Por Mario Marona, jornalista, no Facebook
Nenhum jornal foi tão escandalosamente desonesto no tratamento dado a delações premiadas mentirosas, sem provas, amplamente divulgadas, sem contraditório, apenas porque o jornal queria ver destruída a reputação dos delatados.
Para lembrar um caso, a delação de Palocci, sabidamente falsa, tanto que rejeitada até pelos procuradores da Lava Jato e misteriosamente aceita pela PF, ganhou quase metade do JN da semana da eleição presidencial, quando vazada criminosamente por Sérgio Moro para prejudicar os candidatos do PT à presidência e demais cargos eletivos. Com a farsa, pode ter ajudado a decidir a eleição a favor de Bolsonaro, que pagou Moro com um ministério.
O Globo jamais contestou a delação fajuta de Palocci. Exceto agora, quando identifica a mesma esperteza na oferta de delação de Sérgio Cabral.
O Globo teve, agora, tardiamente, um surto de ética e visão crítica de delações sem provas usadas por interesses políticos ou tem medo do que Cabral pode dizer, mesmo que mentindo?
Para entender a incoerência do Globo leia, abaixo, trechos do editorial publicado hoje pelo jornal. Finalmente, o Globo denuncia a malandragem de Palocci, que havia acolhido generosamente quando ela interessava a Moro e Bolsonaro.
TRECHOS DO EDITORIAL DO GLOBO
Críticos da Lava-Jato e das delações premiadas costumam apontar alegados desmandos de procuradores e juízes em busca de confissões. Excesso de prisões preventivas, buscas e apreensões espetaculosas, conduções coercivas desnecessárias.
Há reclamações fundamentadas, reconheça-se. Deve-se, no entanto, também registrar tentativas de investigados e denunciados de manipular procuradores, juízes e policiais em benefício próprio. Há casos conhecidos, como o do irmãos Joesley e Wesley Batista (JBS), Antonio Palocci e agora Sérgio Cabral, ex-governador do Rio, já com mais de dois séculos de sentenças.
(…)
E assim como Palocci, outro candidato a delator rejeitado pelo MP, acertou uma colaboração premiada com a Polícia Federal.
Tem todas as características de tentativa de manipulação.
(…)
É crucial que o instrumento da delação premiada, eficaz na desmontagem de quadrilhas organizadas que atuam em vários tipos de crime, não seja degradado. Não pode servir de trunfo para que criminosos, em troca de testemunhos frágeis, que necessitam de sólida comprovação, ganhem a liberdade para usufruir o produto de seus assaltos ao Erário.