Crise do PSL ameaça governabilidade da gestão Bolsonaro e pode travar pautas de reformas

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Publicado em Jornal GGN – 

Queda de braço entre Planalto e Bivar mostra que ala bolsonarista não tem poder de fogo suficiente; Substituições no comando legislativo podem ser fatais para o governo

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Jornal GGN – A queda de braços entre o Planalto e a direção do PSL, nesta quinta-feira (17), mostrou que Bolsonaro tem menos apoio político do que o presidente da sigla, Luciano Bivar (PSL-PE). O quadro coloca em risco a governabilidade da gestão Bolsonaro e pode travar as pautas de reformas.

O primeiro ataque de ontem veio da ala bolsonarista. O grupo entregou uma lista com 27 assinaturas dos 53 deputados do PSL à Secretaria-Geral da Câmara pedindo a destituição do deputado Delegado Waldir do comando da bancada. A proposta era que ele fosse substituído por Eduardo Bolsonaro.

A ala bivarista contra-atacou a apresentou uma lista própria com 31 deputados. Além de manter Waldir no comando da sigla, Bivar destituiu o deputado Eduardo Bolsonaro e o irmão, senador Flávio, dos comandos da legenda em São Paulo e no Rio de Janeiro, respectivamente.




A reorganização também afastou a deputada Bia Kicis (PSL-DF), outra aliada dos Bolsonaro, da presidência do PSL do Distrito Federal.

Bolsonaro tentou um contragolpe, e retirou a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) da liderança do governo no Congresso, isso porque ela assinou a lista em favor da manutenção de Waldir no comando do partido.

À coluna de Mônica Bergamo, na Folha de São Paulo, Joice disse que decidiu não apoiar a substituição de Waldir porque o filho de Bolsonaro “é desagregador”. “Mas quando o governo quer dar tiro no pé, fazer o quê? Eu, para proteger o presidente, não entrei nisso. Não poderia colocar a minha assinatura numa loucura dessa. Mas porque eu assinei a lista de apoio ao Waldir, vem essa retaliação.”

“Eu ganho uma carta de alforria. Graças a Deus!”, disse ainda a parlamentar. “Passei esse tempo todo servindo ao governo de forma leal. Inclusive deixando de cuidar do meu mandato para gerir crises e apagar incêndios. Abrir mão da minha família. Em alguns momentos, tive que engolir sapo para defender coisas com que eu não concordo.”

Bolsonaro colocou como substituto de Joice na liderança do governo no Congresso o senador Eduardo Gomes (MDB-TO). Segundo senadores e deputados ouvidos pela Folha, apesar de Gomes ser experiente e habilidoso politicamente, não será nada fácil o desafio de atuar em favor do governo no Congresso em meio a crise deflagrada.

Enquanto Joice, apesar de estar no primeiro mandato, vinha apresentando boa desenvoltura na liderança do governo, conquistando os pares no Congressa após o clima inicial de desconfiança no começo do ano.

Ainda segundo a Folha, parlamentares experientes afirmaram que, em muitos momentos, a atuação da deputada junto aos partidos de centro foi fundamental para o governo conseguir encaminhar pautas em votações importantes.

O que deflagrou a crise no PSL

A crise aberta entre Bolsonaro e a liderança do PSL começou há cerca de uma semana, logo após uma reportagem da Folha, revelando que, em depoimento à Justiça, um ex-assessor do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, comentou que “parte dos valores depositados para as campanhas femininas”, empregadas como laranjas do partido, “na verdade, foi usada para pagar material de campanha de Marcelo Álvaro Antônio e de Jair Bolsonaro”.

A matéria trouxe ainda dados de uma planilha apreendida em uma gráfica pela PF sugerindo que o dinheiro desviado de candidatas laranjas do PSL mineiro foi desviado como caixa dois para a produção de materiais das campanhas de Bolsonaro e Álvaro Antônio.

Apesar de seguir com Álvaro Antônio no Ministério do Turismo, Bolsonaro busca descolar sua imagem dos escândalos das candidaturas de fachada. Uma das opções articulada por ele é deixar o partido, argumentando a falta de transparência em abrir as contas.

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A outra opção foi posta em prática nesta quinta-feira, que foi a tentativa da ala bolsonarista conquistar maior liderança dentro do PSL, reduzindo a força do grupo ligado ao deputado e atual presidente da sigla Luciano Bivar, passando aos eleitores a mensagem de sua atuação direita para derrubar parlamentares suspeitos de corrupção de dentro do seu próprio partido.

Um dia após a publicação da matéria da Folha sobre candidaturas laranjas, trazendo a suspeita de caixa dois, o presidente da República disse que Bivar, está “queimado pra caramba” e orientou um simpatizante a deixar o PSL.

No início da semana, a Polícia Federal realizou uma operação de buscas e apreensões em endereços ligados a Bivar. A ação marcou de vez o racha dentro do partido.

As buscas da PF aconteceram também pouco menos de duas semanas após o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG), ser indiciado e denunciado pelo Ministério Público de Minas Gerais e também pela Polícia Federal, sob a acusação de liderar um esquema de candidaturas de fachada em 2018, mesma questão que colocou Bivar na mira das investigações. Apesar disso, Bolsonaro continua protegendo Álvaro Antônio e, até o momento, não deu nenhuma indicação de que irá exonerá-lo do Ministério do Turismo.

A PF e o Ministério Público abriram investigações sobre candidaturas laranjas do PSL a partir de fevereiro, baseados em reportagens da Folha de S.Paulo. O jornal mostrou que, em Minas Gerais, quatro candidatas receberam R$ 279 mil de verbas publica para campanhas do PSL mineiro, ficando entre as 20 que mais receberam recursos do partido nas eleições passadas.

Já em Pernambuco, reduto político de Luciano Bivar, o jornal revelou que o PSL direcionou R$ 400 mil do fundo partidário para Maria de Lourdes, secretária administrativa do partido no estado que também se tornou candidata. Não há sinais de que as candidatas, que receberam mais recursos para as campanhas do que o próprio Bolsonaro, tenham feito campanhas efetivas.

Ala bolsonarista não desistiu de ganhar espaço no PSL

A ala bolsonarista não desistiu de assumir a liderança do PSL. Em entrevista para a Folha, o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), disse que uma nova lista, que já está disponível para os deputados que quiserem assinar, será apresentada para depor Waldir e substituí-lo por Eduardo Bolsonaro.

“Nós não vamos encarar como qualquer tipo de derrota, como foi tratado aqui, ou de modificação, mas simplesmente uma reavaliação política”, afirmou o parlamentar.

“O processo não acabou ainda. E tenho certeza de que, no final, nós vamos conseguir colocar uma liderança que seja mais alinhada com o governo, que seja mais séria, mais equilibrada, e que mantenha um clima dentro do PSL, ainda que se mantenham as disputas partidárias, mas um clima que consiga trazer possibilidades maiores de o governo avançar com suas pautas”, prosseguiu o parlamentar.

Até as eleições de 2018 o PSL era um partido nanico. No último pleito, além de eleger um presidente da República, a sigla se tornou a segunda maior bancada na Câmara, com 53 dos 513 deputados federais na Casa, atrás apenas do PT, com 54 cadeiras.

Por conta do resultado alcançado em termos de representatividade parlamentar, o partido poderá acessar nas próximas eleições uma cota maior do fundo partidário, estimado em R$ 110 milhões neste ano.

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