Por Fernando Brito, publicado em Tijolaço –
A inusitada pesquisa “Paraná Pesquisas/Ricardo Noblat” (porque o colunista diz que o Instituto colocou perguntas a seu pedido) repete o óbvio que ninguém quer publicar.
Três quartos dos brasileiros consideram ilegítima a permanência de Michel Temer na Presidência da República: 62% querem novas eleições e 11% desejam a volta de Dilma.
É tão óbvio que, semana passada, o diretor do Paraná Pesquisas prometia desmentir o Datafolha e seus “50% querem a permanência de Temer”.
Muita gente boa acha que o episódio da fraude do Datafolha possa estar encerrado porque a ombudsman do jornal assumiu que “a Folha errou e persistiu no erro“.
Não foi um simples erro, mas uma deliberação de omitir, e já se disse ontem isso aqui.
Agora, darei as provas documentais.
Mesmo aceitando as explicações de que colocar o relatório inteiro disponível no site do Datafolha no dia 17, o domingo em que se publicaram os resultados das pesquisas sobre Temer e Dilma, o que foi feito mostra que houve deliberada intenção de omitir.
Dois arquivos PDF foram colocados no site do Datafolha no dia 18, ambos produzidos com a assinatura eletrônica mguerreiro no programa que gera arquivos PDF. Ao que tudo indica, é a assinatura do analista do Datafolha Marcel Guerreiro – que, registre-se, não necessariamente é o autor deles, pode ter sido usada por outro funcionário, em sua máquina.
O primeiro, media.folha.uol.com.br/datafolha/2016/07/18/av_presidente_michel_temer.pdf tem 110 páginas e as perguntas 11 e 14 e dois parágrafos sobre o desejo da maioria por novas eleições e sua opinião sobre a legalidade do processo de impeachment.
O segundo é o mesmo arquivo, gerado a partir da mesma planilha Excel – Av. presidente Michel Temer.xlsx – com 13 páginas a menos, que levou, ao final do nome, um “versão 2”: media.folha.uol.com.br/datafolha/2016/07/18/av_presidente_michel_temer_v2.pdf.
Os dois arquivos, por provirem do mesmo, acusam a mesma data de criação, o dia 18, às 9:46h, hora da conversão do Excel para PDF (9:46). O primeiro sofreu alteração às 10:15 h, o segundo foi modificado após o meio-dia, para a retirada das duas perguntas e dos dois parágrafos que as comentavam.
As imagens estão lá em cima, claríssmas.
Foi a essa hora que, depois de ter publicado manchete de domingo sem os dados, que a Folha avisou ao Datafolha que a pergunta sobre o desejo de nova eleição não era “jornalisticamente relevante”?
O possível autor dos relatórios foi questionado, por e-mail, para, querendo, dar explicações sobre o fato de ter sido produzida uma “segunda versão” duas horas depois da primeira.
Os fatos – e não as opiniões – é que devem ser explicados.
E os fatos, documentados por este blog, mostram que a eliminação das perguntas foi feita depois de pronta e analisada a tabulação, por decisão que nada teve de jornalística, até porque o que a Folha considerava “jornalístico” já tinha sido publicado. Bastaria dizer que as perguntas não tinham integrado a matéria por não terem relevância – e claro que têm! – e não mandar modificar o relatório do Datafolha.
Simplesmente não publicar poderia ser um erro.
Mandar suprimir o relatório completo e colocar no ar uma versão expurgada é uma fraude.
PS. Agora, na página do Datafolha, o link aponta para um terceiro arquivo PDF, o media.folha.uol.com.br/datafolha/2016/07/20/av-presidente-michel-temer-completa.pdf, que registra o mesmo mguerreiro como autor. A diferença, ao que percebi, deste para o primeiro, que nunca foi chamado na página, apesar de ficar no servidor do Datafolha, é que o subtítulo que informava que ” 60% são favoráveis a nova eleição”, onde o arredondamento foi substituído pelo valor exato, 62%. Como os dois anteriores, foi gerado da mesma planilha, mas no dia seguinte à revelação de que havia resultados ocultos.