, que ocorreu entre final de março e início de abril, a Espanha apresentou 167 casos por milhão de habitantes, a Bélgica 141 casos, a Itália 95 casos, o Reino Unido 77 casos, a França 70 casos e a Alemanha 65 casos por milhão de habitantes. Na segunda onda, na média móvel de 28/10, apresenta a Bélgica com 1,3 mil casos por milhão de habitantes, a França com 605 casos, a Espanha 406 casos, a Itália 360 casos, o Reino Unido 331 casos e a Alemanha 170 casos por milhão de habitantes. E todos estes 6 países apresentam tendência de alta para novembro.

Já o gráfico abaixo, com a média móvel do número diário de mortes nos mesmos 6 dos países da Europa Ocidental, indica que, até o presente momento, a 2ª onda de mortes é menos letal do que a 1ª onda, ocorrida há seis meses. No pico da 1ª onda, que ocorreu em abril, a Bélgica apresentou 25 mortes por milhão de habitantes, a Espanha 19 mortes por milhão, o Reino Unido 14 mortes, a Itália 14 mortes, a França 13 mortes e a Alemanha 2,8 mortes por milhão de habitantes. Na segunda onda, na média móvel de 28/10, os números são, respectivamente, 7 mortes na Bélgica, 3,5 na Espanha e no Reino Unido,  2,7 na Itália, 4 na França e 0,7 mortes por milhão de habitantes na Alemanha. E todos estes 6 países também apresentam tendência de alta da letalidade para novembro.

Na Europa Oriental a atual onda de casos e de mortes é bem maior do que a primeira. Os gráficos abaixo, também do jornal Financial Times, mostram 6 dos países mais afetados pela pandemia no Leste Europeu e, da mesma forma, deixa claro que a 2ª, ou mesmo 3ª onda, tem sido mais impactante do que a 1ª onda.

Em abril, o número de casos por milhão de habitantes era de 75 na Rússia, 24 na República Tcheca, 20 na Romênia, 19 na Croácia, 10 na Polônia e 9 na Bulgária. No final de outubro os números passaram para 90 na Rússia, 1.165 na República Tcheca, 245 na Romênia, 490 na Croácia, 393 na Polônia e 271 na Bulgária. Atualmente, a República Tcheca é o país, não só europeu, mas em termos globais, com o maior coeficiente diário de incidência (casos por milhão de habitantes) no mês de outubro.

Já o gráfico seguinte, com a média móvel do número diário de mortes nos mesmos 6 dos países da Europa Oriental, indica que a atual onda de mortes é muito mais letal do que na 1ª onda, ocorrida há seis meses.

Na primeira onda, o número de mortes por milhão de habitantes foi de 1,2 na Rússia, 1 na República Tcheca, 1,4 na Romênia, 0,8 na Croácia, 0,7 na Polônia e 0,3 na Bulgária. No final de outubro os números passaram para 2 na Rússia, 14 na República Tcheca, 4,4 na Romênia, 3,7 na Croácia, 4,3 na Polônia e 3,3 na Bulgária. O crescimento do coeficiente da República Tcheca foi de impressionantes 14 vezes entre uma onda e a outra. Para efeito de comparação, o coeficiente de mortalidade diário do mundo é de 0,9 mortes por milhão de habitantes.

A pandemia cresce nos EUA em quase todos os estados, nas vésperas das eleições gerais

Depois da Europa, o continente americano apresenta o maior número de casos da covid-19 na segunda quinzena de outubro. Atualmente, dentro do “novo mundo”, os EUA chegaram a 100 mil casos no dia 30 de outubro segundo o site Worldometers. O país está vivenciando a 3ª onda e quase todos os estados e territórios apresentam tendência de alta no número de casos. A 1ª onda de infecção nos EUA ocorreu nos meses de março e abril, a 2ª onda ocorreu nos meses de julho e agosto e a 3ª onda começou em outubro e, tudo indica, deve continuar em novembro. O número de mortes também voltou a subir, mas com uma letalidade menor do que na 2ª e na 3ª onda. O gráfico abaixo mostra que os estados de Dakota do Sul e do Norte apresentam os maiores coeficientes de incidência, com média de cerca de 120 casos por 100 mil habitantes (ou 1200 casos por milhão de habitantes). O fato é que o número de casos deve bater novos recordes na próxima terça-feira, quando vão ocorrer as eleições americanas do dia 03/11.

Todas as cifras e os gráficos apresentados não deixam dúvidas que a pandemia está ressurgindo com força na Europa e na América do Norte fazendo as estatísticas internacionanis baterem novos recordes globais. Isto tem feito diversos governos de países europeus adotarem novas medidas para conter a pandemia de Covid-19. No sábado (31/10), a Grécia anunciou um confinamento parcial. A Áustria também estabeleceu restrições para conter a disseminação do coronavírus. E o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, decidiu impor uma nova quarentena (“lockdown”) a partir da próxima semana até o dia 02 de dezembro.

Outros países também já impuseram, de diferentes maneiras,  novos confinamentos, o que tem gerado descontentamento entre parcelas da população. Em Barcelona, manifestantes enfrentaram a polícia depois que centenas de pessoas se reuniram para criticar as novas medidas, que incluem um toque de recolher e a proibição de sair da cidade durante o fim de semana de Todos os Santos. Em Florença, o prefeito solicitou calma após os violentos confrontos entre a polícia e manifestantes. Nos EUA a preocupação central é combinar o controle da pandemia com a realização da mobilização cívica pela realização das eleições que vão decidir o futuro do país.

Não se sabe se esta nova onda da covid-19 da Europa e da América do Norte chegará à América Latina. Um repique da pandemia no Brasil e na América do Sul não é certo, mas também não pode ser descartado. Todavia, na dúvida, é melhor adotar o princípio da precaução, viabilizando ações que possam evitar um dano irreversível à população. Evidentemente, as pessoas estão cansadas desta doença terrível. Mas a negação leva à danação. A solução é combinar a liberdade individual com a responsabilidade coletiva para vencer o SARS-CoV-2 e voltar a sonhar com um mundo mais justo e feliz, com bem-estar humano e ambiental.

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