Por Yamê Reis, compartilhado de Projeto Colabora –
Em artigo, Yamê Reis reflete sobre como a pandemia pode mudar o mundo da moda
No começo de 2020, logo que a epidemia começava na China, eu estava na Berlin Fashion Week e pude acompanhar o desfile da Neonyt, a feira de Moda Sustentável, que me impactou tremendamente. A Moda mostrava ali seu incrível poder de prever novos comportamentos, fazendo desfilar naquela passarela da Kraftwerk os seres do futuro, humanos protegidos por máscaras e equipamentos vestíveis sobrepostos ao corpo, mais importantes e essenciais que as roupas que estavam carregando. Aquelas imagens não me saíram da cabeça: que mundo era aquele tão disruptivo onde os nossos corpos precisavam de tantos equipamentos de proteção?
Um mês depois, viajei para a Fashion Week de Milão, onde vi nas ruas muitos asiáticos usando máscaras faciais antipoluição de marcas de luxo. Minha busca chegou a Gucci, Louis Vuitton e Chanel, mas também a muitos jovens estilistas como a chinesa Masha Ma, que em 2014 havia desfilado máscaras com cristais Swarovsky na Paris Fashion Week, causando grande comoção nas redes sociais.
Porém, desde 2010, quando os níveis de poluição em Shangai atingiram patamares apocalípticos, a China começou a conviver com as máscaras faciais como acessório essencial de saúde e proteção respiratória. Para amenizar o cenário de distopia e ficção científica, surgiram empresas como a Vogmask que, através de parcerias criativas com novos designers, tornaram o acessório um produto de moda.
Mas no cenário global de 2020, as máscaras reaparecem com um novo significado, a proteção essencial para salvar vidas, e todo o planeta se mobiliza para que elas sejam fabricadas em velocidade máxima. Milhares de tutoriais de máscaras caseiras se espalham pelas redes numa corrente solidária de cuidado e empatia, iniciando um movimento coletivo de fazer à mão, de distribuir sobras de tecidos entre as costureiras para protegerem suas famílias e suas comunidades, podendo até gerar alguma renda para a sobrevivência imediata.
As marcas de moda têm a oportunidade de se tornarem relevantes nesse novo mundo gerando produtos que salvem vidas, que ajudem a sua comunidade a atravessar a pandemia de forma solidária e transparente. Quem quer mais um vestido novo quando já descobrimos que termos armários lotados de roupas não nos ajudaram a enfrentar esse momento de sobrevivência?