Currículo Lattes tem nova seção para cientistas informarem nascimento ou adoção de filhos

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Por Carla Lencastre, compartilhado de Projeto Colabora – 

Expectativa é que o período de licença-maternidade seja considerado na avaliação da produtividade acadêmica

O currículo na plataforma Lattes, fundamental para a vida acadêmica, tem uma nova seção a partir de 15 de abril de 2021. Em decisão histórica, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) criou espaço para que seja registrado período de licença-maternidade. Na prática, a pausa para cuidar de filhos recém-nascidos não será mais considerada uma lacuna no currículo Lattes e deve passar a ser compensada na avaliação de produtividade.




Fazer com que a maternidade deixe de ser um obstáculo na carreira científica é uma grande conquista. Mas o projeto Parent in Science vai além de tornar mais justas as avaliações de quem ficava para trás por ser mãe, como explica a autora, Fernanda Staniscuaski:

“Além da compensação prática, o projeto tem o significado maior de tirar da invisibilidade a questão da maternidade. Que deveria ser parentalidade, mas, infelizmente, esta ainda não é a realidade do Brasil. Por isso, por enquanto falamos de maternidade. Porque não há como não falar de uma parte tão importante da vida e que tem impacto direto na carreira”.

Filhos no Lattes: editais adotam compensação por licença-maternidade

Docente de biociência da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pesquisadora do Centro de Biotecnologia da mesma universidade e mãe de três filhos, Fernanda chama a atenção para a importância de o período de licença-maternidade fazer parte do currículo Lattes:

“Não dá para considerar a produtividade de uma cientista sem levar em conta a pausa na carreira. Mas não basta ter espaço para filhos no Lattes. A informação não pode ficar perdida ali como um enfeite de currículo. Ela precisa ser levada em conta em todas as avaliações”.

Nos últimos anos, no exterior e no Brasil, editais de financiamento de pesquisas e bolsas de entidades de apoio à ciência, como os da Faperj e da Fapergs, começaram a considerar os períodos de licença-maternidade ou até mesmo qualquer outra questão pessoal que tenha influenciado diretamente a produção acadêmica. Em 2021, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) adotou na seleção de mestrado um cálculo diferente de pontuação para mães com filhos de até 5 anos.

Filhos no Lattes: camisetas da campanha Parent in Science
Camisetas da campanha do projeto Parent in Science com os nomes dos filhos das cientistas | Montagem de Raphael Monteiro com fotos de divulgação

Parent in Science: como surgiu o projeto de incluir os filhos no Lattes

Fernanda Staniscuaski começou a pensar no Parent in Science em 2015, quando teve o segundo filho. Foi uma longa gestação. O projeto de pesquisa só veio a ser apresentado pela primeira vez em 2017, para um grupo pequeno de cientistas próximos.

“Reproduzi internamente vários preconceitos, achando que ninguém se interessaria. Mas em 2018 aconteceu uma revolução. Muita gente se engajou e as consequências vieram”, conta.

Em julho de 2018 várias entidades científicas, como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), assinaram um pedido formal para que o CNPq criasse um campo no Lattes para informar a licença-maternidade. No ano seguinte o CNPq chegou a anunciar que iria incluir um tópico para as datas de nascimento ou adoção dos filhos, mas a ideia não foi adiante. Em outubro de 2020 o Parent in Science fez uma campanha nas redes sociais com cientistas usando camisetas com os nomes dos filhos. Em 2021 o CNPq finalmente marcou 15 de abril como a data para a inclusão do campo licença-maternidade.

Próximas bandeiras: licenças de alunas e inclusão de pais de deficientes

O Parent in Science reúne 90 pessoas em todo o Brasil, sendo 87 mulheres e três homens. No núcleo central, liderado por Fernanda, são 18 cientistas. Os outros grupos são regionais e fazem a ligação entre as diferentes realidades do país. O 15 de abril de 2021 é um dia marcante para o projeto, mas Fernanda ressalta que há outros pontos importantes a serem discutidos sobre parentalidade na vida acadêmica. Ela cita estimativas baseadas em dados da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) que indicam que na pós-gradução 30% dos alunos e 75% dos docentes têm filhos:

“As instituições de ensino e pesquisa precisam sistematizar esses dados. Na questão da licença-maternidade, temos ainda o problema das discentes. Muitas universidades não concedem licença durante o mestrado. É uma demanda urgente, uma bandeira que vamos adotar a partir de agora. Outra situação de grande repercussão na produtividade acadêmica é a invisibilidade de pais e mães de filhos com deficiência. Este é um problema mundial, e não apenas brasileiro. Há escassez de dados. Precisamos gerar estes números para entender o impacto da parentalidade atípica na carreira e pensar em ações práticas”.

Na foto: Filhos no Lattes: CNPq abre espaço no currículo para que cientistas registrem licença-maternidade | Foto Pixabay

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