Por Washington Luiz de Araújo, jornalista
Vou falar aqui da amiga Cristina, de Paquetá. Muito já se falou, nestes últimos dias depois de sua partida, da Cristina Buarque. Vamos então de nossa amiga da Ilha de Paquetá.
Cristina que convivemos, eu e a companheira Carmola, mais amiúde na Casinha Amarela, mas também no Zaru, no Quintal da Regina, no Zeca’s, no Manduca e na sua casa, entre os gatos.
Gatos, que ficavam no seu portão, que passei a conhecer pelos nomes quando os fotografava nas manhãs com o cãopanheiro Açaí. Enviava a foto logo em seguida e ela os nomeava: Fu, Podó, Malu, Doum, Luisa, Damiana, Roque, Pafuncia…
Tentei ser discreto, feito Carmola, na companhia da Cristina. Justo eu que adora fotografar e gravar tudo, tuda, todos e todas. Acho que consegui, pois ela me aceitava à sua mesa e contava histórias cutucadas por mim, quando queria. Quando não, falava com os olhos que não estava afim.
Cristina que ia de vez em quando em casa e nós, para ela, trazíamos da Casinha Amarela as vermelhinhas da Brahma, pois me dizia não gostar de cerveja verde, ironizando o meu gosto. No calor, tomava banho no chuveirão do quintal.
Cristina que muito escreveu sobre o pitoresco da Ilha, numa série sem intenção de série que publicava, quando estava afim e inspirada, no seu Facebook, Maria Christina Ferreira. Paquetá Tem disso!
Cristina que, nas minhas contas, cantou pela última vez para uma plateia fechada, em fevereiro de 2024, na Casa de Artes em homenagem aos 115 anos do grande sambista Roberto Martins, pai do nosso igualmente artista e amigo Jorginho, que partiu também recentemente.
Acho que abriu exceção no que chamava de aposentadoria de apresentações por amor ao Jorginho e sua companheirissima Leila, a quem se tratavam de maninho e maninha.
Neste dia, Cristina cantou com o grupo do amigo Claudio Motta, o Bambo de Bambu, “O Teu Sorriso Tem”, de Roberto Martins e Wilson Batista. Estava muito feliz, a Cristina, vejam o vídeo abaixo.
Cristina, muito amada pela moçada do Terreiro Grande, grupo de samba de São Paulo com quem gravou (amor recíproco). Os sambistas, periodicamente, saiam em dezenas de Sampa para reverenciar a amiga em Paquetá (foto do post).
Me arrisco a dizer que o último texto da Cristina foi feito para o Julio Marques, amigo que partiu no primeiro dia do triste carnaval, para nós, deste ano.
Está no livro que organizamos com textos de amigos e amigas para o nosso “leão marinho movido a vapor e amor”. Spoiler, no final do texto, Cristina afirma: “Tô com muita saudade e qualquer hora a gente se encontra, sem nenhuma pressa. Um beijo, assinando Cristininhazinha.
Houve pressa de quem determina os nossos desígnios, se existe.
Enfim, segue bela e precisa definição do nosso amigo Maurinho, muito amigo da Cristina, sobre o qual ela dizia estar órfão do Bolão e do Julio. E agora, então?
“O grande barato de
conviver com Cristina,
é que você não aprende
coisas da vida que estão por aí,
mas você desaprende
coisas que nunca deveria ter aprendido nesta vida besta.
Viva a Cristininha!!!!”
Sei que muitos lembram do seu sucesso “Quantas Lágrimas”. de Manacea, mas vamos lembrar do sorriso de Cristina em “Seu Sorriso Tem”, de Roberto Martins e Wilson Batista.
Foto do post por Washington Araujo, no 12 de outubro de 2024. Homenagem do grupo Terreiro Grande a Cristina, em Paquetá. Cristina é a primeira do lado direito da foto, de frente para os músicos e público