Daniel Valença rejeita entrevista à Veja sobre a Bolívia: Seria compactuar com ataques a Evo

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Publicado em Viomundo – 

Daniel Valença é professor do curso de Direito da Universidade Federal do Semiárido (Ufersa) e autor do livro De Costas para o Império: o Estado Plurinacional da Bolívia e a Luta pelo Socialismo Comunitário.




Daniel resume-o:

O livro aborda a formação social da Bolívia, onde os conquistadores impuseram uma sociedade fundada na superexploração do trabalho indígena, ausência democrática e voltada para irrigar economicamente as potências mundiais.

Primeiro, a Espanha, depois, a Inglaterra e, ao longo do último século, os Estados Unidos.

Após as guerras do Gás e da Água, no início da década de 2000, camponeses, indígenas e operários começaram a tecer, pela primeira vez, um projeto político autônomo, expõe Daniel.

Esse projeto político se materializou no Estado Plurinacional, na condução das áreas estratégicas pelo Estado e numa disputa de hegemonia em que o bloco camponês-indígena popular cria meios de comunicação, organizativos, etc.

Em termos econômicos e sociais, eles avançam como nenhum outro país no continente. Proclamam estar construindo um socialismo comunitário.

Porém, não avançaram na socialização dos meios de produção e no trabalho associado.

Nessa quarta-feira,16/10, ele recebeu o e-mail abaixo de um repórter da revista Veja.

 

Depois de muito matutar, Daniel decidiu não ”conversar” com o repórter de Veja.

O professor postou negativa em uma rede social:

A Bolívia passou por cerca de 200 golpes de Estado, uma ditadura sanguinária durante o ciclo de ditaduras civil-militares no continente.

Por quase vinte anos de “democracia pactada” durante o neoliberalismo vigorou um sistema que determinava ser o congresso competente para nomear o presidente, caso nenhum dos candidatos atingisse mais de 50% dos votos da população.

No início do século 21 ante à tentativa de privatização do gás e da água, camponeses, indígenas, trabalhadores reagiram, e o Estado boliviano assassinou quase cem manifestantes.

Ao ganhar, Evo Morales convocou uma constituinte democrática, nacionalizou o gás e criou empresas estatais para setores estratégicos, como aviação, telecomunicações, dentre outras.

Nesta última década, a Bolívia é o país que mais cresce na América Latina.

A extrema pobreza caiu de 38% para 15%. O analfabetismo foi erradicado e o governo Evo Morales está criando um Sistema Único de Saúde, etc.

Porém, nada disto nunca apareceu na linha editorial de Veja.

Não posso, portanto, colaborar com a revista. Isso significaria compactuar com ataques a um processo que, pela primeira vez na história, pode permitir que este povo se veja próximo a superar a exploração sofrida por séculos.

Atenciosamente,

Daniel Valença

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