Por Fernando Morais , Nocaute –
As agressões, a maneira desrespeitosa com que Trump se referiu a Cuba, são, na verdade, uma cortina de fumaça para esconder o alvo verdadeiro do império americano: a maior reserva de petróleo do planeta que é a Venezuela.
O presidente Donald Trump anunciou hoje à tarde em Miami que vai anular os acordos assinados pelos presidentes Barack Obama e Raul Castro. O Trump falava para uma plateia em Miami que eu conheço bem. Para escrever o livro sobre os cinco cubanos que estavam presos nos Estados Unidos, eu passei dois anos viajando para Miami, fui umas quinze vezes para entrevistar essa gente, esse submundo. É uma máfia de traficantes de drogas, armas. E usam a alavanca, a gazua da contrarrevolução para sobreviver.
É grave o que o Trump anunciou, mas ele não anulou integralmente o que foi assinado entre Obama e Raúl. Por exemplo, os dois países mantêm relações diplomáticas e os familiares de cubanos que vivem nos Estados Unidos vão poder continuar viajando para Cuba. Mas há ameaças gravíssimas, por exemplo, suspender as viagens de cidadãos norte-americanos, que ainda eram limitadas. Para se ter uma ideia no passado inteiro, quase trezentos mil norte-americanos foram a Cuba. Este ano os trezentos mil estão chegando agora, no meio do ano. Então, a tendência é que isso fosse dobrar.
O Trump está fazendo isso, na minha opinião com dois objetivos: primeiro lugar é algo que é espantoso: ele está atendendo reivindicações da extrema, extrema direita cubana da Flórida, cubano-americana. O que é há de pior. Há pesquisas de opiniões públicas que foram feitas ao longo dos últimos meses que mostram que 75% da população norte-americana são a favor, não só dos acordos entre Obama e Raúl, mas sobretudo a favor do fim do bloqueio, que não acabou até hoje.
É uma provocação, evidentemente, não acho que isso vá avançar muito, mas eu temo que possa estar havendo aí aquele jogo de botar o bode na sala. Porque o Trump faz referências também à Venezuela.
Diz que os Estados Unidos têm obrigação de garantir a democracia na América Latina e citou Cuba, obviamente. Mas fez referências repetidas à Venezuela, dizendo que se não houver democracia na Venezuela, os Estados Unidos terão que intervir de alguma maneira. Olha, eles estão caçando encrenca, porque a Venezuela hoje, tem forças armadas coesas com projeto bolivariano. Segundo que é um exército muitíssimo bem armado.
A Venezuela tem hoje, por exemplo, 36 caças bombardeios Sukhoi Su-30 russos, que são capazes de, decolando de Caracas, chegar em pouco mais de uma hora e bombardear Washington ou Nova Iorque. É muito ruim, é uma ameaça que afeta todo o mundo essa arrogância, essa volta da política imperial dos Estados Unidos na América Latina.
Mas eu insisto nisso, me parece que as agressões, a maneira desrespeitosa com que Trump se referiu a Cuba, na verdade, isso é uma cortina de fumaça para esconder o alvo verdadeiro do império americano: a maior reserva de petróleo do planeta que é a Venezuela. Vamos ficar de olho.
Veja a íntegra do discurso de Trump: