Por Augusto Diniz, publicado em Carta Capital –
Grupo chega à maturidade depois de cinco álbuns e três DVDs
A roda de samba que ocorre desde 2005, às segundas-feiras, em um clube da Zona Norte do Rio de Janeiro, consolida-se como um marco na história musical da cidade.
E não é só por que atraem multidões em cada apresentação – a última do ano passado reuniu mais de duas mil pessoas, incluindo turistas do mundo inteiro. Mas também pelos frutos que têm dado ao longo de sua existência.
Moacyr já tinha grandes parceiros musicais, lançado alguns trabalhos solos e com composições gravadas por conhecidos intérpretes, quando formou uma roda de samba para tocar no dia de semana em que os músicos em geral folgam.
A iniciativa vingou em meio à criação de projetos próprios de sambistas fora do então reduto de samba da Lapa. De lá para cá, o Samba do Trabalhador lançou cinco álbuns, incluindo o último recém-apresentado Fazendo Samba (Biscoito Fino), e três DVDs.
Também nesse tempo, alguns de seus membros criaram carreira solo. Gabriel Cavalcante (voz e cavaquinho) lançou um álbum, Alexandre Marmita (voz e cavaquinho) e Nego Alvaro (voz e percussão) fizeram dois cada um, e Mingo Silva (voz e percussão) tem um para ser lançado em breve com a participação de Zeca Pagodinho.
O conjunto completa com os excelentes instrumentistas Luiz Augusto Guimarães (percussão), Nilson Visual (percussão), Junior de Oliveira (percussão) e Daniel Neves (violão sete cordas).
Moacyr Luz virou um sambista requisitado, com vários outros projetos e chegando a 12 trabalhos solos (há dois outros sendo preparados para esse ano).
Toda essa experiência musical reunida transformou o quinto álbum do Samba do Trabalhador um dos trabalhos mais sólidos do gênero lançados recentemente. O grupo alcança a maturidade de um projeto bem-sucedido.
“É um andamento cadenciado. Uma percussão na medida. A harmonia mais rebuscada. A sonoridade avança um pouco com influências diversas do jazz, bossa nova, música latina. O grupo tem uma sonoridade no trabalho autoral. Se tiver que fazer acompanhamento, o grupo acrescenta à música”, diz Moacyr Luz sobre a musicalidade do Samba do Trabalhador.
Repertório
São 16 faixas com cinco regravações. A clássica O Ronco da Cuíca (João Bosco e Aldir Blanc, com participação do primeiro) tem uma abertura percussiva a altura da obra dos dois compositores. Participam ainda do álbum Leci Brandão e Roberta Sá.
Mas é nas músicas com registros das vozes do grupo (Gabriel, Alexandre, Alvaro e Mingo) cantando alternadas com Moacyr Luz, incluindo algumas composições deles próprios, que o trabalho revela solidez.
O álbum é de samba, mas de batucada no tamanho certo, sem correria, estreita ligação aos acordes, aos arranjos sensíveis de Moacyr Luz e Carlinhos Sete Cordas, que também toca violão no álbum.
Entre as faixas de destaque de Fazendo Samba, que é uma música de Moacyr com Zeca Pagodinho gravada no álbum, cito: Loucos de Inspiração (Moacyr Luz e Wanderley Monteiro), com as cinco vozes abrindo o álbum com samba forte de interpretações idem; Das Bandas de Lá (Moacyr Luz e Xande de Pilares), a segunda faixa, com duo de Moacyr e Alexandre Marmita, o mais proeminente sambista do grupo; Reza pra Agradecer (Nego Álvaro, Vinicius Feyjão e Pretinho da Serrinha), regravada, mas sempre bom ouvi-la, com Alvaro; Segunda-Feira (Gabriel Cavalcante e Roberto Didio), exaltação às rodas de samba do grupo, com Gabriel; Mãos de Deus (Nego Alvaro); e Camunga, mais uma obra-prima da dupla Moacyr Luz- Aldir Blanc, faixa em homenagem ao músico já falecido Camunguelo.
Instrumentistas convidados que gravaram no álbum estão Dirceu Leite (sopros), Allan Abadia (trombone), Sereno (tantã), Joana Rytcher e Analimar Ventapane (coro).
“Fui entender ao longo do meu percurso no samba aonde posso interferir, sem mexer em estrutura, propondo algo diferente, um acorde diferente. Não busco um padrão. Faço isso no Samba do Trabalhador”, conta Moacyr. “Agora que completa 15 anos entrego o grupo a Deus.”
Foto: MOACYR LUZ E SAMBA DO TRABALHADOR (FOTO: MARLUCI MARTINS/DIVULGAÇÃO)