De novo: macumba é rito religioso

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Luiz Antonio Simas pelo Facebook –

Acabei de ver uma postagem no facebook repetindo um erro que se popularizou. Diz o babado, tentando diferenciar umbanda, candomblé e macumba: macumba é um instrumento africano de percussão. Macumbeiro é quem toca macumba.




Minha gente, por favor, vamos parar de repetir isso. Tá errado. Macumba também é um conjunto de ritos religiosos. Já escrevi sobre isso, mas é impressionante como o próprio povo da curimba comete um equívoco – um erro básico de etimologia – sobre a expressão macumba. Confundem o instrumento musical com os cultos religiosos. Não aguento mais escutar a frase “macumba na verdade é um instrumento”.

Para esclarecer: macumba é instrumento, mas designa também um conjunto de rituais religiosos que bebem na fonte dos complexos culturais bantos. Parece até que o povo tem vergonha de dizer que é macumbeiro. Eu sou macumbeiro e ponto.Tento explicar.

O instrumento macumba designa uma espécie de reco-reco que se toca com duas varetas,uma fazendo o grave e outra o agudo. O termo tem provavel origem no quimbundo “mukumbu”; que significa som. Foi relativamente popular na época dos pioneiros do samba e eu nunca vi um.

Já a macumba como expressão que designa, algumas vezes de forma pejorativa, cultos afro-brasileiros e coisas que o envolvem, gera bons debates. Antenor Nascentes segue Raymundo Jacques (que escreveu a obra de referência “O elemento afro-negro na língua portuguesa”, em 1933), e acha que vem do quimbundo “dikumba” – cadeado ou fechadura – referindo-se a cerimônias secretas de fechamento dos corpos. Nei Lopes – profundo conhecedor do assunto – acha que vem do quicongo “kumba”; feiticeiro (o prefixo “ma”, no quicongo, forma o plural).

Outros estudos indicam que a origem é mesmo essa, como menciona Robert Slenes em seu estudo sobre o jongo. Daí a expressão macumba designar tanto uma espécie de reco-reco como as cerimônias, por exemplo. A etimologia, porém, é distinta nos dois casos: uma deriva do quimbundo e outra do quicongo. Muda tudo.

Para as amizades sentirem como o bicho pega, dou mais um exemplo: kumba no quicongo, como citei, é feiticeiro. Já em umbundo, designa tanto o conjunto de serviçais domésticos como um grupo de familiares que moram num mesmo cercado. Kumbi é sol no quimbundo e gafanhoto no quioco, lingua que também forma o plural com o prefixo ma. Makumbi, portanto, designa um bando de gafanhotos. O complexo cultural banto não é mole.

Povo da curimba, vamos parar de repetir este equívoco. Macumba tanto pode designar o instrumento que ninguém mais conhece (termo de origem quimbundo), como os ritos religiosos (termo de origem quicongo).

É nesse sentido que eu uso e afirmo meu pertencimento. Sou da macumba, vou para a macumba, faço macumba e não toco reco-reco. É isso.

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