Danos ambientais são irreversíveis, avalia ambientalista

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Por Augusto Franco, O Tempo – 

Rejeito de mineração funciona como ‘cimento’, e vai acabar com a pesca em grande parte da calha do rio, segundo Marcus Vinícius Polignano, coordenador do Projeto Manuelzão

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Rio Doce se transforma em lamaçal

Os danos ambientais em consequência do rompimento da barragens de rejeitos na localidade de Bento Rodrigues, em Mariana, serão permanentes e vão acabar com a pesca em parte dos rios Guaxalo do Norte e Rio do Carmo, que desaguam no Rio Doce.

O próprio Rio Doce, por sua vez, também pode ser afetado pelo grande volume de lama de rejeito da mineração, e terá a vida aquática comprometida.




A avaliação é do coordenador do Projeto Manuelzão, Marcus Vinicius Polignano. O projeto ambiental, ligado à Universidade Federal de Minas Gerais, monitora a atividade econômica e seus impactos ambientais nas bacias hidrográficas dos principais rios mineiros.

Segundo Polignano, o rompimento das barragens da Samarco no distrito de Bento Rodrigues é, sem dúvidas, a maior tragédia ambiental da história de Minas Gerais. Isso porque, além de destruir totalmente o povoado, a lama que estava represada pode inviabilizar a pesca em uma área enorme.

O ambientalista explica que a lama de rejeito de mineração não é tóxica, mas isso não significa que seus efeitos não sejam danosos. Segundo ele, a natureza do material, a sílica (tipo de areia) misturada à lama rica em ferro funciona, na prática, como uma espécie de ‘cimento’.

“Esse material é inerte, e nele não nasce praticamente nada. Ele recobre o leito e as reentrâncias e pedras do fundo do rio, mudando radicalmente todo o ecossistema”, destaca.

O resultado da camada de ‘cimento’ sobre o rio é que, além de matar peixes, algas, invertebrados, répties e tudo o que recobriu, a lama acaba com os locais onde estas espécies se abrigavam e reproduziam. Buracos em pedras, altos e baixos do rio são aplainados e recobertos com o material viscoso.

O leito do rio se torna praticamente estéril.

“Sabemos que muitas espécies de peixes sobem para as nascentes para se multiplicar. Agora essas nascentes estão recobertas de lama”, diz.
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Outro problema grave é que a lama chegou até a foz do rio, no Espírito Santo. Isso significa que o Rio Doce pode ter consequências em toda a sua extensão. “Essa tragédia chegou a 400 quilômetros do ponto de origem. Levaremos anos para compreender melhor efeito devastador desse acidente, mas seguramente eles serão muito graves”, diz Polignano.

Pequenos agricultores também serão afetados

Além do leito do rio, nos locais onde a margem foi recoberta com lama, é muito difícil que as roças de pequenos agricultores sejam retomadas.

Tradicionalmente, as áreas de várzea são onde o solo é mais rico para a agricultura, por ter mais matéria orgânica. Essas áreas, recobertas, perdem seu potencial de produção. Em muitos casos, retirar a lama com enxada ou mesmo maquinário pesado pode ser inviável.

“É importante ressaltar que, quanto mais próximo do acidente, maior o impacto da lama. Mas é inegável que haverão consequências para os moradores de toda a extensão do rio”, afirma o ambientalista.

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