Defensores dos crimes de Israel querem calar o professor Salem Nasser

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Veja o que ele escreveu e o abaixo-assinado em sua defesa

Compartilhado de Viomundo




Na terça-feira, 17/10, as forças militares israelenses bombardearam o Hospital Al Ahli Arab (Gaza Baptist Hospital), na Faixa de Gaza, matando mais de 500 pessoas, entre médicos, enfermeiros, administrativos, pacientes e familiares. Israel nega, mas os vídeos mostram o contrário. Fotos: OAB/SP e @GeopolPt

Da Redação

O artigo abaixo — Guerra, terror e ultraje seletivo, do professor Salem Nasser — foi  publicado originalmente na sessão Opinião da Folha de S. Paulo.

Isso aconteceu em 10 de outubro de 2023.

No dia 16, com base nesse artigo, começou a circular um abaixo-assinado, que visa calar a sua voz.

Absurdo total.

Tanto que, no dia seguinte, foi criado o abaixo-assinado  Pela liberdade acadêmica e em defesa do Prof. Salem Nasser 

Neste exato momento —  15h51, de 20 de outubro — já reúne 10.794 assinaturas.

Seguem o artigo, a partir do site A Terra é Redonda, que o reproduziu, e o abaixo-assinado.

Ao professor Salem Nasser a nossa solidariedade.

*****

Guerra, terror e ultraje seletivo

Se o jornal Folha de São Paulo seguisse seu próprio Manual, classificaria Israel como terrorista, mas ela só o faz para nomear o Hamas dessa maneira

Por Salem Nasser*, em A Terra é Redonda

Imagine. Imagine que 2,5 milhões de judeus vivem há 17 anos numa prisão a céu aberto e que seu carcereiro decide sobre o que entra e o que sai, energia, comida, remédios…

Imagine que famílias judias são cotidianamente expulsas de suas casas, suas e de seus antepassados, de sua terra por gerações, para dar moradia a não-judeus vindos do mundo inteiro.

Imagine que judeus vivem cercados de muros e cercas e não podem andar pelas mesmas ruas que são livres apenas para não-judeus.

Imagine que os judeus têm a sua a identidade nacional, a sua própria existência enquanto povo, negada.

Imagine que alguém, um ministro, por exemplo, diga que os judeus são animais a serem eliminados.

Imagine que o carcereiro anuncia, e logo cumpre, que cortará o acesso à água, à luz, à comida, dos judeus.

E imagine que aqueles 2,5 milhões de judeus, na sua prisão, são alvo, por dias seguidos, das armas mais inteligentes e mortais do mundo, e por bombas de fósforo branco e que, por exemplo, só na primeira noite de bombardeios, 140 crianças morrem….

Agora, imagine que os judeus são palestinos.

Você acordou, finalmente, agora?

Se não acordou, vou dar uma dica: você precisa imaginar que o palestino é um ser humano como o judeu; e você precisa imaginar que, assim como os judeus e todos os demais seres humanos, os palestinos podem ser civis. Crianças tendem a ser civis.

O jornal Folha de S. Paulo passou a chamar o Hamas de grupo terrorista porque “Segundo o Manual da Redação, a palavra terrorista deve ser usada para qualificar quem “pratica violência indiscriminada contra não combatentes a fim de disseminar pânico e intimidar adversários””.

Não li versões recentes do Manual da Redação da Folha, mas lembro com saudades de uma propaganda, histórica, que o jornal veiculou e que terminava com uma belíssima frase: “é possível contar um monte de mentiras dizendo só a verdade!”.

Folha parece não querer se dar ao trabalho nem mesmo de dizer a verdade.

Ela reporta o que o Hamas usou como justificativa para o ataque, mas não nos conta que é verdade o que o grupo disse.

A verdade pode não justificar os atos, mas não deixa de ser verdade. Reporta o que Benjamin Netanyahu disse, mas apenas a parte que interessa a Benjamin Netanyahu.

Folha pode chamar o Hamas de grupo terrorista para se manter fiel ao seu Manual, mas, para manter-se fiel ao mesmo Manual, precisaria se referir a Israel como um Estado terrorista e aos seus governantes como terroristas, de acordo com a sua própria definição.

Não discutirei o conceito técnico de terrorismo, que não existe, mas direi algo sobre o uso retórico da palavra.

