Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
Foto: Ricardo Stuckert/PT
Lula sabe, mais do que ninguém, do campo em que está pisando. Aprendeu com as derrotas em eleições, com a glória no poder e com a prisão injusta. Tem 76 anos e nada de tempo a perder. Poderia estar curtindo uma justa aposentadoria e entraria, se não participasse do pleito no ano que vem, na galeria dos mais importantes da História do Brasil.
Goste-se ou não, é indiscutível que o ex-presidente Lula está emitindo sinais claros sobre os rumos que pretende imprimir à sua campanha em 2022. E a grande questão emblemática é a tentativa de costurar um acordo em que o ex-governador paulista Geraldo Alckmin possa ser seu companheiro de chapa.
Esqueçamos um pouco o nome de Alckmin. O que o fato político relevante indica é que Lula está pensando em ganhar a eleição e, depois, em poder governar com alguma tranquilidade.
Sabe que pode vencer o pleito, conforme indicam todas as pesquisas, até com alguma tranquilidade, mas não tem a garantia de segurança do segundo passo.
A esquerda, muito infelizmente, não deverá fazer maioria no próximo Congresso Nacional. A projeção é tão realista como a que aponta o triunfo de Lula na eleição presidencial.
E o líder petista tem claro, a julgar por suas declarações recentes e pela articulação com Alckmin, que necessitará de força parlamentar para não ficar refém da direita mais fisiológica.
O golpe contra Dilma serve para refrescar a memória dos mais sectários. Uma chapa “pão com pão”, como se referiu o governador Flávio Dino à possibilidade de o vice de Lula ser alguém do campo progressista, não acrescenta nada em termos de interlocução no Parlamento.
Alguém de centro ou da direita convencional, sim. Votos populares, Lula tem de sobra. Na Câmara e no Senado, não. O jogo é institucional, mais uma vez, gostemos ou não.
Engana-se quem pensa que a eleição já está ganha. Ainda mais agora, com cenário que possibilita até a imaginar-se o triunfo em primeiro turno, os ataques e o jogo sujo contra o ex-presidente serão intensificados.
A mídia comercial terá como pauta prioritária, senão única, a tentativa de inviabilizar a vitória petista na primeira volta. Mais do que levantar Moro, obsessão, por exemplo, das Organizações Globo, é necessário impedir o fim do jogo no nascedouro.
Lula sabe, mais do que ninguém, do campo em que está pisando. Aprendeu com as derrotas em eleições, com a glória no poder e com a prisão injusta. Tem 76 anos e nada de tempo a perder.
Poderia estar curtindo uma justa aposentadoria e entraria, se não participasse do pleito no ano que vem, na galeria dos mais importantes da História do Brasil.
Está aceitando um desafio nas urnas e, talvez mais difícil, arriscando muito em provável terceiro governo. Como está sempre dizendo, tem ciência que terá que fazer mais ainda se chegar novamente ao Palácio do Planalto.
E encontrará, em 2023, um Brasil muito mais destroçado do aquele que assumiu pela primeira vez. É sim necessária a formação de uma frente antifascista. O Brasil terá que ser reconstruído.
O governo genocida trouxe a fome de volta para milhões de compatriotas. Os valores mínimos de civilidade em todas as áreas foram destruídos. Não é hora de revolução, mas, momento de enterrar a extrema-direita.
O norte de um governo Lula será dado por seu programa de governo. Não o conhecemos ainda, mas podemos apostar que o combate emergencial ao descalabro social que vitima pobres e miseráveis será prioridade, ainda mais no início da administração.
Se o vice, qualquer que for, aceitar o que será estabelecido na plataforma, não há o que o que temer. Seria ótimo ganhar e governar só com a esquerda. Mas realisticamente, é improvável.
Melhor é vencer e fazer uma gestão de esquerda, para quem precisa do Estado para primeiro sobreviver e, depois, ter os acessos que o Brasil nega historicamente à maioria de seus filhos.
Deixem Lula trabalhar. Ele tem a confiança do povo. Pode errar sim, é um ser humano. Mas acerta como nenhum outro político.
Em 2022, estarão em jogo o pescoço de Lula e a esperança dos que sofrem. Portanto, respeitem as decisões do homem.