Daniela Arbex: “A gente não publica denúncia, a gente apura a denúncia”

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Por Maria Frô, Portal Fórum – 

Assisti todo o programa em que a jornalista Daniela Arbex foi entrevistada no Espaço público. A entrevista foi tão interessante que na hora fiz uma foto da tv e coloquei nas redes sociais na esperança que mais alguém ouvisse e refletisse sobre jornalismo investigativo com a qualidade do trabalho de Daniela. Por isso foi muito bom encontrar o programa na íntegra no youtube que reproduzo ao final deste post.

Daniela Arbex tem mais de vinte prêmios nacionais e internacionais no currículo, entre eles três prêmios Esso, o americano Knight International Journalism Award (2010) e o prêmio IPYS de Melhor Investigação Jornalística da América Latina (2009). Jovem, talentosa e responsável, Daniela traz uma lufada de bom senso ao jornalismo que cedeu aos patrões e não informa nada, reduziu-se a fazer política pequena.

Daniela Arbex: “A gente não publica denúncia, a gente apura a denúncia”




Com poucos recursos, trabalhando na Tribuna de Minas, em Juiz de Fora, um jornal pequeno no interior de Minas Gerais, fora do eixo Rio-São Paulo, Daniea faz um jornalismo de primeiríssima linha, evita o denuncismo vazio: “A gente não publica denúncia, a gente apura a denúncia”. Evitando o jornalismo declaratório, fazendo investigações acuradas, o resultado são matérias informativas riquíssimas e ainda boas obras como os livros Holocausto Brasileiro e Cova 312. Durante a entrevista ela falou de ambos e teceu ainda comentários sobre o fazer jornalístico e nossa atual conjuntura.

Cova 312 conta a história de Milton Soares de Castro, um militante da Guerrilha do Caparaó, assassinado durante a ditadura militar no Brasil. Com seu trabalho investigativo, Daniela reconstitui a vida do jovem pobre e idealista Milton Soares, de seus companheiros e de sua família desde o desaparecimento até o descobrimento de seu corpo, na anônima Cova 312 que dá título ao livro, revelando como as Forças Armadas mataram pela tortura um jovem militante político, forjaram seu suicídio e sumiram com seu corpo.

Diante do discurso de ódio nas redes e nas ruas, a jornalista comenta: “Eu sempre me dediquei à defesa dos direitos humanos. A gente precisa dar voz a esses silenciados e a gente não pode deixar que esse discurso do ódio tome conta ou nos impeça de agir”.

Daniela aponta que há uma resistência dos jovens para se informar sobre a ditadura militar no Brasil, nossos jovens desconhecem o tema apesar de vários livros sobre o assunto, há ainda muitas histórias ocultas sobre esse período: “Eles não se interessam pela nossa memória, pela história recente do Brasil. E isso é um perigo porque acabamos reproduzindo esses modelos que levamos tanto tempo para vencer, como pedir a volta da ditadura, como dizer que ‘bandido bom é bandido morto’” A Ditadura “não é uma história que todo mundo já contou, tanto é que temos 434 mortos e desaparecidos [políticos] pelo país. Então, é puro desconhecimento”.

Mas quando os jovens são informados, descobrem as histórias eles ficam impressionados. Teríamos certamente menos jovens desfilando nas micaretas reacionárias atuais pedindo a volta da ditadura militar se o trabalho com a memória em nosso país tivesse sido realizado. Para a jornalista seria necessária uma mobilização permanente para apuração e punição dos crimes cometidos na ditadura, como ocorreu em outros países da América do Sul, para que as pessoas tenham a consciência sobre os danos causados pelo regime: “A nossa mobilização começou muito tarde, em relação a formar uma comissão para investigar [os crimes da ditadura]. A primeira tentativa de fazer uma CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] foi em 1995, muito tarde. A Argentina nunca se desmobilizou, essa busca pelos seus mortos e desaparecidos é permanente”. “Não houve nenhum ajuste de contas [julgamentos, no Brasil]. Temos uma lista com mais de 300 torturadores, essa lista foi divulgada [pela Comissão Nacional da Verdade] e ficou por isso mesmo. Poucos torturadores foram chamados e foram ouvidos”

Durante a entrevista Daniela falou também de seu best-seller, o “Holocausto Brasileiro”, que conta a história de ex-internos, familiares e funcionários do Hospital Colônia, em Barbacena (MG), um dos maiores manicômios do Brasil e precursor no movimento da reforma psiquiátrica no país. A alimentação precária, falta de higiene e sem cuidados médicos daquele hospital colônia provocaram a porte de 60 mil internos.

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