Antes, no entanto, digo que existem tratados internacionais que estabelecem o Direito internacional humanitário – o que se pode e o que não se pode fazer na guerra –, que definem o crime de genocídio, os crimes de guerra, os crimes contra a humanidade, entre estes o crime de apartheid.

Se alguém se der ao trabalho de ler, verá que, tecnicamente, Israel viola todas as normas possíveis do Direito humanitário e verá que os governantes e militares israelenses são criminosos de guerra e culpados de crimes contra a humanidade, inclusive aquele de apartheid.

Não chego ainda a dizer que sejam culpados do crime de genocídio porque não tenho certeza de que a limpeza étnica de um povo sobretudo pela expulsão do território equivale, exatamente, à tentativa de operar a “destruição, total ou parcial, de um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”.

Assim, se a Folha faz questão de abarcar, no modo como se refere ao Hamas, o que percebe como violações do Direito humanitário ou como crimes de guerra ou, ainda, crimes contra a humanidade, eu recorreria a outra terminologia que não a de terrorista.

Mas, para fazer bom jornalismo, precisaria se referir, ao menos, do mesmo modo a Israel, suas autoridades e seus militares.

Bom jornalismo?

Não quero ensinar a missa ao vigário, mas a Folha deve saber, não pode não saber, que quando se refere ao Hamas como grupo terrorista, nada mais do que diga ou reporte interessa ou fará qualquer diferença!

Assim que diz “grupo terrorista” ela tira qualquer razão aos palestinos e permite tudo a Israel.

Todos os crimes são permitidos contra o terrorista! Esse é o poder retórico da palavra.

Se isso não consta do seu Manual da Redação, recomendo fortemente a sua reciclagem.

*Salem Nasser é professor de Direito Internacional da FGV Direito-SP.

PELA LIBERDADE ACADÊMICA E EM DEFESA DO PROF. SALEM NASSER 

A importância deste abaixo-assinado

Nós, abaixo-assinados, viemos por meio desta expressar o nosso repúdio ao texto do abaixo-assinado que circula nesta plataforma com o intuito de perseguir, julgar e calar o Professor Salem Nasser com base em um artigo publicado na sessão Opinião do jornal Folha de S. Paulo no dia 10/10/2023.

É absolutamente inaceitável afirmar que o texto do Professor Salem “promove o ódio, apoia e justifica atos terroristas”.

Em momento algum o Professor Salem Nasser dá a entender que a opinião que emite no artigo seria “o posicionamento da instituição [FGV]”. Trata-se de uma leitura crítica e pessoal de um intelectual e livre pensador.

O artigo do Professor Salem Nasser traz uma mensagem muito clara: trata-se de uma crítica à cobertura jornalística que a Folha de S. Paulo está dando aos fatos gravíssimos e lastimáveis ocorridos na última semana do conflito Israel e Hamas.

Seria uma cobertura tendenciosa e parcial por não considerar as ações igualmente terroristas de um estado que segue violando o direito humanitário e as convenções internacionais que regulamentam a abominável prática da guerra.

Vale lembrar que o Professor Salem Nasser não está sozinho ao emitir tal opinião. Vários intelectuais reconhecidos internacionalmente, judeus e não judeus, assim como a ONU (e suas inúmeras resoluções ignoradas…), a Human Rights Watch, International Human Rights, a Bt Selem, compartilham da mesma opinião.

Portanto, é uma calúnia grave afirmar que o Professor Salem Nasser justifica as ações do Hamas. Em nenhum momento o artigo defende o Hamas ou mesmo analisa a sua história e funcionamento.

É também um absurdo afirmar que o professor adotou comportamento preconceituoso religioso ou nacional e atitude agressiva.

Chega a ser escandaloso e profundamente antidemocrático insinuar que o professor Salem colocaria a segurança dos alunos da FGV em risco e insinuar um pedido de demissão (dele e de outros docentes que venham a se manifestar de forma pacífica).

O professor Nasser usou, sim, a liberdade de expressão e a liberdade e competência acadêmicas para se expressar.

E expressou com clareza o seu repúdio ao tratamento injusto dado pelo jornal ao Povo Palestino.

Para apoiar este abaixo-assinado, clique aqui.

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