Por Paulo Frateschi
Este foi sem dúvida um primeiro de abril deplorável. Mentiras aos borbotões, mentiras para falsear a história, mentiras para favorecer o capital e mentiras para enganar o povo.
Muita gente mentiu: generais, ministros, burocratas para ajudarem seus chefes a mentirem bem e, é claro, o presidente, sempre na dianteira, mentiu muito!
Mas o que me motivou a cometer esta crônica foi um sentimento de injustiça praticado com o nosso Pinóquio. Charges, Cartoons, gifs, memes, apresentando o desqualificado mandatário com enormes galhos, às vezes até brotando, grudados no focinho do sujeito, que pena!
A história do filho do Geppetto é fascinante e Pinóquio é um personagem apaixonante que quer viver e virar gente.
De um pedaço de pau, o velho entalhou um fantoche que pudesse pular e dançar. Assim nasce Pinóquio, ansioso para viver, gozar e se aventurar na vida.
Entra em todas. É atraído e atrai os desqualificados que encontra pelo caminho.
Começa a história traindo seu criador. Rejeita o grilo falante, que é sua consciência crítica, perde a fadinha azul, que é sua madrinha. Suas escolhas impõem sofrimento a seu pai, que quer proteger e salvá-lo.
Pinóquio é encrenca, é conflito, é busca. Um toco de pau feito marionete que quer viver e ser uma criança de verdade.
É bonita a passagem no livro que fala do crescimento do nariz do pequeno mentiroso. Pinóquio conta uma mentira para fada dos cabelos turquesa e seu nariz cresce imediatamente. Para justificar aquela mentira conta outra e o nariz cresce mais um pouco. Mais uma mentira e o nariz fica maior ainda.
Viu que a fada percebia suas mentiras e ficou envergonhado, chorou muito, pediu perdão, foi perdoado e voltou a errar.
Pinóquio abandonou a escola, caiu na farra e ganhou um lindo par de orelhas de burro. O boneco sofreu muito ao contrair uma febre asinina e virar um burrico de vez.
O livro de Carlo Collodi tem dezenas de histórias muito boas das aventuras de Pinóquio, o boneco de pau que virou criança e, como disse Italo Calvino, uma criança que hoje tem mais de 100 anos e faz parte do Imaginário cultural da Humanidade.
Pinóquio foi um narigudo que lutou para viver e foi um orelhudo que conseguiu mudar, e é
por isso que, quando vejo no traço do artista ou na montagem fotográfica um Bolsonaro representando o Pinóquio, sinto um grande mal-estar.
Bolsonaro é um mentiroso profissional. Ele mente para se dar bem, sem conflito pessoal, sem remorso, sem culpa e sem querer virar gente.
Colar o nariz do Pinóquio neste sociopata é enforcar o nosso boneco num Carvalho gigante
e anular todo o resto da história. Pobre Pinóquio!
O capitão será pego na mentira novamente, tenho certeza. Peço que daqui para frente procurem outro personagem para marcar e compará-lo.
Se quiserem ficar pela velha Itália, garanto que existem imagens de veras apropriadas como o “grande” Mussolini, imagem muito sugestiva para mentirosos opressores.