Crise na europa entra no sétimo ano

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Jamil Chade, enviado especial de Barcelona, para E&N Estadão

Problema com bancos virou crise social, com impacto nas famílias e projeções de que bloco levará 5 anos para voltar aos indicadores de 2007

A Europa entra em seu sétimo ano de crise e, se o Produto Interno Bruto (PIB) deixou de sofrer uma forte contração, o continente substituiu a recessão por uma longa estagnação, sem data para terminar. No ritmo atual, as próprias projeções da União Europeia indicam que o bloco apenas voltará a ter os índices econômicos de 2007 em 2020.

Em sete anos, o que era uma crise dos bancos virou uma crise social, com políticas de austeridade tendo um impacto profundo numa sociedade que há décadas não sabia o que era uma crise.




Com as projeções de que a estagnação vai continuar, o que se observa é um novo rosto da Europa, redefinida ao longo dos anos pela crise. Famílias mudaram de comportamentos, governos mudaram de hábitos e empresas mudaram de estratégias, redesenhando a Europa.

Para a Unicef, as famílias europeias deram “um grande salto para trás” desde 2008. Hoje, a renda média das famílias no Reino Unido regrediu em seis anos. Na Grécia, as famílias voltaram ao que ganhavam há 14 anos. Na Espanha e na Irlanda, a perda foi de dez anos, contra oito na Itália.

“Muitos países afluentes sofreram um grande salto para trás em termos de renda familiar”, disse Jeffrey O’Malley, representante da Unicef. “O impacto será de longa duração para as crianças e para as comunidades onde vivem.”

Para este ano, a previsão da Comissão Europeia é de que o bloco vai crescer apenas 1,1%, pouco acima de 2014. “Teremos um sopro de ar fresco. Mas ainda não ventos fortes”, disse o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, num discurso coordenado entre líderes que tentam convencer, sem sucesso, suas populações de que a crise já acabou.

Para crescer, o bloco vai investir US$ 381 bilhões na esperança de relançar a economia, enquanto o Banco Central Europeu também indicou que pode fazer mais uma injeção de recursos. Mas dados industriais de dezembro já ficaram abaixo da previsão.

Não são poucos os analistas e entidades que já comparam a estagnação da Europa a uma repetição do cenário do Japão, que não conseguiu voltar a crescer por mais de uma década. Para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Europa corre o “sério risco de viver uma armadilha da estagnação”.

Ao tentar ajustar sua dívida, os cortes impedem investimentos que, por sua vez, afetam o consumo e o crescimento. Esse ciclo prolongaria uma estagnação sem fim, ao ponto de o Fundo Monetário Internacional (FMI) também soar o alerta.

Para economistas, a realidade é que os instrumentos usados pelos governos se esgotaram. “Diante de altas dívidas, a política monetária parece ter uma tração limitada”, alertou Stephen King, economista-chefe do banco HSBC. “Com taxas de juros zero e depois de anos de iniciativas dos BCs, existem poucos sinais de que está ocorrendo um crescimento dos créditos na economia e é cada vez mais difícil de ignorar os ecos do Japão”, apontou.

“O crescimento da zona do euro foi frustrante em 2014 e o desempenho econômico nos próximos meses deve continuar baixo”, indicou o UBS, em nota aos investidores. O resultado tem sido o crescimento da percepção de que uma deflação pode atingir o continente, justamente como no Japão.

Para Stephen Fidler, da MarketWatch, existe apenas uma certeza em 2015: a Europa estará “um ano mais perto de completar sua década perdida”.

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