Crias de instituições públicas, jovens pesquisadores do Rio ganham destaque nos EUA

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Após passagem pelo Programa Jovens Talentos, da Faperj, Igor foi contratado por hospital no Arizona e Hugo selecionado para curso em universidade do Alabama

Por Faperj, compartilhado de Projeto Colabora




Na foto: Igor Santiago-Carvalho: da Universidade Estadual do Norte Fluminense para doutorado na USP e pesquisa sobre respostas imunológicas às infecções pulmonares na Mayo Clinic Arizona, em pós-doc nos EUA (Foto: Acervo Pessoal)

(Débora Motta*) – Da Pré-Iniciação Científica em instituições públicas no interior fluminense ao reconhecimento acadêmico nos Estados Unidos. Essa trajetória promissora é o ponto em comum na vida de dois pesquisadores – Igor Santiago-Carvalho e Hugo Silva –, que deram os primeiros passos na carreira científica ainda durante o Ensino Médio, quando ingressaram no programa Jovens Talentos. Completando 23 anos de existência em 2022, o projeto é uma iniciativa apoiada pela Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) e coordenada pelo educador e professor Jorge Belizário, e hoje abrange mais de 70 escolas e universidades das redes federal e estadual em cerca de 30 municípios no estado do Rio de Janeiro.

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Aos 26 anos, o biólogo Igor Santiago-Carvalho está se destacando na área de Imunologia. Natural de Santo Antônio de Pádua, município do Noroeste fluminense, ele foi recentemente contratado como pesquisador (Research Fellow) no Departamento de Imunologia do Hospital Mayo Clinic (Scottsdale, Arizona), onde cursou seu doutorado-sanduíche, para estudar a resposta imunológica diante de infecções virais e micobacterianas graves, especialmente nos pulmões. O estudo teve como desdobramento a publicação de um artigo na revista científica Frontiers in Cellular and Infection Microbiology, especializada no tema Microbiologia de infecções, intitulado P2x7 Receptor Signaling Blockade Reduces Lung Inflammation and Necrosis During Severe Experimental Tuberculosis. A parte final deste trabalho está sendo preparada para publicação e contará como as células T CD4 agravam o dano pulmonar durante infecção pelo vírus Influenza e na tuberculose severa.

“Meu projeto é sobre o papel do receptor purinérgico P2X7 nas células T CD4 e CD8, que desempenham um papel importante para combater infecções pulmonares, como no caso da tuberculose ou de outras infecções virais, incluindo a gripe (Influenza) e a Covid-19. Estamos observando um aspecto pouco explorado na pesquisa: essas células também podem causar danos ao tecido pulmonar, quando se acumulam excessivamente na região do parênquima pulmonar, durante as infecções mais graves”, resumiu Santiago-Carvalho.

O imunologista Igor Santiago-Carvalho: pesquisa nos EUA que pode ajudar no combate a doenças pulmonares como tuberculose, gripe e covid-19 (Foto: Acervo Pessoal)
O imunologista Igor Santiago-Carvalho: pesquisa nos EUA que pode ajudar no combate a doenças pulmonares como tuberculose, gripe e covid-19 (Foto: Acervo Pessoal)

O jovem teve o mérito de ingressar direto para o doutorado na Universidade de São Paulo (USP), logo após a graduação em Ciências Biológicas, concluída na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), sem precisar cursar o mestrado. “Quando eu estava no quinto período de Ciências Biológicas na Uenf consegui aprovação direto no doutorado em Ciências e corri para adiantar as matérias que faltavam para concluir a graduação. O professor Victor Flores, que era coordenador do curso de Ciências Biológicas na Uenf e amigo do professor Belizário, me apoiou bastante nesse processo”, contou Santiago-Carvalho. “Depois surgiu a oportunidade de realizar o estágio doutoral sanduíche na Mayo Clinic Arizona”, acrescentou.

Ele destacou a importância de ter participado do programa Jovens Talentos para se familiarizar com o universo científico, quando ainda estudava no Colégio Estadual Almirante Barão de Teffé, em Santo Antônio de Pádua. “O meu primeiro contato com a Ciência foi no projeto Jovens Talentos, quando eu estudava na Barão de Teffé. Passei a participar de atividades de pesquisa ambiental no campus da UFF em Santo Antônio de Pádua. Escolhi então ir para a área de Biologia. A coordenadora era a professora Celia Januzzi, da UFF. Cheguei a cursar o primeiro período da graduação em Pedagogia na UFF, antes de partir para Ciências Biológicas na Uenf”, rememorou.

Filho de uma manicure e de um motorista, ele foi o primeiro da família a ingressar no ensino superior. “Lembro de minha mãe dizer, quando eu estava na escola, que eu só iria para a universidade se eu passasse em uma pública. Valeu a pena insistir, sair do interior e ir à luta. O que mais tem é gente para dizer que não vai dar, mas só depende de você. Até hoje ninguém formou no quinto período na Uenf. Fico feliz, pois depois de mim, outros conseguiram adiantar pelo menos um período da graduação e estão tendo tanto sucesso quanto eu”, concluiu.

Hugo Silva, formado no Ensino Médio pela Faetec, foi um dos 18 jovens escolhidos em todo o mundo para participar do Anvie Space Camp, na Universidade Huntsville, no Alabama, Estados Unidos (Foto: Divulgação)
Hugo Silva, formado no Ensino Médio pela Faetec, foi um dos 18 jovens escolhidos em todo o mundo para participar do Anvie Space Camp, na Universidade Huntsville, no Alabama, Estados Unidos (Foto: Divulgação)

A história de Hugo Silva também é de estudo e persistência. Estudante campista, ele foi um dos 18 estudantes selecionados em todo o mundo para participar do Anvie Space Camp, que ocorreu de 29 de abril a 7 de maio na Universidade Huntsville, no estado do Alabama, Estados Unidos. “O Anvie Space Camp é um acampamento pra preparar jovens que gostam de ciência, tecnologia e astronomia para estudar mais a fundo sobre a engenharia aérea espacial. Tivemos aulas de como desenvolver foguetes, fizemos simulação de voos, estudamos Física quântica, em um ambiente muito bem estruturado para jovens de 16 a 18 anos.”, contou.

Ele cursou o Ensino Médio na Faetec João Barcelos Martins, em Campos dos Goytacazes, quando participou do Jovens Talentos, entre 2018 e 2019. Morador de Ururaí, área rural da cidade, Hugo reconhece a importância do projeto na sua trajetória. “Levava duas horas de ônibus só para chegar na escola. Tinha que acordar às 4h30 para estar na aula às 7h. Quando ingressei no projeto, passei a pesquisar os efeitos dos metais pesados contaminantes no Rio Paraíba do Sul, que banha a região, e como a poluição afeta a planta Salvinia auriculata e bactérias associadas a essa espécie”, recordou Hugo.

Ele, que atualmente estuda para o Enem, e está decidindo qual carreira seguirá, também vai ser o primeiro da família a ingressar em um curso superior. “Meu pai é porteiro e minha mãe é dona de casa. Ir para a Faetec já foi incrível para quem vem de onde eu vim. Descobri possibilidades de mudar de vida, conhecer coisas novas e o desejo de estudar cresceu dentro de mim. Vejo a importância da ciência na vida das pessoas e porque a Biologia no Ensino Médio é tão importante. O apoio da bolsa da FAPERJ dos Jovens Talentos foi fundamental para eu custear gastos com passagem e alimentação”, reconheceu.

*Débora Motta é jornalista, formada pela UFRJ, e tem pós-graduação lato sensu em Relações Internacionais pela PUC/RJ

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