Por Enio Squeff, Ateliê Squeff, Facebook –
Depois do tsunami de denúncias de corrupção devidamente publicadas e apregoadas aos quatro ventos, fica a suposição de que a opinião pública brasileira talvez merecesse saber “quem não consta da lista” que o ministro Fachin deu a público. Teríamos consciência que o que é uma regra, entre os brasileiros, de que “todo o político é ladrão” – tem lá também as suas exceções. Mesmo assim, chamam a atenção o teor da denúncia contra dois políticos. No caso de Fernando Henrique Cardoso, restou a declaração do decano da direção da Odebrechet de que pagou propina ao ex-presidente. E, em relação a Lula, pelo que se soube de um dos maiores torturados da Lava Jato, Marcelo Odebrechet – ele “ouviu dizer” que Lula, o ex-presidente petista, teria recebido algum. O que não impediu, aliás, é bom registrar, que a Globo transformasse o “ouvir dizer” em manchete. E como fato consumado.
Ou seja, estamos exatamente no mesmo trote. O fato, porém, de no meu bairro, Pinheiros ( e parece que no Brasil),, não terem se ouvido panelaços no programa do PT, que antecedeu o Jornal Nacional, talvez também merecesse uma reportagem. Mistério. Como explicar que ao programa do partido “mais corrupto”do Brasil” não se seguissem as vaias e o retinir de panelas que ainda ontem retumbavam pelo país inteiro?
Há momentos em que o silêncio diz tudo.
No entanto, a destruição do Brasil – sem exageros – parece seguir a todo o vapor. Não bastasse a venda do pré-sal – alguém poderia explicar qual a vantagem de abrir mão de uma riqueza em nome de uma ideologia, a neoliberal? – vem aí a licença para que o mundo compre o território brasileiro, e assim se complete a alienação do País. E tudo sob os olhos complascentes não só de parte dos brasileiros – mas a completa, a absoluta passividade não apenas do combalido sistema jurídico, mas também dos políticos e, enfim, mas não finalmente, das Forças Armadas. Arisco que o atual governo as estão tornando cada vez mais dispensáveis.
País estranho o Brasil. É um dos mais violentos do mundo (60 mil assassinatos por ano ), mas não se registram violências políticas, em bloco, ou seja revoluções, em momento algum de nossa história.
Uma das incógnitas da nossa existência como nação.
Há um livro – que eu não li – mas que trata literalmente do fracasso de certos países como nações. Recuso-me a listar o Brasil entre eles. Mas depois de tantos protestos de rua, cuja história ainda deverá ser minuciosamente contada, parece que seguimos o pior do ramerrãi da braveza: a mais cordeira passividade.
A história de que o Brasil não seria um país sério – contada e recontada como de autoria do general De Gaulle, ex-presidente francês – na verdade, nunca teria partido do também herói da Segunda Guerra. Foi uma frase escapada da boca do embaixador brasileiro na França de mais de 50 anos atrás. Ele tentava explicar o que ficou conhecido como “Guerra da Lagosta: – uma das pataquadas de Jânio Quadros, então presidente do Brasil: ele interceptou com navios de guerra nacionais, a pesca de lagosta nas costas brasileiras perpetradas então por embarcações francesas. Derrisório.
Não ser sério, contudo, até que nos cabe um pouco; é melhor não ter o siso que os que reclamam sermos de muito riso. Mas agora o significado da falta de seriedade avulta como estupidez. Estamos perigosamente mais perto de deixarmos de não ser um país sério, para nos tornarmos um país de imbecis, apesar de mantemos instituições – como justiça, forças armadas e parlamento (não se fale de presidência da república (?) que isso a gente sabe não ter compromisso algum com o Brasil), que não servem pra coisa alguma.
Como dizia sobre os gaúchos, o poeta pernambucano Ascenso Ferreira – e é fácil mudar a reflexão para “Brasileiro”:
“Riscando os cavalos/ tinindo as esporas/través das coxilhas/Sai de meus pagos em louca arrancada/ “para que? “/ “pra nada”.