Por Eliza Chaves, Facebook –
Quando eu vim pra Juiz de Fora, eu fui morar num bairro de periferia.
Meus filhos eram todos pequenos.
E no dia seguinte veio uma vizinha que morava em frente a minha casa falar comigo, olha já vi que vc tem muitas crianças, então venho te alertar sobre um garoto daqui da rua.
O moleque é um marginal, ladrão, atentado, só fala palavrões, vive quebrando as vidraças dos vizinhos, não deixe que seus filhos se aproximem dele.
Como não conhecia ninguém no bairro, agradeci a ela pelo alerta.
O garoto era um menino de mais ou menos dez anos, negro, não tinha mãe, e era criado por uma tinha.
E era o terror da rua.
Vou chamá-lo de “João”.
Pois bem, a primeira criança da rua que meus filhos fizeram amizade foi com ele, o João, como eu já havia sido alertada e já sabia toda a “ficha criminal” dele pedi aos meus filhos para trazê-lo em casa.
Quando ele chegou eu disse a ele, olá João, tudo bem com você?
Ele ficou meio arredio, desconfiado, não estava acostumado a ser bem recebido na casa de ninguém.
Então eu disse, seja bem vindo, fiquei sabendo um monte de coisas a seu respeito, mas como sei que é tudo mentira, que você é um garoto legal, vou aceitar que você seja amigo dos meus filhos, aqui não temos o costume de falar palavrões, nem de mexer nada de ninguém, como sei que você também não, você pode frequentar a minha casa a hora que você quiser.
Gente não imaginam a carinha e o brilho no olhar dele, daquele dia diante ele e meus filhos viraram amigos inseparáveis, ele passava quase o tempo todo minha casa, estudava com meus filhos, eu os ensinava fazer os deveres, e nunca mais no bairro ninguém o chamou de marginal e ele nunca mais falou palavrões.
Cresceu junto com meus filhos, hoje é um homem de bem, trabalhador, é casado e tem uma filhinha linda.
E apesar de termos mudado do bairro ele é amigo dos meus filhos até hoje!!
Se ele tiver lendo essa história ele vai se reconhecer nela.
Só contei isso aqui, porquê muitas vezes, nós não temos um olhar mais humano por uma criança, principalmente se for negra e orfã, já rotulamos como bandidos, é essa criança acaba se tornando aquilo que a sociedade queira que ela seja.
E quando adulto ela vai devolver a sociedade esse mesmo tratamento.
Então cuidado, a criança de hoje é o adulto de amanhã, e ela vai te tratar da mesma forma que você a trata hoje.
