De Kindle a João Cabral de Melo Neto, combustível e cerveja

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O Bem Blogado passa as publicar aos sábados crônicas do doutor, mestre e especialista na área da literatura Cícero César Sotero Batista.

Vamos à seção “A César o que é de Cícero”




Por Cícero César

Estou pensando em parar de dirigir

Meio que sem pensar na coisa parei de beber. Mas continuo a fazer contas tendo como parâmetro o padrão ouro líquido, isto é, o preço da cerveja. Como não se indignar que o dinheiro gasto com combustível poderia render um número significativo de caixas de cervejas, das industriais às artesanais?

Sou um cara atrasado, para algumas coisas. Gosto de ler livros físicos. O preço mais em conta da versão Kindle pouco me seduz. Só o uso quando a leitura me pede caráter de urgência. 

Sou um cara moderno. Leio a Folha de S. Paulo  (FDPS, trocando as bolas!) em sua versão eletrônica. Quer dizer, ler não leio. É coisa mais de passar os olhos e ler alguns colunistas de fé, tais como Elio Gaspari, Jânio Freitas, Tostão, Dráuzio Varella. Mário Sérgio Conti, Djamila Ribeiro, entre outros e outras. Leio também as resenhas de livros e filmes, em busca de inspiração.

Li hoje na coluna do Mário Sérgio Conti a resenha que fala da biografia de João Cabral de Melo Neto.  Fiquei louco para comprar o livro (uns 70 contos, versão impressa), para conhecer alguém, seja ele especialista ou não, para conversar sobre o livro comigo.

A julgar pelo recorte que o jornalista fez, tem coisa boa lá. Digamos de maneira resumida que se trata de uma postura de senhor de Casa Grande do poeta pernambucano que me chamou a atenção.

Fiquei ligado, cheio de elucubrações. Será que a famigerada dor de cabeça do poeta tem algo a ver com esse espírito um tanto rabugento de privilégio de classe?

Bem, o cara era poeta, dos bons, e diplomata.  Quem conhece os meandros de qualquer instituição sabe que há margem para uma pontinha de carreirismo, deslavado ou não.

Fiquei pensando nisso, sabe, pensando.  Porque JCMN  é um dos caras incontornáveis da nossa poesia. E porque a vida é poesia, mas também pão, carne e gasolina.

Enfim, só mesmo lendo para emitir um juízo sobre os pormenores do livro. não sou afeito a julgamentos apressados.

Enfim, a minha decisão de parar de dirigir não carece tanto de fundamentos assim. O livro custa cerca de dez litros de gasolina comum (comum!).

Sobre o autor

Radicado em Nilópolis, município do Rio de Janeiro, Cícero César Sotero Batista é doutor, mestre e especialista na área da literatura. É casado com Layla Warrak, com quem tem dois filhos, o Francisco e a Cecília, a quem se dedica em tempo integral e um pouco mais, se algum dos dois cair da/e cama.

Ou seja, Cícero César é professor, escritor e pai de dois, não exatamente nessa ordem. É autor do petisco Cartas para Francisco: uma cartografia dos afetos (Kazuá, 2019) e está preparando um livro sobre as letras e as crônicas que Aldir Blanc produziu na década de 1970.

Veja aqui matéria a respeito da biografia de João Cabral de Melo Neto

https://www.metropoles.com/colunas/guilherme-amado/biografia-detalha-epoca-em-que-joao-cabral-ficou-afastado-do-itamaraty

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