Dois militantes sociais de Porto Alegre optaram por uma forma diferente, inusitada e desafiadora de viajar a Brasília para acompanhar a posse histórica do presidente eleito, Lula (PT), e do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), no dia 1º de janeiro de 2023.
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Apesar da enorme distância de 2.114 quilômetros que separam as duas cidades, ambos pegaram as suas bicicletas e já estão na estrada, atravessando vários estados e pedalando em meio ao calor do sol escaldante e de chuvas torrenciais, rumo à capital federal para ver de perto o Brasil de volta para os trabalhadores e as trabalhadoras.
Um dos ciclistas é o historiador e assessor da CUT-RS, João Marcelo Pereira dos Santos, de 57 anos. Ele é também professor de Sociologia do Trabalho, na Escola Técnica Mesquita, do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre.
“Gosto de percurso de longa distância. O maior trajeto que já fiz, depois deste, foi do Chuí a Montevideo, pedalando 600 quilômetros”, conta João Marcelo, que é baiano, mas há muitos anos vive e trabalha na capital gaúcha. Já aprendeu a tomar chimarrão.
O outro ciclista é o educador popular e ativista ambiental Pedro Figueiredo, de 63 anos. Já atuou em galpões de reciclagem. É um veterano em trajetos longos de bicicleta. Já percorreu 1.400 quilômentros entre Porto Alegre e Resende (RJ).
A pedalada começa ao raiar do sol, às 5h da manhã, e segue até as 11h. Após uma parada para almoço, a viagem é retomada a partir das 15h e vai até quase anoitecer, às 19h.
Durante o caminho, eles encontraram o fotógrafo Douglas Fróis, que mora em Curitiba e também pegou a sua bicicleta para ver a posse de Lula, mas segue por outro roteiro.
Quebrar a rotina e sair da bolha
“Saímos no dia 28 de novembro de Porto Alegre, tomando inicialmente caminhos diferentes. Enquanto eu fui pela BR-101, que passa pelo Litoral, Pedro partiu pela BR-116, atravessando a Serra. Em Curitiba passamos a pedalar juntos”, relata João Marcelo.
Segundo ele, “o que me motivou, além do desafio, é quebrar a rotina de uma forma muito radical”. Ele explica que “o principal desafio de quem luta por direitos e democracia é sair da condição confortável e de bolha”.
“A esquerda perdeu a paciência com o seu povo. Não ouvimos mais. Tentamos impor nossas verdades, muitas vezes de forma arrogante. A empatia é algo que precisamos recuperar”, defende o militante, que não se cansa de resgatar a importância do trabalho de base.
“Precisamos sair em direção à sociedade e, para isso, é fundamental ouvir as pessoas e dialogar. Os democratas precisam realizar um grande esforço de aproximação com a sociedade”, ensina.
Histórias de exploração do trabalho e da natureza
A viagem tem sido marcada por diversas experiências sobre o mundo do trabalho. “Pernoitamos em pousadas próximas aos postos de gasolina, contatamos com dezenas de caminhoneiros, ouvimos histórias de muito trabalho precário que cresceu depois da reforma trabalhista do golpista Temer e da reforma da previdência de Bolsonaro”, registra o assessor da CUT-RS.
“Vimos também o quanto a monocultura de soja, milho e cana de açúcar é destruidora da natureza. Não só isso, da economia local. Pequenas cidades, em regiões de deserto verde, são reféns do agronegócio e não são nada prósperas”, observa.
João Marcelo ressalta que “na estrada encontramos ainda andarilhos, pessoas que adotam estilo de vida diferente do dito normal. O mais impressionante é que, quando paramos para ouvir suas histórias, temos a impressão de que são felizes com o nada que possuem. Essas pessoas só possuem histórias boas para contar”.
Esforço insignificante diante do sacrifício de Lula
A viagem está avançando. O objetivo é chegar em Brasília antes do final do ano. “Não estamos tão longe, mas também não estamos tão perto. O cansaço, principalmente no entardecer, é grande. Nós queremos festejar junto com o povo brasileiro a posse de Lula e a democracia”, salienta.
“Lula permaneceu preso durante 580 dias”, recorda João Marcelo, após ter sido condenado sem crime e sem provas pelo ex-juiz suspeito Sérgio Moro, que depois virou ministro de Bolsonaro e agora senador eleito do Paraná.
Conforme o ciclista, “Lula livre teceu uma grande frente democrática para combater a extrema direita com segmentos declaradamente fascistas. A vitória da chapa Lula e Alkmin tirou o Brasil de um verdadeiro precipício”.
“O governo Lula precisará de pessoas capazes de lutar, para que o projeto que ele defende seja realizado. O esforço que estamos fazendo, que é insignificante frente ao sacrifício do Lula, é um gesto simbólico de que precisamos ser fortes e atuantes para vencer e reconstruir o Brasil”, enfatizou o assessor da CUT-RS.
Tanto para João Marcelo e Pedro, cada um de nós devemos ser o pedal de esperança para nos levar com Lula presidente a um novo tempo de diálogo, oportunidades e vida digna para a classe trabalhadora.
Fotos: Arquivo Pessoal / João Marcelo dos Santos e Pedro Figueiredo
Fonte: CUT-RS