Crise climática: 15 milhões de pessoas vivem sob ameaça de inundações glaciais

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De acordo com estudo publicado na Nature Communications, metade da população ameaçada está em quatro países: Índia, Paquistão, Peru e China

Por Oscar Valporto, compartilhado de Projeto Colabora




Represa natural e lago glacial no Butão: perigo de inundações provocadas por derretimento de barreiras naturais em lagos glaciais ameaçam 15 milhões de pessoas (Foto: J. Rachel Carr)

A aceleração do derretimento de geleiras ao redor do mundo ameaça pelo menos 15 milhões de pessoas expostas ao risco de inundações súbitas e potencialmente mortais. Estudo, publicado esta semana na revista Nature Communications, indica que mais da metade desse total está localizada em apenas quatro países – Índia, Paquistão, Peru e China – onde áreas podem ser inundadas pelo rompimento de uma barragem natural em um lago glacial.

A perda contínua de gelo e a expansão dos lagos glaciais devido às mudanças climáticas significam que as inundações glaciais são um perigo natural globalmente importante e que requer atenção urgente

Thomas RobinsonPesquisador da Universidade de Canterbury

Os pesquisadores identificaram lagos glaciais em imagens de satélite e, então, determinaram o número de pessoas que vivem dentro de 50 quilômetros de cada lago e dentro de 1 quilômetro do rio onde a água fluiria no caso de uma inundação do lago glacial. De acordo com os cálculos, estão ameaçadas 9 milhões de pessoas próximas ao Himalaia, 2,5 milhões nos Andes e 2,2 milhões nos Alpes. Essas inundações podem acontecer quando uma barragem de gelo ou rocha que retém um lago glacial falha, ou um deslizamento de rochas envia água para uma represa natural.

Professor sênior da Escola de Terra e Meio Ambiente da Universidade de Canterbury (Nova Zelândia) e um dos coordenadores do estudo, o pesquisador Thomas Robinson afirma, em entrevista divulgada nas plataformas da universidade, que as inundações de explosão de lagos glaciais (GLOFs) podem acontecer sem aviso quando uma barragem natural falha. “A perda contínua de gelo e a expansão dos lagos glaciais devido às mudanças climáticas significam que as inundações glaciais são um perigo natural globalmente importante e que requer atenção urgente para minimizar a perda de vidas num futuro próximo”, destaca.

Robinson é um dos autores do artigo publicado na Nature Communications que, pela primeira vez, identifica as áreas e comunidades em todo o mundo mais ameaçadas por esse crescente perigo natural. “Nossa pesquisa é inovadora porque identifica as populações que vivem a jusante desses lagos e quão vulneráveis elas são”, aponta. “Desde 1990, o número e tamanho dos lagos glaciais cresceu rapidamente. Mostramos que atualmente 15 milhões de pessoas em todo o mundo estão expostas aos impactos de possíveis inundações causadas por explosões em lagos glaciais”, acrescenta.

Desde 1990, o número de lagos glaciais na região dos Andes aumentou 93% em comparação com 37% nas Altas Montanhas da Ásia e, como nação, o Peru tem o terceiro maior risco de inundação por explosão de lagos glaciais em todo o mundo

Thomas RobinsonPesquisador da Universidade de Canterbury (Nova Zelândia)

A nova pesquisa identifica que mais da metade da população mundial exposta é encontrada em apenas quatro países: Índia, Paquistão, Peru e China. “Embora as montanhas altas da Ásia tenham o maior potencial para impactos de inundação de lagos glaciais na Índia, Paquistão e China, destacamos os Andes, que afeta pessoas que vivem no Peru e na Bolívia em particular, como uma região de preocupação com potencial semelhante para impactos GLOF, mas menos estudos de pesquisa publicados”, diz o Dr. Robinson.

O Himalaia tem sido um assunto popular para pesquisa, respondendo por 36% dos estudos de inundações de erupções glaciais realizados entre 2017 e 2021. “As pessoas nas montanhas altas da Ásia estão mais expostas e, em média, vivem mais próximas de lagos glaciais, com cerca de 1 milhão de pessoas vivendo a 10 km de um lago glacial”, atesta Robinson, lembrando, contudo que os Andes têm um nível de perigo semelhante e são muito menos bem estudados. “Desde 1990, o número de lagos glaciais na região dos Andes aumentou 93% em comparação com 37% nas Altas Montanhas da Ásia e, como nação, o Peru tem o terceiro maior risco de inundação por explosão de lagos glaciais em todo o mundo”, acrescenta.

“A grande mensagem é que, se você quiser entender o risco, não pode apenas olhar para o perigo, você deve pensar onde as pessoas estão e quão vulneráveis elas são”, afirma o pesquisador. “Não podemos nos concentrar apenas no Himalaia porque é mais conhecido e ignorar os riscos enfrentados nos Andes. Precisamos ter certeza de que estamos olhando para o quadro geral e para as áreas com grande número de pessoas vulneráveis.”

Ele aponta ainda que alguns vales contêm muitos grandes lagos glaciais, mas eles têm muito poucas pessoas vivendo a jusante, então são comparativamente menos perigosos. Mas em partes do Paquistão, Índia e Peru há um grande número de pessoas vivendo nesses vales. Aqueles que vivem na região dos Andes também são muito vulneráveis ao impacto de tal desastre, de acordo com as medidas dos pesquisadores de corrupção, pobreza, níveis de educação e outros fatores.

Robinson destaca também que é importante trabalhar em estreita colaboração com as comunidades expostas identificadas no estudo para evitar grandes desastres. “Estamos ansiosos para trabalhar com os governos nacionais e locais nessas áreas de alto risco para ajudar a identificar e explorar possíveis opções de mitigação, exercícios de evacuação e sistemas de alerta precoce para inundações. Trata-se de trabalhar ao lado deles para que possam minimizar o risco para vidas humanas”.

O estudo é baseado nos dados mais recentes publicados sobre as condições do lago, dados de exposição e vulnerabilidade, e é um instantâneo do risco enfrentado em 2020. A equipe de pesquisa também planeja explorar como esse risco mudou nos anos desde então, e o que poderia potencialmente acontecer no futuro.“ Esperamos que nossa pesquisa possa ser usada para ajudar a proteger comunidades vulneráveis e ajudar comunidades locais, governos e grupos internacionais como as Nações Unidas a priorizar os locais mais perigosos”, afirma Thomas Robinson.

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