Publicado em Carta Maior –
Delator Paulo Roberto Costa detalha as negociações e afirma incisivo: a iniciativa de propor o pagamento de propina partiu do Presidente do PSDB na época.
Nas eleições de 2010, empresas do grupo Queiroz Galvão doaram um total de R$ 11,6 milhões para o PSDB.
Naquele ano, Sérgio Guerra era o presidente nacional do PSDB. No mesmo ano, a construtora repassou R$ 13,5 milhões a diretórios nacionais e estaduais do PT.
Abaixo, trechos do relato gravado em vídeo pela PGR, do Rio de Janeiro e só agora divulgado.
Costa: É. Eu cheguei a levar esse assunto para o chefe de gabinete do presidente da Petrobras, do presidente [José Sérgio] Gabrielli. […] Levei esse assunto para ele e falei “está acontecendo isso e isso”. Ele falou “Paulo, era bom que resolvesse, né”. Eu falei: “É, era bom, né, era bom”. [risos]
[…]
Procurador: “Sim, seria bom que isso foi resolvido”, ele falou aí?
Costa: Ninguém queria que tivesse uma CPI da Petrobras naquele momento.
Procurador: Ele falou isso e falou o quê, “vou conversar com o presidente”?
Costa: Não, não falou nada. Falou só que seria bom que fosse resolvido. Obviamente que ele deve ter conversado com o presidente, mas eu não tive uma resposta dele nesse sentido, ele não me falou nesse sentido.
Procurador: Ao falar isso, o senhor entendeu que era para seguir adiante, né?
Costa: Claro, claro, lógico. Tivemos a segunda reunião, onde foi colocado então o valor de R$ 10 milhões pelo Sérgio Guerra.
Procurador: O chefe de gabinete chegou a perguntar qual…?
Costa: Não, quando eu falei com ele não tinha o valor ainda.
Procurador: Mas o chefe de gabinete chegou a perguntar “quanto é eles estão querendo”?
Costa: Não, que eu me lembre não, falou só que era bom resolver. Armando Trípodi era o nome dele! Pode pôr aí. Armando Trípodi.
[…]
Costa: [voltando-se para seu advogado] “PSDB, doutor!”
Advogado: Mudam as siglas mas não mudam os homens.
Costa: [concordando] Não mudam os homens.
Advogado: Os homens mudam de siglas como mudam de camisa.
[…]
Costa: Em cima disso eu procurei o Ildefonso Colares, que era da Queiroz Galvão, que tinha contratos muito grandes lá na Rnest [refinaria Abreu e Lima da Petrobras] de Pernambuco. Por que Queiroz Galvão? Porque Sérgio Guerra era pernambucano. Então seria mais fácil Pernambuco com Pernambuco. Procurei a Queiroz Galvão, o Ildefonso, e pedi para que ele fizesse essa transação. Obviamente que isso ele tirou isso do caixa do PP. Do que seria de comissão para o PP, obviamente que ele tirou.
Procurador: Uma curiosidade, quando tira assim do caixa como é que fica para pagar aquelas despesas correntes, o mensalão dos deputados? Porque é uma despesa extraordinária, não prevista, tem que explica isso para todos os deputados?
Costa: Mas todos eles tinham interesse de que não tivesse CPI da Petrobras naquele momento.
Procurador: Mas é isso que estou perguntando, avisava que ‘nós próximos meses não vai ter porque usamos lá para barrar’…
Costa: Sim, sim, sim.
[..]
Costa: [voltando-se para seu advogado] E dessa maneira a CPI de 2010 não foi feita. Não aconteceu. [risos] Isso vai para o livro, vai para o livro!
[…]
Procurador: E o senhor sabe como é que foi pago?
Costa: Também não. Eu…
Procurador: O senhor só acionou o Ildefonso?
Costa: O Ildefonso acionei e ele fez o pagamento e a CPI não ocorreu.
Procurador: E ele avisou depois o senhor quando ele fez?
Costa: ‘Serviço realizado’. Sim. E a CPI não foi feita.