Crise política e econômica: com Temer País recua 20 anos em dois

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Por Rosely Rocha, publicado no Portal da CUT –  

Dois anos após o golpe, o país regressa ao Mapa da Fome; bate recordes de desemprego e coloca em risco a soberania nacional com a venda de recursos naturais

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ALEX CAPUANO/CUT

Uma gafe do golpista e ilegítimo Michel Temer (MDB-SP) desmascara, mais uma vez, as tentativas do governo em transformar a realidade negativa em legado a ser comemorado.




O convite para a cerimônia de comemoração do aniversário de dois anos do golpe dizia: “O Brasil voltou, 20 anos em 2”.

Imediatamente, surgiram memes e críticas nas redes sociais. Sem a vírgula – “O Brasil voltou 20 anos em 2” – a frase dos marqueteiros escancarou a triste realidade do país pós-golpe.

O mal-estar na cúpula governista e na base aliada foi tão grande que o convite foi refeito e os marqueteiros tiveram que se explicar aos ministros golpistas.

E o que Temer disse é a mais pura verdade, que pode ser verificada pelos indicadores econômicos e sociais, que mostram enorme retrocesso desde que ele usurpou o poder.

O desemprego bate taxas recordes, milhões de brasileiros desistiram de entregar currículos e estão trabalhando por conta própria, quem conseguiu uma colocação não tem carteira assinada, nem sequer a garantia de quanto vai receber no fim do mês.

Isso é o verdadeiro 20 anos em 2

– Vagner Freitas, presidente da CUT

“Não há geração de emprego. Emprego é ter carteira assinada, benefícios, saber o quanto você vai ganhar no fim do mês. Hoje temos geração de “bico”. O patrão paga o que quer, sem carteira assinada, com contrato individual e sem a proteção de uma negociação sindical”, pontua o Vagner.

Desemprego recorde

Chegamos a taxa recorde de 13,1% de desempregoo que representa mais de 13,7 milhões de homens e mulheres desempregados – o dobro da taxa registrada no governo da presidenta Dilma Rousseff que, em dezembro de 2014, foi de 6,5%.

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Emprego precário

O desgoverno Temer também oficializou o “bico”. Entre 2016 a 2018, cerca de 1,7 milhão de trabalhadores e trabalhadoras perderam a carteira assinada – no total, já são 10,8 milhões sem registro em carteira.

Trabalho por conta própria

23,1 milhões de trabalhadores desistiram de procurar emprego e resolveram trabalhar por conta própria.

Reforma não gera emprego, tira proteção do trabalhador e precariza a contratação

Desde a reforma trabalhista já foram assinados  mais de 40 mil desligamentos via acordo feito entre patrão e empregado, sem a participação do sindicato – trabalhador que assina este tipo de acordo perde 20% da multa do FGTS e 20% do total que tem depositado em sua conta individual do Fundo.

Foram assinados também 12 mil contratos de trabalho intermitentes e 33 mil de tempo parcial.

INSS

A ampliação do trabalho precário e informal também trouxe mais prejuízos ao país, especificamente, no caixa da Previdência. O número de pessoas que contribuem para a aposentadoria caiu de 65,7% para 63,8% entre o primeiro trimestre de 2016 e os primeiros meses de 2018. A queda no rendimento médio real do INSS foi de 3,4%.

Para o presidente da CUT, esses fatos demonstram a falácia da propaganda de Temer que anuncia uma falsa recuperação do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo ele, entre 2015 e 2016, o PIB caiu quase 7%. E em 2017, teve um crescimento pífio de apenas 1%.

“Ele diz que o PIB cresceu, mas estava em zero, abaixo de zero não existe. Os economistas douram a pílula. Eu só verei recuperação da economia quando a vida do trabalhador melhorar”.

Indicadores sociais demonstram piora na qualidade de vida do brasileiro

E não é apenas o aumento do desemprego que tem piorado a vida do brasileiro. Os indicadores sociais demonstram que estamos voltando ao mapa da fome.

Somente no último ano quase 1 milhão de famílias deixou de receber o Bolsa Família, cujo valor é de, em média, R$ 177,00.

Parece pouco, mas este importante instrumento de distribuição de renda implementado no governo Lula tirou 44 milhões de brasileiros da miséria absoluta e colocou comida no prato do povo pobre.

Já Temer, em apenas um ano, colocou quase 1,5 milhão de brasileiros na extrema pobreza. Em 2016 eram 13.340.000 brasileiros vivendo na miséria. No ano passado, em 2017, o número subiu para 14.830.000.

Salário mínimo

Temer também acabou com a valorização do salário mínimo, que nos governos Lula e Dilma tiveram um reajuste, já descontada a inflação, de 77%.

Nem a Lei 13.152, de 2015, que reajusta o salário mínimo pela inflação, foi seguida pela equipe econômica golpista. Pelo segundo ano consecutivo, o piso nacional ficará abaixo da inflação.

Desde o dia 1º de janeiro, o salário mínimo passou a valer R$ 954, um reajuste de R$ 17. O aumento foi de 1,81% sobre os R$ 937 do ano passado – abaixo, inclusive, dos R$ 965 que o Congresso havia aprovado dentro da peça orçamentária para 2018.

