D. R. social

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Por Anamaria Leme – 

Está ficando cada vez mais difícil rir dos “erros” dos”coxinhas”, dos “petralhas”, “dos evangélicos”, “dos…” Dizer “bem feito” a cada tombo do “opositor”… Porque “coxinhas”, “petralhas” e todos os outros, nada mais são do que pessoas que fazem parte da mesma sociedade, no nosso caso, somos brasileiros.




Quando um se arrebenta, temos um pedaço da nossa sociedade que se arrebenta, nos arrebentamos todos nós.

Cada dia tem mais gente em dúvida a respeito das próprias convicções. Não tem sido fácil mesmo vermos desmoronar o que acreditamos, por um lado TV e os principais jornais reforçando uma única versão, por outro as pessoas contra-atacam na internet mostrando novos dados, alguns incontestáveis.

Escândalos “vazam” na hora que forem convenientes para alguém . Nossas convicções tão sólidas vão virando um queijo suíço. E vai se fazendo a necessidade de se proteger do ridículo de ter acreditado tão firmemente em algo que se mostra depois tão mentiroso, sórdido, ardiloso.

Talvez a solidez da informação venha exatamente dessa nossa forma de ver também tão hermética. Aquilo que tem uma única versão é sempre perigoso, não tem nuances, não tem permeios.

Também versões únicas dividem, porque se eu não acreditar somente nisso, acabou. Não tem argumentação possível: ou é burro, imbecil, ignorante, velho, novo, petralha, coxinha… ou seja, é um distante inacessível e inimigo.

Como se fosse possível isolar-se. Ainda que um viva na Zona Sul, e outro na Zona Norte, ainda que seja rico, outro pobre, ainda que um não visite o outro e nem o conheça, o que acontece na área de um influencia o todo e desta forma, o todo a influencia todas as áreas.

Uma ilustração que me vem à cabeça é uma foto 3D, ou uma holografia. Para serem feitas, elas tem que ter várias câmeras a partir de vários lugares diferentes apontando para um só ponto. Só é possível construir um todo, se olhar a partir de vários lados.

Reforçar a vergonha do outro, acusar pelo suposto erro pode até ser divertido, lava a alma, reforça nossa posição, alivia, porém, na prática é uma coisa que não leva a lugar nenhum, senão ao reforço da divisão: vermelho/azul, petralha/coxinha, rico/pobre, preto/branco, homem/mulher, velho/jovem… etc. etc. etc.

Até porquê, se tem alguém que pode dizer com certeza que sabe o que acontece nos bastidores do nosso país, me apresenta, nem que seja para poder contar pros outros que eu conheci.

A gente sabe só o que permitem que a gente saiba. O resto, fica guardado na manga para quando for útil. Aparece quando quiserem que apareça. Acreditaremos no que quiserem que acreditemos, porque vão garantir isso com os meios de comunicação.

Me parece que o nosso comportamento de embate, este, sim, faz cada vez menos sentido e nos impede de ver o todo. Pode ser que esta, além da minha visão, seja a versão de alguns.

Sabemos que não tem santo nessa história. Se queremos nos enxergar como sociedade, temos que nos olhar de vários pontos com um pouco mais de empatia, com um pouco mais de vontade de saber quem realmente está ali na frente e o que tem a dizer sem medo de tomar cacetada.

Enquanto formos divididos, vai ser muito difícil darmos conta dos abutres.

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