Crise nas escolas de samba: quanto mais luxo, menos força

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Por Luiz Antonio Simas, no Facebook – 

A crise explodiu e quem vive e pensa o carnaval das escolas de samba precisa encarar o assunto. Faço algumas observações, sintetizando impressões que tenho e sugerindo a urgência de um amplo debate público entre todos que vivem mergulhados nisso (afetivamente e profissionalmente, como é o meu caso).




1- As escolas de samba foram perdendo força , ao longo dos anos, enquanto os desfiles ganhavam aparato mais luxuoso.

2 – Parece um paradoxo, mas o dinheiro farto, ao invés de trazer potência, trouxe fragilidade naquilo que é mais sério numa agremiação: o fundamento de cada escola.

3 – Reiteradamente afirmo que a saída para as agremiações voltarem a ter potência criadora é tentar conquistar de volta o público de seus berços de origem; aquele do qual as agremiações se afastaram dramaticamente.

4- O sambódromo não é frequentado pela população, os ensaios de rua não suprem o desejo de se assistir ao desfile e os ensaios técnicos são quase as migalhas que sobraram (e que ainda assim mostram a centelha que poderia alimentar o fogo).

5- A prioridade do carnaval deve ser a da reconstrução das escolas de samba a partir daquilo que elas foram um dia: potentes instituições comunitárias e centros de circulação de saberes e sociabilidades forjadas em situações adversas.

7 -Na fase de bonança, as escolas criaram uma armadilha da qual não sabem como sair. A lógica do grande espetáculo tirou de cena o sambista e colocou no centro do palco, a reboque da supervalorização dos carnavalescos, coreógrafos, acrobatas, técnicos em efeitos especiais, homens voadores, atletas, rainhas de bateria, turistas, modelos, personagens midiáticos e celebridades de ocasião.

8 – O padrão “macumba pra turista”, emulando shows de cassinos de Las Vegas, paradas da Disney e filmes de ação hollywoodianos, tomou conta da lógica do espetáculo no século XXI e desprezou completamente as soluções imaginativas que marcaram parte da história do carnaval. O desfile hoje é pensado como um produto televisivo de segunda categoria.

9 – Com o dinheiro curto, este padrão espetacular é inviabilizado. As agremiações, todavia, parecem acreditar que fora dele não há salvação e se recusam a pensar em saídas que não sejam apenas financeiras, mas também estéticas.

10 – A cidade do Rio de Janeiro, saqueada pelos seus governantes, está quebrada. Do ponto de vista da economia do turismo, o carnaval de rua apresenta hoje um potencial de gerar circulação de capital e atrair turistas para a cidade muito maior que as escolas de samba.

11- As agremiações parecem não perceber que, como produto turístico, o carnaval de avenida está agonizando e insistem em tentar vender este produto moribundo que não interessa a quase ninguém.

12- O avanço neopentecostal no Brasil inteiro não vai atacar (ainda) diretamente o carnaval. O bonde da aleluia já sacou que é mais inteligente a estratégia de desidratar a festa e promover seu esvaziamento simbólico.

13 – A alternativa para as escolas de samba passa, a meu ver, pelo estímulo a soluções imaginativas inovadoras que apontem para o futuro e por um trabalho de arqueologia de fundamentos que se alicerce no tripé “inserção no território -prática cotidiana – desfile”.

14- A maior crise da história das escolas de samba não pede soluções paliativas; ela exige voos audaciosos que resgatem a ancestralidade, encarem os dilemas do presente e projetem perspectivas de futuro.

As agremiações estão dispostas a encarar a aventura da reinvenção ou preferem morrer ao vivo, depois do Fantástico?

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