O INPC chegou a 2,07%. Isso já havia acontecido em 2017, quando o mínimo havia sido reajustado em 6,48%, para um INPC de 6,58%.

Bancos têm lucros exorbitantes e Temer coloca nossos bens à venda por preço de banana

Nos governos Lula e Dilma, os bancos estatais como BNDES, Caixa e Banco do Brasil, tinham juros e taxas de manutenção menores que os bancos privados; e foram utilizados como instrumentos de investimentos para empreendedores e trabalhadores.

Para se ter uma ideia da falta de investimentos em setores essenciais para a recuperação econômica, cinco estatais brasileiras – BNDES, Caixa, Banco do Brasil, Eletrobras e Petrobras – tiveram, juntas, em 2017, lucro líquido de R$ 28,362 bilhões – 214,1% a mais do que em 2016, segundo o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão.

Em 2017, de todo orçamento previsto para investimentos das estatais, apenas 59% – R$ 50,4 bilhões – foi executado. Esse é o menor percentual desde 2000, quando foi executado 65,8% – R$ 10 bilhões -, segundo a série histórica do Ministério do Planejamento.

As estatais não têm cumprido o papel de indutoras do desenvolvimento, política que também dá lucro, mas não exorbitantes”, disse em entrevista ao Portal CUT, o professor e economista da Unicamp, Marcelo Manzano ao comentar esses números.

Os esforços do governo ilegítimo em privatizar setores estratégicos como petróleo, gás e energia têm demonstrado o pouco caso com nossos recursos naturais.

Enquanto em países, como os Estados Unidos, o setor elétrico é tratado como segurança nacional, aqui o sistema Eletrobras está prestes a ser vendido aos chineses.

“O que está em jogo são os interesses corporativos que propõem uma nova configuração e realinhamento da geopolítica mundial”, afirma Felipe Araújo, engenheiro civil da Eletrobras/Furnas e diretor da Associação dos Funcionários de Furnas (ASEF).

O dirigente alerta ainda para o controle sobre a água nas mãos de nações estrangeiras.

“Nossos reservatórios têm capacidade de se manter ativos, mesmo com a seca de quatro a cinco anos. Além disso, as hidrelétricas controlam os fluxos de água dos nossos rios e as águas subterrâneas, inclusive do Aquifero Guarani. Isso significa que daremos aos estrangeiros o poder de controlar não só a energia, a partir das hidrelétricas, como a irrigação das plantações e a água que bebemos”.

Para o consumidor resta apenas pagar.

Os trabalhadores e trabalhadoras já foram penalizados em 2017, com reajustes de, em média, 42,8% nas contas de luz, o que tem pesado muito no orçamento das famílias brasileiras.

O mesmo acontece em relação ao petróleo e gás com a Petrobras se transformando em exportadora de petróleo cru e abrindo mão do mercado interno de derivados.

Desde que anunciou sua nova política de reajustes, em julho passado, a gasolina já subiu 50,04% e o diesel 52,15%, nas refinarias.

A política da Petrobras quanto ao refino é clara. Tanto que a companhia já anunciou, em abril, que pretende vender 50% do capital de quatro refinarias. E o balanço da Petrobrás mostra que a companhia está cada vez menor.

Em relação ao gás de cozinha, o governo Temer, com os sucessivos aumentos, levou a população mais pobre a utilizar lenha e carvão na cozinha.

No governo Dilma, em janeiro de 2015, o botijão custava em média R$ 44 e hoje custa em acima de R$ 75.

De abril de 2017 a abril deste ano, o gás de cozinha subiu cinco vezes mais do que a inflação.

Com isso, a utilização do carvão ou lenha em substituição ao gás subiu de 16,1% para 17,6%.

Mais de 1,2 milhão de brasileiros deixaram de utilizar o gás de cozinha em 2017, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, divulgados no final de abril.

Os dados do IBGE revelam ainda que o aumento do uso de lenha ou carvão ocorreu em todas as regiões, com destaque para o Norte (alta de 16% ou 239 mil domicílios) e Sudeste (alta de 13% ou 244 mil domicílios).

Em números absolutos, o maior aumento foi no Nordeste, onde 411 mil domicílios passaram a usar os dois combustíveis, aumento de 10% com relação ao ano anterior.

Comércio fecha as portas

Já os empresários também não têm o que comemorar. Segundo pesquisa divulgada no início deste mês pelo Ibope Inteligência, em 2016, 108,7 mil estabelecimentos comerciais fecharam as portas, resultando na demissão de milhares de trabalhadores.

‘”Como as lojas vão vender”?, pergunta o presidente da CUT Vagner Freitas, ao lembrar que o trabalhador e a trabalhadora não têm como comprovar rendimentos, sem carteira assinada e com isso não têm acesso a um crediário e consequentemente o dinheiro não entra no comércio.

Para ele, o crescimento econômico anunciado pelo governo é falso.

“O que melhora a vida das pessoas é se elas estão levando para casa pão, farinha, carne e leite e, isto não está acontecendo no governo Temer”, conclui Vagner Freitas.

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