Central critica manutenção de juros altos e denuncia postura do BC como contrária ao projeto de desenvolvimento nacional defendido pelo governo Lula
na foto: Gabriel Galípolo e Roberto Campos Neto (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
247 – A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa básica de juros (Selic) para 14,75% continua gerando forte reação entre setores da sociedade civil organizada. Em nota pública divulgada nesta quinta-feira (8), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) expressou “veemente repúdio” à decisão do Banco Central, classificando-a como contraditória frente ao atual cenário econômico e como um obstáculo direto à agenda de reconstrução nacional conduzida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para a entidade, a elevação dos juros em 0,5 ponto percentual demonstra que, mesmo com a mudança no comando da autoridade monetária — agora liderada por Gabriel Galípolo — a lógica da gestão anterior, encabeçada por Roberto Campos Neto, permanece intacta. “A decisão do Copom revela que a mudança do presidente do Banco Central para o comando de Gabriel Galípolo não mudou a visão predominante naquela instituição nos últimos anos”, afirma a CUT no documento.Play Video
A Central critica duramente o que chama de “política monetária asfixiante”, apontando que ela privilegia interesses financeiros em detrimento do desenvolvimento nacional. A nota denuncia o efeito regressivo dos juros elevados, que drenam recursos públicos — que poderiam ser destinados a áreas essenciais como saúde, educação e infraestrutura — para o pagamento da dívida pública e para a remuneração de rentistas. “A Selic elevada torna-se um mecanismo de transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos”, diz o texto.
A CUT argumenta que a elevação da Selic, desde setembro de 2024, já acumula 4,25 pontos percentuais, passando de 10,5% para os atuais 14,75%. Com base em estimativas do próprio Banco Central, isso representa um impacto adicional de cerca de R$ 212,5 bilhões por ano no custo da dívida pública. Para a Central, esse valor “pressiona o déficit primário” e impõe mais restrições orçamentárias ao governo.
A entidade sindical também aponta para a exclusão dos trabalhadores na formulação da política monetária brasileira. Segundo a CUT, a atual composição do Copom — formado exclusivamente por membros do Banco Central — é uma estrutura que favorece uma lógica de mercado, sem contrapesos sociais. “É urgente que o Senado Federal e a sociedade civil ampliem o debate sobre a composição do Conselho de Política Monetária, que não conta com representação dos trabalhadores e das trabalhadoras”, afirma.
Por fim, a CUT defende a revogação da autonomia do Banco Central e o realinhamento da política monetária aos interesses populares e ao desenvolvimento sustentável. “Reconstruir o Brasil exige enfrentar o poder dos banqueiros, que recebem lucros bilionários em detrimento dos interesses da maioria da população brasileira”, diz a nota, reafirmando que a Central e suas entidades filiadas seguirão mobilizadas pela redução dos juros e pela democratização da política econômica no país.
Íntegra da nota da CUT
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) manifesta veemente repúdio a mais uma decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa básica de juros (Selic), desta vez para 14,75%, em clara contradição com as necessidades urgentes de reconstrução econômica e social do país. Enquanto o governo do presidente Luíz Inácio Lula da Silva avança na redução da inflação, no fortalecimento do real, na geração de empregos e na aprovação de reformas estruturais, o Banco Central insiste em uma política monetária asfixiante, privilegiando interesses financeiros em detrimento do desenvolvimento nacional e dos interesses do povo brasileiro.
Em um contexto de desaceleração inflacionária e da menor taxa de desemprego em oito anos, a decisão do Copom revela que a mudança do presidente do Banco Central para o comando de Gabriel Galípolo não mudou a visão predominante naquela instituição nos últimos anos. A medida não se justifica técnica ou economicamente, mas integra uma estratégia que se coloca na contramão do que tem priorizado o governo do presidente Lula e das demandas sindicais históricas: a retomada de investimentos públicos, a valorização do salário mínimo e a redução das desigualdades. A manutenção dos juros nas alturas, agora agravada pelo novo aumento, drena recursos vitais dos cofres públicos — que poderiam ser destinados à saúde, educação e infraestrutura — para remunerar a especulação com uma dívida pública que cresce substancialmente todas as vezes que a taxa Selic é elevada, beneficiando apenas os rentistas.
O aumento de 0,5% na taxa SELIC tem impactos significativos sobre a dívida pública brasileira, principalmente porque essa taxa é o principal ponto de referência para os títulos públicos indexados a ela. Estima-se que cada ponto percentual de aumento na Selic eleva o custo da dívida pública em aproximadamente R$ 50 bilhões por ano, segundo dados do próprio Banco Central. Considerando que a Selic subiu de 10,5% em setembro de 2024 para 14,75% em maio de 2025, um aumento de 4,25 pontos percentuais, o impacto adicional no custo anual da dívida pode ser estimado em cerca de R$ 212,5 bilhões. Um aumento na taxa eleva os juros pagos pelo governo para rolar a dívida existente, o que pressiona o deficit primário, já que o governo precisa arrecadar mais ou cortar gastos para cobrir o maior custo da dívida.
A taxa Selic elevada torna-se um mecanismo de transferência de renda dos mais pobres para os mais ricos e inviabiliza o crédito acessível para famílias e pequenas empresas, estrangula o consumo interno e freia a geração de empregos formais. Enquanto trabalhadores e trabalhadoras enfrentam o custo elevado do crédito ao consumidor, o sistema financeiro acumula lucros recordes. É urgente que o Senado Federal e a sociedade civil ampliem o debate sobre a composição do Conselho de Política Monetária, que não conta com representação dos trabalhadores e das trabalhadoras, de forma que banqueiros aproveitem da autonomia do Banco Central para tomadas de decisões desconectadas do interesse nacional. A política monetária precisa estar alinhada ao combate às desigualdades, com juros menores, crédito direcionado a setores estratégicos e controle social sobre as metas inflacionárias. Reconstruir o Brasil exige enfrentar o poder dos banqueiros, que recebem lucros bilionários em detrimento dos interesses da maioria da população brasileira e do desenvolvimento sustentável do país.
A CUT e suas entidades filiadas seguem em campanha permanente pela redução da taxa de juros e pelo fim da autonomia do Banco Central. O momento é unir esforços contra esse golpe silencioso contra o país e lutar para garantir que a economia sirva ao povo brasileiro e não à especulação. Seguiremos vigilantes e mobilizadas em defesa dos direitos da classe trabalhadora e por um projeto de desenvolvimento que garanta emprego, renda, comida e dignidade para todos e todas.